Uso medicinal e ritualístico das plantas inspira exposição no Cais do Sertão
Mostra 'Plantas Mágicas de Pernambuco' traz estampas assinadas por Maria Eduarda Belém e Sofia Lobo
Chá de ervas, banho de cheiro, lambedor. Quem já recorreu a alguma dessas receitas, seja para tratar doenças ou atrair energias positivas, vai se identificar com a exposição “Plantas Mágicas de Pernambuco”, que passa a ocupar a Sala Moxotó, no Cais do Sertão, a partir hoje, às 18h, e segue em cartaz até 23 de fevereiro.
A mostra tem entrada gratuita e é assinada pelas artistas visuais e designers Maria Eduarda Belém e Sofia Lobo. Com base em um longo processo de pesquisa, a dupla criou 12 estampas inspiradas no uso medicinal e ritualístico da flora pernambucana. Expostas em túnicas penduradas em estruturas de madeira de autoria do artesão Mestre Abias, as criações misturam referências aos desenhos das plantas em si, aos modos de preparo das receitas e às histórias que povoam esse universo.
Entre pesquisa e desenho, as artistas levaram dois anos para fazer nascer o projeto, que contou com patrocínio do Funcultura. A proposta surgiu do interesse que ambas cultivam sobre a junção entre botânica e sabedoria popular.
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“É uma coisa que vem da nossa infância e desperta lembranças dos nossos avós e pais. Já trabalhávamos juntas com estamparia e começamos a pensar em desenvolver algo que envolvesse plantas. Acabamos encontrando um artigo do Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque, que é referência da etnobotânica no nosso Estado e virou nosso consultor. Isso nos deu um estalo, porque a nossa intenção era buscar como esse conhecimento é repassado”, explica Sofia.
Além de realizarem pesquisa bibliográfica e conversarem com especialistas na área, as artistas foram a campo, visitando feiras livres, mercados e comunidades em busca de detentores do conhecimento popular sobre o uso de plantas em infusões, rezas, garrafadas e outras formas. O roteiro incluiu as cidades de Recife, Altinho, Pesqueira e Buíque.
“Conversamos com um monte de gente e fomos, aos poucos, construindo conceitualmente o que a gente queria. É importante dizer que nossa ideia nunca foi receitar nada para ninguém. O que a gente faz é uma contação de histórias através das estampas”, aponta Maria Eduarda.
O processo de criação da série teve início de forma manual, com a criação dos desenhos e, só em seguida, o material foi digitalizado. Até chegar à gravura, as artistas testaram diferentes linguagens para encontrar um que unificasse seus estilos. “Temos traços diferentes quando desenhamos. Embora a gente tenha uma sinergia muito grande, era necessário gerar uma unidade que também não apagasse a personalidade do trabalho de nenhuma das duas”, comenta Maria Eduarda.
O catálogo da exposição será lançado durante uma live, que será transmitida no dia 27 de janeiro, às 19h, pelas redes sociais do Cais do Sertão. Na ocasião, haverá uma conversa entre as criadoras das obras e o consultor do projeto.