Valentina Herszage fala sobre "As polacas" e "Ainda estou aqui"
Duplamente nos cinemas, atriz roda filme em homenagem às novelas ao lado de Susana Vieira
Se a carreira da atriz Valentina Herszage fosse dividida em aulas, a atual seria de sua matéria preferida no colégio: História.
No momento, a carioca de 26 anos está em cartaz nas salas brasileiras com dois filmes: “ Ainda estou aqui”, drama de Walter Salles que já vendeu mais de 2,5 milhões de ingressos, e “As polacas”, obra de João Jardim que fez sua estreia ontem em circuito nacional.
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No primeiro, ao lado de um elenco liderado por Fernanda Torres e Selton Mello, ela revive o auge da ditadura militar — período que ela também encarou em “O mensageiro” (2023), de Lucia Murat, e no ainda inédito “A batalha da Rua Maria Antônia”, de Vera Egito.
No segundo, ela é a protagonista de um drama que traz à tona fatos ainda pouco lembrados.
“As polacas” resgata a história de mulheres polonesas de origem judaica que imigraram para o Brasil no início do século XX e, muitas vezes enganadas e sem apoio, acabavam sendo exploradas e se prostituindo.
Com o tempo, formaram um círculo de apoio que contribuiu para a Sociedade da Verdade, associação que defendia essas mulheres e garantia que fossem sepultadas de maneira digna.
"Esse filme vem primeiro para mim como uma história de união feminina, mas acabei indo atrás da história dos meus bisavós. Eles vieram da Polônia pouco após a Primeira Guerra por conta do antissemitismo" conta Valentina em entrevista ao Globo em um café no Jardim Botânico, bairro onde vive no Rio.
"Além disso, é um roteiro que tem muita beleza, celebra a religiosidade de forma bonita"
Entrega
Com larga trajetória no cinema documental, que inclui sucessos como “Lixo extraordinário” (2010), o diretor João Jardim recorda que Valentina fez três testes para o papel da protagonista, mas sempre sentiu que ela seria a escolhida.
"Desde o primeiro teste, um vídeo que ela enviou, ficou claro que a personagem era sua. Valentina traz dentro dela a força e a resiliência da Rebeca" elogia o cineasta.
"No set, está sempre concentrada e pronta, saca rápido os caminhos propostos"
Uma prova da dedicação de Valentina em “As polacas” é que, mesmo liberada pelo diretor, fez questão de estudar iídiche, idioma adotado por judeus na Europa Central e Oriental.
No filme, ela canta duas músicas no idioma.
Ela comenta que fazer filmes de época, longe de ser um desafio, é “um divertimento”. E acrescenta:
"Minha geração é muito descolada da História. Especialmente do período da ditadura. Não aprendemos da forma que deveríamos. E acho que o cinema também se presta a trazer conhecimento e a levantar questões. É lindo quando conseguimos contar essas histórias"
Sem tapas, só beijos
Além do trabalho no cinema, que inclui filmes como “Mate-me por favor” (2015), “Homem onça” (2021) e “Raquel 1:1” (2022), Valentina tem obras de destaque na TV e no streaming, como as novelas “Quanto mais vida, melhor” (2021) e “Elas por elas” (2023), da Globo, e as minisséries “Hebe” (2019) e “Fim” (2023), adaptação de livro de Fernanda Torres, atriz que reencontrou como sua mãe em “Ainda estou aqui”.
"Dessa vez, pude acompanhá-la muito de perto. Ela é uma pessoa viciante. Você não quer sair de perto dela. Foi um sofrimento, o maior em todos os trabalhos que já fiz, saber que iria parar de conviver com ela todos os dias" conta Valentina, que virou parceira de crochê de Fernanda nos intervalos de gravações.
"Você pode chegar para a Fernanda e ter o papo mais intelectual do mundo. Mas pode chegar para ela com o papo mais bagaceiro que ela vai entrar. Ela entra em qualquer conversa"
Valentina comemora a sorte de ter atuado com as duas protagonistas de “Tapas e beijos” (série exibida pela Globo).
Além de ser filha de Fernanda, a atriz dividiu a personagem de Hebe Camargo com Andrea Beltrão e conta que aprendeu com a colega que “é preciso sempre se divertir em cena”.
O lema, conta, a ajudou muito na hora de embarcar em um projeto como “As polacas”, denso e com cenas de violência sexual.
Filha de um empresário e uma psicanalista, Valentina lembra que a relação com a arte vem desde cedo. Aos 5 anos, foi apresentada pelo pai, um cinéfilo, a “Hair” (1979), de Milos Forman.
Mesmo sem entender bem a história, se apaixonou pela música e pelas danças do filme. Na mesma época, iniciou um curso de canto, sapateado, dança, teatro e circo, que manteve durante toda a vida escolar.
Mesmo com tamanha dedicação, não via a atuação como um ofício até o trabalho em “Mate-me por favor”, de Anita Rocha da Silveira, que lhe rendeu um prêmio de melhor atriz no Festival do Rio de 2015.
"Valentina reúne algo raro em sua geração: talento, disciplina e curiosidade pelo mundo" diz a diretora Lucia Murat.
Murat, Egito, Rocha da Silveira, Mariana Bastos e Maria Clara Abreu são algumas das diretoras com quem Valentina trabalhou até aqui na carreira.
Ela conta que o trabalho com muitas cineastas mulheres não é por acaso, mas consequência de um desejo dela — reforçado no trabalho atual, o filme “Coisa de novela”, previsto para 2025, dirigido por Manuh Fontes.
‘Crises de risos"
"É um filme que comemora os 60 anos da TV Globo. Conta a história de uma neta e uma avó, eu e Suzana Vieira. É uma grande homenagem ao público que ama novelas. Temos muitas referências de tramas antigas, que a Susana fez, como “Senhora do destino” (2004) e “Por amor” (1997)" conta Valentina, que precisou cortar os cabelos bem curtos para o longa.
"Estou apaixonada pela Susana. Ela é uma pessoa tão espontânea e com uma vitalidade impressionante. Tenho várias crises de risos com ela"