LEITURA

Venda de livros no Brasil cai 8% em 2023 e faturamento do setor encolhe 5,1% em termos reais

Descontada a inflação, preço médio do livro está 36,4% menor que em 2006

Livraria JaqueiraLivraria Jaqueira - Foto: Imagem: Divulgação

Em 2023, as vendas das editoras brasileiras caíram 8% em comparação com o ano anterior, de acordo com a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e realizada pela Nielsen BookData. Divulgado nesta quarta-feira (21), o levantamento informa que, descontada a inflação (IPCA 4,62%), o faturamento do setor caiu 5,1% e fechou 2023 em R$ 4 bilhões.

A queda só não foi maior devido à alta do preço médio do livro, que subiu 3,2% no ano passado, descontada a inflação. Desde 2006, no entanto, o preço médio do livro caiu 36,4%, destaca a economista Mariana Bueno, coordenadora de pesquisas econômicas e setoriais da Nielsen BookData.

"Conseguimos afirmar que livro está mais barato hoje que em 2006. É importante notar que, em termos reais, o mercado ainda está tentando recompor o preço, que está muito distante dos valores do início da série histórica" afirma a economista. "O faturamento do setor caiu 43% desde 2006".

Mariana ressaltou ainda que, apesar da recuperação econômica, a perda de renda dos trabalhadores brasileiros tem impedido que a demanda por livros cresça. Presidente da CBL, Sevani Matos elenca três razões para o desempenho decepcionante do mercado: "a percepção de que o livro é caro", o "fechamento de centenas de livrarias nos últimos anos" e a "pirataria".

A pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro é realizada com base em dados fornecidos por 117 editoras (que representam 68% do mercado) e apura somente a comercialização de livros físicos.

O levantamento aponta que o mercado editorial brasileiro produziu 45 mil títulos no ano passado, dos quais 24% foram lançamentos, e 320 milhões de exemplares. O número de lançamentos caiu 1,5% no ano passado e o de reimpressões diminuiu 0,7%.

A pesquisa divide o mercado de livros em quatro subsetores: obras gerais, didáticos, religiosos e CTP (científicos, técnicos e profissionais).

A venda de livro religiosos caiu 3,8% e o faturamento diminuiu 0,1% (em termos reais). Já a venda de obras gerais caiu 11,9% e a receita gerada com esses livros encolheu 6,8%. O subsetor de livros didáticos registrou retração de 3,6% nas vendas e de 3,3% no faturamento. No subsetor CTP, a queda foi de 10,1% tanto nas vendas quanto no faturamento. Há uma década, a venda de livros CTP impressos não apresenta resultados positivos. Trata-se do setor que tem mais dificuldade de recompor o preço, ressalta Mariana Bueno.

Em 2022, as livrarias exclusivamente virtuais superaram as lojas físicas em participação no faturamento do setor. No ano passado, as plataformas de e-commerce representaram 32,5% do faturamento do setor (2,7% a menos que em 2022). Já a participação das livrarias físicas subiu de 22,6% para 28%.

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Pela primeira vez, o faturamento obtido com vendas nos sites das próprias editoras ou em marketplaces mantidos por elas apareceu entre os cinco principais canais de distribuição, responsável por 7,5% do total (alta de 1,3% em comparação com o ano anterior). O canal é mais importante para livros didáticos (representa 15,7% da receita) e CTP (10,9%).

No subsetor obras gerais, a maior parte do faturamento veio de livrarias exclusivamente virtuais (51,8%). As bienais e feiras do livro também vem se consolidando como canais de venda importantes e representaram 1,7% da receita das editoras (em 2022, o índice era de 1%). Já no subsetor de títulos religiosos, 15,2% do faturamento resultou de vendas realizadas em igrejas e templos.

E-books e audiolivros
Também foi divulgada a pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, coordenada pela CBL e pelo SNEL e realizada pela Nielsen BookData. Os dados mostram que o faturamento das editoras com conteúdo digital (e-books e audiolivros) aumentou 33% em 2023, descontada a inflação.

O bom desempenho foi impulsionado pelo crescimento de plataformas educacionais e bibliotecas virtuais, que registraram alta de 68% e 59%, respectivamente. Já o faturamento com a venda de e-books e audiolivros à la carte subiu 18% no ano passado. A maior parte dos audiolivros vendidos por unidade é de não ficção: 83%. O gênero representa 63% do faturamento das editoras com a venda unitária de audiolivros.

A maior parte da produção digital das editoras ainda é de e-books: 93%. Os audiolivros representam apenas 7% do total. O áudio, porém, vem ganhando espaço e representou 17% dos lançamentos em 2023, alta de 10% em relação a 2022.

A pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro é realizada desde 2020. Nos últimos cinco anos, a receita gerada por audiolivros e e-books cresceu 158%, descontada a inflação. Em 2023, o conteúdo digital já representava 8% do faturamento das editoras, 2% a mais no ano anterior. A receita gerada pela venda de conteúdo digital no ano passado foi de R$ 339 milhões.

O faturamento total das editoras (venda de livros físicos e de conteúdo digital) somou R$ 4,38 bilhões no ano passado, queda 3% em comparação com 2022 (em termos reais).

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