Victor Meyniel: imagens inéditas mostram que o ator levou 42 socos em 37 segundos
O "Fantástico", da TV Globo, teve acesso aos registros de câmeras de segurança para reconstituir a sequência que culminou na agressão
O ator Victor Meyniel levou 42 socos em 37 segundos ao ser espancado pelo estudante de medicina Yuri de Moura Alexandre, no dia 2, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. O "Fantástico", da TV Globo, teve acesso a imagens inédita de segurança de uma boate, em frente ao prédio onde Yuri mora, e às gravações feitas pelo circuito interno do edifício para reconstituir a sequência que culminou na agressão.
As câmeras de segurança mostram Victor e Yuri do lado de fora de uma boate, onde começam a conversar. Na entrevista, o ator conta que não conhecia o homem que o agrediu:
— Não, não conhecia, nunca tinha visto nunca, na minha vida. Eu achei um cara muito bonito, um papo legal. Falou que era estudante de medicina, me convidou para ir até a casa dele pra gente beber um vinho. Chegamos lá, ele abriu um vinho, um vinho tinto. Sentamos no sofá, tirei o sapato — contou o ator à repórter Renata Capucci.
Prints do celular da médica Karina de Assis Carvalho, que divide o apartamento com Yuri há dois meses e não estava em casa, mostram que às 5h12 da manhã Yuri tenta fazer uma chamada de vídeo para a amiga, mas ela não atende. Ele, então, envia uma foto com Victor, liga novamente, sem sucesso, e escreve que abriu um vinho da médica, mas que iria recompensá-la pois estava com um famoso em casa. Ela demonstra preocupação com as garrafas abertas e Yuri a tranquiliza, diz que vai repor e escreve que Victor tem um milhão de seguidores, completando: "vamos fazer amizade".
— Ela chegou por volta das 7h30 mais ou menos do plantão e ficou um clima completamente desconfortável. Ele ficou frio, completamente frio, distante. eles começaram a se desentender entre eles, pois a porta estava destrancada e ele tinha aberto um vinho dela. Então eu comecei a me sentir nervoso, acuado e comecei a quebrar o gelo porque eu sou assim, eu tenho essa personalidade — relatou Victor ao Fantástico.
Em depoimento à polícia, Karina afirmou que Victor teve um comportamento debochado, que foi deselegante e a chamou de esquisita e chata. A médica disse também que Victor teria entrado diversas vezes sem bater na porta do quarto dela e, em uma delas, trazendo um prato de estrogonofe, ele teria a visto nua depois do banho. Imagens do elevador mostram que Yuri sai do apartamento e vai para academia, retornando em pouco mais de três minutos. Nesse intervalo, Karina havia mandado várias mensagens reclamando de Victor e pedindo para o amigo voltar.
Victor nega que tenha visto Karina nua e conta que as agressões começaram assim que Yuri entra novamente em casa:
— Bati na porta, oferecia um prato de comida a ela, conversei com ela. Perguntei do signo dela, brincando. Quando ele subiu, ele já numa agressividade, nossa, bizarra! Me colocou para fora do apartamento. Me expulsou, e me empurrou, eu caí, eu caí no corredor e eu comecei a ficar tentando entender na minha cabeça o porquê daquela situação, daquele ato agressivo. Não rolou nenhum tipo de conversa comigo de que eu estava sendo na visão deles Inconveniente, jamais. Tanto é que quando ele me empurra do apartamento, em vez de só pedir gentilmente, civilizadamente, ele me empurra, eu bato na porta, desesperado, por causa do meu sapato, começo a chorar e aí ele taca o sapato em mim. Ele está com o sapato e eu escuto ela de fundo, falar assim: calma, não é pra tanto, não precisa desse ato, não é pra tanto.
A câmera do elevador mostra que Victor e Yuri discutiram por um 1m15 no andar com a porta aberta até que Yuri puxa o ator e o empurra para dentro. Nesse momento, ele bate com a cabeça no espelho do elevador, tenta abrir a porta e segue falando pela janelinha por mais um minuto. Na versão de Karina à polícia, Victor teria ameaçado Yuri. Ele nega veementemente.
— Eu estava com raiva pela situação que eu passei e eu falei assim: você não tem que agir assim não, você não pode agir assim.
Imagens mostram que quando o elevador chegou no térreo, a porta emperrou e Victor ficou preso. O porteiro foi abrir e Yuri, que havia descido pelo outro elevador, chegou. Na portaria, os dois seguem discutindo. Ao todo, são quatro minutos de discussão, a maior parte na frente do porteiro. Quando Yuri dá o primeiro soco, espanca Victor por 37 segundos.
— Eu ia embora, eu estava na portaria para isto, mas ele veio falar comigo. E teve uma hora que quando a gente estava andando pelo hall, ele me empurra. E eu fico mais revoltado ainda pela agressão mínima que seja — conta Victor, que descreve o estopim, o momento em que a discussão passou para a agressão:— Momento que eu falo e indignado completamente, frustrado e com raiva, perguntando porque que ele tinha feito aquilo, se ele não era assumido. Ele viadinho é você, eu não sou.
As imagens mostram que, durante a agressão, o porteiro Gilmar José Agostini olha para frente, bebe café, não interfere. Quase dois minutos depois, ele puxa Victor por um dos braços. Ele prestou depoimento, disse que trabalha no prédio desde 1991, que Victor chegou a desmaiar e que logo após as agressões Yuri foi para a academia. Que após alguns minutos interfonou ao síndico e que não gosta de se meter na vida dos outros. A equipe do Fantástico esteve no prédio e não encontrou o porteiro e também não conseguiu contato por telefone.
— É sobre prestar socorro, é sobre ser empático, humano. Ele chamou o sindico depois de eu ter ligado pro 190 relatou Victor ao Fantástico.
O delegado João Valentim, que investiga o caso, informou que o porteiro foi autuado por omissão de socorro e esse fato é apurado no juizado especial criminal.
— O que salta aos olhos é a total falta de empatia do ser humano, da atitude do porteiro, não é? disse o delegado, lembrando que Yuri mentiu para os policiais: Ele se apresentou como militar, como médico da Aeronáutica. Ainda afirmou, aos policiais militares que a sua companheira de apartamento era sua mulher — disse o delegado ao Fantástico.
Para a polícia, o depoimento de Karina em nada muda o entendimento sobre a principal motivação do crime de lesão corporal. O delegado que investiga o caso está convencido de que as agressões só aconteceram depois de Victor ter perguntado, na frente do porteiro, se Yuri não era assumidamente gay:
— Um negro, ele pode ser racista e um gay pode ser homofóbico e a sexualidade ela não é aberta para todos. Isso, na visão da polícia civil, então configura sim ato homofóbico. Com 42 socos não há justificativa, toda essa narrativa, ainda que verdadeira fosse, ela não justificaria a lesão. Então, de fato, isso não modifica a apuração da lesão corporal e nós temos, na palavra do Victor, desde o primeiro momento de uma palavra segura, e é importante que a palavra da vítima tenha particular importância nesse tipo de crime — completa o delegado.
Yuri foi preso em flagrante por lesão corporal, falsidade ideológica e injúria por preconceito de natureza homofóbica. Durante a audiência de custódia, a prisão em flagrante foi convertida em prisão preventiva. Agora, o caso passa a ser analisado pelo Ministério Público. Para a defesa de Yuri, o estudante de medicina não é homofóbico.
O advogado de defesa do agressor, o criminalista Lucas Oliveira, disse em um comunicado divulgado à imprensa que a identidade sexual do cliente jamais foi ocultada, se referindo ao fato de Yuri já ter sido casado com uma pessoa do mesmo sexo. E que a identidade sexual de seu cliente estaria sendo apagada, com a justificativa de que ele teria praticado crime de homofobia. Obrigando seu cliente a provar que é gay.
Quanto à acusação de lesão corporal, a nota do advogado não nega a agressão, registrada por uma câmera de segurança, mas diz que “há nos autos do processo exame de corpo de delito realizado por perito oficial que prova que as lesões não geraram incapacidade, perigo de vida ou debilidade permanente”.