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MUSICAL

Washington Olivetto: publicitário marcou música brasileira com versões feitas para campanhas

Músicos seguiram tocando novas gravações mesmo depois de as campanhas pararem de ser veiculadas, como as versões do Skank para 'Vamos fugir', de Gilberto Gil, e de Lulu Santos para 'O descobridor dos sete mares', de Tim Maia

Washington OlivettoWashington Olivetto - Foto: Reprodução/Instagram

Referência da publicidade no Brasil, Washington Olivetto, que morreu neste domingo aos 73 anos, não marcou a história do país apenas com anúncios icônicos, como o das mil e uma utilidades do Bombril ou do primeiro sutiã para a Valisère.

O publicitário também criou versões de clássicos da música brasileira que permaneceram ouvidas muito tempo após as campanhas pararem de ser veiculadas.

Da W/Brasil, a campanha mais marcante envolvendo sucessos musicais foi a criada para os chinelos Rider, com novas versões de nomes do pop e do MPB. "País tropical", de Jorge Ben Jor, foi regravada pelos Paralamas do Sucesso.

"Como uma onda", de Lulu Santos e Nelson Motta, ganhou versão de Tim Maia — tempos depois, Lulu gravaria "O descobridor dos sete mares", de Maia, para a mesma empresa, versão que seguiu cantando em shows, como sua recente apresentação no Rock in Rio.

Para a mesma campanha foram gravadas versões de Rita Lee para "Felicidade" (Lupiscínio Rodrigues); "Nem luxo, nem lixo" (Rita Lee) por Marina Lima; "É hoje", samba-enredo da União da Ilha de 1982 na voz de Fernanda Abreu.

"Vem quente que eu estou fervendo", clássico da Jovem Guarda de Carlos Imperial e Eduardo Araújo, imortalizada por Erasmo Carlos, pelo Barão Vermelho; e "Vamos fugir", de Gilberto Gil, em versão que o Skank apresentou até os últimos shows da banda.

Outras campanhas geraram novas gravações de hits, como as criadas para o Boticário, a exemplo da versão de "Preta pretinha", dos Novos Baianos, por Moraes Moreira, e "Coisa mais linda", de Vinicius de Moares e do Carlinhos Lyra, na voz e no violão de João Gilberto.

Os temas dos comerciais marcaram tanto a época que chegaram a ser reunidos em um CD, "W/Hits", lançado em 1994. O disco trazia ainda duas homenagens de Jorge Ben Jor a Olivetto, em mais uma das ligações do publicitário com a MPB.

Em "W/Brasil (Chama o síndico)", o músico cita a agência na faixa do álbum "Jorge Ben - Ao vivo No Rio" (1991), também homenageando Tim Maia, o síndico da letra. E em "Engenho de Dentro", do disco "23" (1993), o cantor cita o publicitário nos versos "A cabeça do Olivetto/ É igual a uma cabeça de negro/ Muito QI e TNT do lado esquerdo".

Em entrevista ao Globo em 2023, Olivetto recordou as motivações e como foram desenvolvidas algumas de suas mais emblemáticas criações. Segundo ele, a grande ideia é "aquela tirada da vida, transportada para a publicidade e devolvida para a vida", afirmou.

Olivetto coleciona mais de 50 Leões de Ouro no Festival de Cannes na categoria Filmes. Sua antiga agência, a W/Brasil, foi tão popular que até virou música de sucesso de Jorge Ben Jor.

Relembre grandes campanhas de Washington Olivetto

O primeiro sutiã

No livro “O primeiro a gente nunca esquece”, Olivetto enumera milhares de citações em diversos meios e por diversas personalidades do ultrafamoso slogan criado por ele para a marca de lingerie Valisère.

O comercial para TV, lançado em 1987, trazia a atriz Patricia Lucchesi, então com 11 anos, como uma mocinha que ganhava de presente seu primeiro sutiã. No final, uma voz em off dizia: “O primeiro Valisère a gente nunca esquece”.

O objetivo era rejuvenescer a marca Valisère. A frase foi utilizada literalmente ou com pequenas variações por nomes como Pelé, Ayrton Senna, Zuenir Ventura, Antônio Fagundes e Bruna Surfistinha. O fenômeno dura até hoje.

Garoto Bombril

Foram 40 anos com o mesmo ator e os mesmos criadores. Em 1994, pela longevidade, entrou para o Guinness Book. Foi premiado, parodiado e tornou popularíssima uma improvável palha de aço. A campanha “Garoto Bombril” foi criada em 1978 quando Olivetto trabalhava na agência DPZ.

Ele fez uma propaganda de produto de limpeza protagonizada por um homem — e não por uma mulher, como era o habitual para a época.

Olivetto contou que era necessário, claro, atingir também as mulheres, daí a escolha de um ator de traços delicados para aparecer olhando diretamente para os espectadores. O escolhido, Carlos Moreno, era urbanista, morava em Nova York e vinha ao Brasil só para gravar os comerciais. Foram 399 propagandas de TV.

Amaciante Mon Bijou

Um dos produtos da linha Bombril, o amaciante Mon Bijou teria em seu comercial, claro, Carlos Moreno como protagonista. Nele, são listadas algumas “qualidades” do concorrente "Comfort" mas, em seguida, mostra porque o Mon Bijou é melhor.

"Você também é bom, não precisa ficar chateado".

O caso foi parar na justiça e, logo após, foi lançado um novo filme com o concorrente de castigo.

Cachorrinho da Cofap

A raça de cachorro dachshund foi praticamente rebatizada por uma ação publicitária. Olivetto já fazia campanhas para a marca de peças automotivas Cofap desde os anos 1970, especialmente os amortecedores, e ficou amigo de seu fundador, Abraham Kasinsky.

Mas foi em 1989 que a marca ganhou um novo significado. Numa conversa com Roberto Kasinsky, filho de Abraham, Olivetto ouviu que um amortecedor parecia muito um tipo específico de cachorro:

— Fiquei pensando naquilo. E, realmente, se a gente trocasse o corpo do cachorro pelo amortecedor e deixasse apenas a cabeça e o rabo, ficava muito parecido. Além disso, havia uma relação entre as qualidades de um cachorro, que são cuidado e amizade, e o que queríamos mostrar de um amortecedor.

O slogan utilizado foi “o melhor amigo do carro e do dono do carro”. O impacto foi tamanho, que os dachshund passaram a ser chamados de “Cofapinhos ”.

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