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teatro

Yasmin Gomlevsky vive influenciadora digital com questões existenciais em "Deus pelo avesso"

Artista carioca de 31 anos faz sua estreia como diretora de teatro: "A peça é um papo sobre mudança de valores, sair da briga, do baile dos egos cruéis, e entrar num lugar de colaboração"

A peça também é a estreia de Yasmin como diretoraA peça também é a estreia de Yasmin como diretora - Foto: Redes Sociais/Reprodução

Lá pelas tantas, o olho no olho com a plateia, Laika, personagem central da peça “Deus pelo avesso”, faz o seguinte questionamento: “A vida está passando ao longe, sem sequer ser tocada pelos seus dedos. É isso que você quer? Ir embora assim?”.

Na trama, Laika — nome que brinca com os altos e baixos, mas também com o nomadismo de alguém que está sempre em movimento, “lá e cá” — é uma influenciadora que abandona tudo para buscar um sentido da vida.

"Ela se vê consumida pelo desejo de reconhecimento, de fama" diz ao Globo a artista carioca Yasmin Gomlevsky, 31 anos, que interpreta Laika e assina dramaturgia e direção de “Deus pelo avesso”.

Nesta quarta-feira, 20, a peça chega na segunda de um total de cinco sessões na Sede da Companhia dos Atores, na Lapa.

"Representa algo que eu, como artista, também já senti e ainda sinto, algo que meus amigos sentem. Essa necessidade de uma validação externa, de um aval, de uma aprovação. E ela abre mão de tudo isso para procurar um sentido da existência, sai por aí descobrindo novas coisas, novas maneiras de se relacionar com a vida"

Ancorada no gênero do realismo fantástico, “Deus pelo avesso” é a estreia de Yasmin como diretora.

Ela escreveu o texto ao longo do ano passado, influenciada por uma passagem por São Paulo, onde esteve em cartaz com “Los Hermanos — Musical pré-fabricado”, de Michel Melamed, do qual fazia parte do elenco.

Conta que estava passando por “várias questões de amadurecimento, transformações internas e reflexões em relação a sua carreira”.

"O pós-pandemia me influenciou também, me fez pensar nessa nova forma de ter que olhar para a vida e para o fluxo de trabalho. Formas com as quais eu venho repensando minha carreira no sentido de ganhar autonomia, de não esperar convites"

Parece um monólogo, mas não é: são 26 atores no palco, contando com a protagonista. O elenco numeroso é fruto de uma oficina de atuação que ela liderou e acabou se encaixando com o texto que estava na gaveta.

No palco, atores e atrizes de diferentes idades se revezam na pele de personagens que orbitam esta Laika em meio a uma jornada de autoconhecimento, como uma psicóloga, uma bruxa vidente, ou mesmo vozes de uma consciência atormentada por questões contemporâneas que poderiam acometer qualquer um de nós.

E tem bem mais.

Corpos cenográficos
A trupe no palco também funciona como um grande organismo vivo, que ora se presta como cenografia — são cadeiras, mesas, árvores — e ora atua como um grande balé impressionista.

Para codirigir a peça, uma correalização do É Coletivo e da Caosfera, Yasmin chamou a paulistana Renata Imbriani. Valéria Alencar e Vitor Thiré (assistência de direção), Yasmim Lira (iluminação), Gisele Carvalho (figurino) e Vanessa de Oliveira (cocriação executiva) completam parte da equipe.

"Foi muito desafiador pra mim, particularmente, porque eu nunca estive dentro e fora do cenário ao mesmo tempo, né? É a minha primeira direção, então convidei a Renata pra me dirigir, enquanto eu dirigia os atores. Separei o ensaio em dois, uma vez por semana tinha o ensaio com o elenco inteiro, e três vezes por semana, em outro lugar, em outro horário, tinha o meu ensaio individual" diz a atriz.

Yasmin Gomlevsky tem 16 anos de carreira como atriz, mas se define como uma artista multilinguagem. Também é escritora — publicou seu “Fogo frio”, livro que depois adaptou para o teatro —e cantora.

Protagonizou peças como “Um Tartufo” e “O diário de Anne Frank”, e atuou em musicais como “Beijo no asfalto”, “Cazuza”, “Rock in Rio”. Também trabalhou na televisão, em novelas como “Bom Sucesso” e “Malhação – Sonhos”.

É, ainda, taróloga. Costuma carregar para seus projetos questões filosófico-espirituais, preocupações de uma artista antenada com seu tempo.

"A peça oferece caminhos para se pensar de um outro lugar. Um papo sobre mudança de valores, paradigmas, de sair da guerra, da briga, do baile dos egos cruéis, e entrar num lugar de colaboração, de amor-próprio e de amor incondicional pela humanidade" conclui.

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