Zé Celso: relembre briga de 40 anos com Silvio Santos por terreno ao lado do Teatro Oficina
Diretor, morto aos 86 anos, entrou na Justiça para que apresentador não construísse torres de apartamentos ao lado da sede do grupo, desfigurando o projeto de Lina Bo Bardi
Desde 1980, além de notícias relacionadas ao teatro, o diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, que morreu nesta nesta quinta-feira (6), aos 86 anos, passou a aparecer no noticiário por conta de sua briga na Justiça com Silvio Santos para manter o projeto original do Teatro Oficina, fundado por ele em 1958. Sua sede no bairro da Bela Vista (popularmente conhecido como Bixiga) foi reformada entre 1984 e 1994 com projeto de Lina Bo Bardi (1914 -1992) e Edson Elito, é considerada patrimônio histórico pela Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico).
O edifício tem como característica uma grande janela lateral, que permite ver a cidade durante as montagens. Contudo, há 43 anos, o apresentador e empresário comprou um terreno contíguo ao teatro, com planos de erguer um prédio com mais de cem metros de altura para o Grupo Silvio Santos, e o diretor entrou na Justiça para impedir.
Em 2016, um projeto para construção de três torres da Sisan, braço imobiliário do Grupo Silvio Santos, foi proibido pelo Condephaat, mas no ano seguinte a decisão foi revertida. Os dois se encontraram em várias reuniões, mas não houve uma solução consensual. Um "abraçaço" no quarteirão do Oficina, convocado por Zé Celso, reuniu em 2017 mais de mil pessoas, entre elas o apresentador Marcelo Tás, o ator Sérgio Mamberti, o cantor Otto e o então vereador Eduardo Suplicy (atualmente deputado estadual pelo PT).
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No ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) proibiu a prefeitura de autorizar a construção de um empreendimento imobiliário com mil apartamentos no terreno, que havia sido liberada pelos órgãos de preservação municipais. Um projeto para a criação do Parque do Bixiga (que seria negociado com uma permuta de terrenos com Silvio Santos) foi aprovado em duas votações, mas acabou vetado em 2020 pelo prefeito em exercício Eduardo Tuma. O Grupo Silvio Santos recorreu à segunda instância.
Ao se casar com Marcelo Drummond, Zé Celso convidou Silvio Santos para a cerimônia, dizendo que esperava receber como presente a doação do terreno ao Oficina. O casal também planejava plantar um ipê que ganhou de presente de Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, que plantariam no terreno ao lado do teatro. No entanto, a empresa Residencial Bela Vista, do Grupo Silvio Santos, entrou com uma liminar, no dia da cerimônia, para impedir qualquer tipo de ação no terreno, sob pena de uma multa de R$ 200 mil no caso do descumprimento.
Zé Celso morreu após ser internado no Hospital das Clínicas, em São Paulo, na manhã de terça-feira (4), com queimaduras em 53% do corpo, causadas por um incêndio em seu apartamento no bairro do Paraíso, Zona Sul da capital paulista, causado por uma falha no aquecedor da residência. Ele foi encaminhado para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), onde foi entubado, mas não resistiu.