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PERSPECTIVAS

Empresas têm inadimplência recorde em 2024; veja as perspectivas para este ano

Levantamento do Serasa Experian mostra que, em outubro de 2024, quase 1/3 das empresas do País são inadimplentes. Expectativa é que elas devam começar 2025 nessa condição

Valor das dívidas, quando somados, das 7 milhões de empresas devedoras chega a R$ 156,1 bilhõesValor das dívidas, quando somados, das 7 milhões de empresas devedoras chega a R$ 156,1 bilhões - Foto: FreePik

Sete milhões de empresas brasileiras chegaram ao fim do último mês de outubro inadimplentes, o que representa 32,3% total de empresas hoje no Brasil. Os dados são da companhia Serasa Experian, primeira e maior datatech do Brasil, divulgados recentemente. O valor das dívidas, quando somados, bateu o recorde de R$ 156,1 bilhões. 

Comparado com o mesmo período do ano passado, o número de empresas inadimplentes – aqueles que possuem pelo menos um compromisso vencido e não pago –  cresceu em 500 mil, um aumento de R$ 30,3 milhões em dívidas de um ano para o outro. No ranking dos Estados com o maior número de empresas inadimplentes, Pernambuco aparece em nono lugar, com 198.953, à frente do Mato Grosso (166.871) e abaixo de Goiás (209.852).   

Entre as organizações inadimplentes, micro e pequenos negócios somaram 6,5 milhões, representando 46,5 milhões de dívidas no valor de R$ 134,1 bilhões. Em média, cada empresa possuía 7,1 contas atrasadas.

A alta das taxas de juros foi um dos fatores que contribuíram para o aumento da inadimplência, mas a alta do dólar em 2024, que chegou a 26%, a maior alta nominal em um ano desde 2020, não pode ser desconsiderada. A expectativa é que as empresas deverão começar o ano de 2025 nessa condição, mas o quadro pode melhorar mais à frente.

Selic
De acordo com o economista Sandro Prado, o aumento na Selic, a taxa básica de juros da economia, reflete principalmente nas empresas que pegam empréstimos e financiamentos em bancos, sobretudo para capital de giro, e ficam em dificuldade de honrar esses débitos, fazendo com que acabem tendo que direcionar mais recursos para pagamento de juros.

“A maioria das empresas investem com dinheiro de terceiros. Para financiar um caminhão ou uma máquina, construir um centro de distribuição, dificilmente isso é feito com recursos próprios. Utiliza-se normalmente financiamento bancários e tem que pagar mais nessas parcelas porque o custo efetivo desses empréstimos é mais elevado”, lembrou Prado. Para o economista, isso é ruim para as empresas, principalmente àquelas que precisam ficar rolando capital de giro.

“Muitas agora no final de 2024 tiveram uma dificuldade grande de pagar o 13º salário, algumas, inclusive, pegaram dinheiro emprestado por não terem feito provisão e, no começo do ano, vêm alguns gastos extras. Assim como as pessoas físicas, as empresas que possuem veículos têm que pagar IPVA e IPTU, custos inerentes ao começo de ano”, lembrou.

Segundo Prado, aumento da Selic impacta principalmente as empresas que pegam empréstimos e financiamentos  Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Por conta disso, explica Prado, há a expectativa que agora no começo de 2025, o índice de inadimplemento chegue a aumentar, mesmo com a negociação feita pelo governo com as empresas na tentativa de uma regularização de débitos.

Dólar
Há empresas que têm seus custos atrelados ao dólar, principalmente as que compram insumos importados, as de tecnologia, varejistas etc. “Dependem da compra de produtos importados, e esses preços majorados fazem com que essas empresas tenham maiores dificuldades financeiras quando não conseguem repassar para os produtos”, advertiu ele.

Mercado
Já o economista Tiago Monteiro lembrou que, em 2025, o que o mercado especula e o que deve acontecer é um processo no qual se terá a redução dos gastos públicos e qualificação desses gastos para conseguir um equilíbrio fiscal e não haver endividamento por parte do Governo.

“Quando se mantém o equilíbrio fiscal e não tem mais endividamento, tem-se base técnica para redução da Selic, porque se está gastando menos do que arrecada, sobra mais dinheiro, se consegue fazer mais investimentos, a capacidade produtiva do País começa a crescer, e isso vai fazer com que a produção se equipare à capacidade de demanda. E aí a inflação começa a diminuir”, analisou.

Sem risco fiscal e com a inflação baixa, se começa a reduzir as taxas de juros, segundo ele. Nesse caso, há mais dinheiro para o consumo e para a produção. “Isso é o que deveria acontecer. Se isso vai acontecer é uma interrogação muito grande. Se a gente não fizer responsabilidade fiscal e tiver uma redução da Selic por questões políticas, a gente vai estar falando da pior crise econômica do Brasil nos próximos dois, três ou quatro anos”, previu.

Tiago Monteiro disse que a posição de Pernambuco no ranking da pesquisa não é confortável           Foto: divulgação  

Pernambuco
Quanto ao fato de Pernambuco ocupar o nono lugar no ranking da pesquisa, Monteiro afirmou que essa não é uma posição confortável.

“É muito ruim porque somos um Estado que depende literalmente de serviços, de uma confiança mais em cima e a gente tem uma fragilidade social muito grande. A gente está entre os doze ou treze estados que o índice de pessoas que são dependentes de auxílios, como o Bolsa Família, maior do que as pessoas que têm formalização da mão de obra”, explicou.

Na perspectiva do economista, quando se tem um índice grande de inadimplência de empresas e não muito longe dos principais significa que no médio prazo empresas podem ser fechadas. “E isso tende a piorar o índice de emprego no Estado e aumentar o número de pessoas que dependem de auxílios. Então, é muito ruim para o Estado porque isso não gera riqueza”, alertou.

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