Economia

Ações da Azul disparam mais de 50%, após acordo com empresas de 'leasing'

Acerto, anunciado na noite de domingo, prevê renegociação de 90% dos débitos com companhias que arrendam aviões para a aérea. Lucro no quarto trimestre foi de R$ 1,1 bilhão

Os balcões de atendimento das companhias Gol, Latam e Azul estão com filasOs balcões de atendimento das companhias Gol, Latam e Azul estão com filas - Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

As ações a Azul disparam mais de 40% nesta segunda-feira (6), após a empresa ter anunciado acordo com empresas de leasing de aeronaves para reestruturação de suas dívidas e que prevê a conversão de parte dos créditos em ações da empresa. O acerto, ao lado do lucro do quarto trimestre divulgado hoje, dá fôlego ao caixa da companhia.

Por volta de 13h10, os papéis preferenciais da Azul (AZUL4, sem direito a voto) disparavam 52,9%, negociados a R$ 11,07. As ADRs, recibos de ações, negociados na Bolsa de Nova Yok (Nyse), subiam 60,34% às 12h30, negociadas a US$ 6,66.

Para analistas de bancos e corretoras, mesmo sem detalhes sobre informações relevantes do acordo anunciado na noite de domingo, a negociação abre espaço para uma melhor geração de recursos do caixa durante o ano, melhorando o perfil de crédito da empresa e aumentando o prazo médio da sua dívida.

Nas últimas semanas, os papéis apresentavam desempenho fraco, e a empresa chegou a ser rebaixada por agências de risco. Mesmo com a disparada no dia, as ações preferenciais (sem direito a voto) ainda têm queda acumulada próxima a 5% no ano.

No domingo, a Azul anunciou ao mercado que conseguiu firmar acordos com as empresas de leasing que representam mais de 90% de seu passivo com arrendamentos. Neste ano, a empresa tinha a pagar cerca de R$ 3,8 bilhões em arrendamento de aeronaves e vinha negociando um alongamento das dívidas.

O lucro da empresa no último trimestre do ano passado foi de R$ 1,1 bilhão. O resultado positivo mitigou as perdas da companhia no ano passado. A Azul teve prejuízo de R$ 722,4 milhões no ano, 83% a menos do que a perda registrada em 2021.

Alta de 40% da passagem

A demanda por voos no quarto trimestre foi recorde na empresa e a receita total foi de R$ 4,5 bilhões de setembro a dezembro, 19% a mais que o registrado no mesmo período do ano passado e 37% acima do faturamento do último trimestre de 2019, anterior à pandemia.

Em 2022, a receita operacional da Azul chegou a R$15,9 bilhões, 39,4% mais que a de 2019 e 60% acima da de 2021. O faturamento da companhia tem sido impulsionado pela alta demanda por voos e pelo preço médio das passagens aéreas, que tem registrado forte alta em razão, principalmente, dos aumentos no preço do querosene de aviação (QAV).

Somente na Azul, a tarifa média aumentou 40% em 2022, na comparação com o ano anterior, chegando a R$ 588,70 por trecho em dezembro.

Apesar do prejuízo em 2022, a companhia aérea teve no ano passado R$ 3,23 bilhões de lucro antes de juros impostos depreciação e amortização (o chamado EBITDA) importante indicador sobre a saúde da operação. O montante é 16 vezes o EBITDA de 2021. Para este ano, a previsão da empresa é chegar a um EBITDA superior a R$ 5 bilhões, de acordo com o presidente da Azul, John Rodgerson.

Entenda o acordo da Azul

Rodgerson disse ao Globo que a expectativa é que os acordos sejam estendidos a todas as 15 empresas que arrendam suas aeronaves para a Azul. A investidores, ele afirmou que espera que isso ocorra "nas próximas duas ou três semanas" e que, quando isso ocorrer, a companhia divulgará informações mais detalhadas sobre eles.

O passivo de leasings representa hoje 79% da dívida da Azul e somam cerca de R$ 14 bilhões. Todo esse valor foi renegociado com alongamento de prazo para pagamento, mas não houve descontos. Neste ano, a Azul tinha previsão de pagar R$ 3,8 bilhões em arrendamentos, sendo aproximadamente R$ 600 milhões referentes a diferimentos de leasing da época da pandemia. O valor restante, de R$ 3,2 bilhões, não será pago integralmente neste ano, mas a companhia ainda não informou qual é o montante que deverá desembolsar em 2023.

— Falamos que a moeda do Brasil se desvalorizou e pedimos um preço justo pelo leasing agora. A diferença de preço será paga em 2030 e parte dela em equity (ações). Com isso, resolvemos nossa situação de caixa neste ano e nos próximos sete anos. A gente tinha um buraco de R$ 3 bilhões neste ano — afirma Rodgerson.

De acordo com a Azul, o acordo prevê o postergamento dos passivos de leasing diferidos durante a pandemia e um desconto, agora, dos aluguéis de aeronaves para preços de mercado. As empresas de leasing aceitaram receber os diferimentos e o desconto dos arrendamentos em 2030. As arrendadoras receberão títulos de dívida negociável com vencimento em 2030, que representa 40% dos débitos, e ações da empresa que serão "precificadas de forma a refletir a nova geração de caixa da Azul, sua melhor estrutura de capital e a redução em seu risco de crédito", representando os 60% restantes.

Ou seja, o preço a ser pago pelas ações no futuro deverá ser maior que o atual valor de face dos papéis, hoje depreciados. Em 12 meses, o valor da ação da Azul caiu 59,55%, atingindo R$ 7,24 no pregão da última sexta-feira.

"Estamos com o valor das ações hoje em quatro vezes o nosso EBITDA, mas historicamente o nosso preço sempre foi oito vezes, então esse pagamento em equity será no preço normal, não no depreciado. Isso diminui a diluição dos acionistas e mantém a estrutura de controle da companhia", ressalta o executivo.

Alta de 40% do QAV desde 2019

John Rodgerson afirma, ainda, que a Azul poderá levantar capital se necessário, apesar de seu endividamento ainda elevado. No fim de 2022, o endividamento bruto da Azul era de R$ 21,8 bilhões, 5,3% a menos do que em dezembro de 2021.

A alavancagem mensurada como o múltiplo da dívida líquida em relação ao EBITDA dos últimos doze meses era de 5,7, considerado elevado. Um ano antes, porém, o indicador chegara a 11,2.

A Azul e o setor aéreo brasileiro como um todo são negativamente impactados pela alta no preço do querosene de aviação, cujo preço é atrelado ao dólar e subiu 36% desde o início de 2022, já considerando a recente redução de 13,8% anunciada pela Petrobras na semana passada.

Desde 2019, o aumento no preço do insumo supera os 120% de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear). O combustível representa hoje aproximadamente 40% dos custos de uma linha aérea no Brasil.

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