Acordo de gás entre EUA e Europa vai encarecer energia no Brasil, preveem analistas
País importa GNL americano para termelétricas. Preço do insumo dobrou este ano e deve se manter alto até 2028
O acordo dos EUA com a União Europeia vai manter os preços do GNL (gás liquefeito, em estado líquido) em alta pelos próximos anos e pode impactar o preço da energia elétrica no Brasil, de acordo com consultorias. Isso porque o Brasil importa GNL dos EUA e usa esse gás como combustível para as usinas termelétricas.
A projeção de especialistas do setor é que o valor do GNL se mantenha no atual patamar, na faixa dos US$ 20 por milhão de BTU até pelo menos 2028. É o dobro da média do primeiro semestre de 2021. Em janeiro deste ano, o preço chegou a US$ 30 por milhão de BTU — e no começo da guerra da Ucrânia marcou US$ 65 por milhão de BTU.
Nesta sexta-feira, os EUA se comprometeram a fornecer ao menos 15 milhões de metros cúbicos de gás até o fim de ano para a União Europeia como forma de reduzir a dependência energética dos países europeus com a Rússia, país responsável por fornecer 40% do gás consumido pelo bloco. O acordo prevê volumes crescentes até 2030.
Segundo Mauro Chavez, diretor de gás e GNL na Europa da consultoria Wood Mackenzie, apesar do acordo, os preços do gás vão continuar elevados nos próximos anos com as incertezas do conflito envolvendo Ucrânia e Rússia. Para ele, esse movimento ocorre em um momento de alta das importações de GNL no Brasil por conta da maior crise hídrica do Brasil nos últimos 91 anos.
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"Os preços vão continuar altos e isso é ruim para o Brasil, pois se tivermos uma nova seca vamos precisar continuar comprando mais GNL para abastecer as térmicas e esse cenário de alta vai se refletir no valor da energia elétrica paga pelos brasileiros", disse Chavez.
Segundo a Petrobras, o GNL responde por cerca de 27% da oferta de gás no Brasil. É um patamar semelhante ao importado pela Bolívia. O restante vem da produção nacional. Em 2021, 93% do GNL importado pelo Brasil veio dos EUA, segundo a consultoria Gas Energy.
Chavez não acredita, porém, em falta de gás no mercado internacional. Para ele, o principal reflexo será o preço maior. Chavez destacou que Estados Unidos, Catar e Austrália , os três maiores exportadores de GNL no mundo, vêm ampliando e acelerando os investimentos em terminais para exportar gás liquefeito.
Rivaldo Moreira, presidente da consultoria Gas Energy, disse que os Estados Unidos têm capacidade para atender a esse acordo com a Europa devido a investimentos que vêm sendo feitos no setor. Por isso, ele não acredita em falta de gás para o Brasil. Hoje, segundo ele, o problema não é a oferta do gás e sim a desorganização da cadeia de suprimento com os embargos à Rússia.
"O Brasil, e basicamente a Petrobras, importa cargas de GNL quando precisa. E vamos ver muitos países que são mais dependentes de gás no mundo buscando se contratar para o médio e longo prazos e isso vai de certa forma reduzir a oferta de GNL no mercado spot (livre). Ou seja, haverá mais disputa para contar com o máximo de GNL nos próximos anos. E, se tivermos uma nova crise hídrica, o Brasil terá mais dificuldade", disse Moreira.
Moreira afirmou ainda que a crise atual mostra que haverá mais incentivo para investir em gás nos EUA e, em consequência, no mundo todo, como em outros países como Catar, Egito e Austrália.
"Quem tem reservas vai explorar. O capital que tinha receio para financiar esse avanço agora vai ter um cenário perfeito para investir, pois todos os países querem garantir segurança energética".