Logo Folha de Pernambuco

Economia

Adversários de Guedes no governo dizem que equipe joga contra Bolsonaro

O alvo da vez é Waldery Rodrigues, o secretário da Fazenda que comentou em entrevistas a possibilidade de viabilizar o financiamento do Renda Brasil

Paulo Guedes, ministro da EconomiaPaulo Guedes, ministro da Economia - Foto: Alan Santos/PR

A crise que levou à suspensão do lançamento do programa Renda Brasil elevou a pressão de alas do governo sobre o ministro Paulo Guedes (Economia). Militares, aliados de Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e bolsonaristas mais ideológicos querem que o presidente dê um ultimato ao seu ex-superministro. Para eles, Guedes precisa enquadrar de vez sua equipe, que na visão desses rivais joga contra o Palácio do Planalto sempre que tem oportunidade.

O alvo da vez é Waldery Rodrigues, o secretário da Fazenda que comentou em entrevistas a possibilidade de viabilizar o financiamento do Renda Brasil com o congelamento de benefícios como aposentadorias, por até dois anos. Segundo um ministro, Bolsonaro ficou "histérico" quando leu a proposta de Waldery nos jornais na terça-feira (15).

Chamou Guedes, que participaria de um evento virtual, e anunciou o fim do Renda Brasil neste mandato. O clima ficou pesado no Planalto como não se via desde o auge da crise institucional, em junho, quando o debate público girava em torno da possibilidade de um autogolpe patrocinado pelas Forças Armadas contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso.

O Renda Brasil, uma expansão do Bolsa Família dos atuais R$ 30 bilhões/ano para cerca de R$ 50 bilhões/ano, é visto no Planalto como uma extensão do assistencialismo encarnado no auxílio emergencial da pandemia -que acaba em dezembro e é associado à melhora da avaliação de Bolsonaro nas pesquisas.

Seu fracasso, e a os percalços da agenda de Guedes à frente, como a eventual tentativa de ressuscitar a CPMF, têm animado oposicionistas do Planalto. Guedes se manteve no cargo e disse que o "cartão vermelho" a que Bolsonaro se referiu ao falar sobre as falas da equipe econômica não se aplicava a ele -logo, o endereço estava anotado na testa de Waldery.

Até aqui, o secretário se mantém, embora sua queda pareça ser questão de horas. Um ministro se queixou de que membros da equipe econômica vão ao Planalto discutir medidas, têm algumas ideias vetadas e elas reaparecem ou na boca de líderes no Congresso ou na imprensa.

Isso é um procedimento padrão em Brasília há décadas, mas o fato de o grupo ora no poder não estar habituado com isso parece ter exacerbado as reações. Além disso, Guedes deixou de ser unanimidade há muito tempo no governo. Bolsonaro tem fritado o ministro há alguns meses, tolhendo iniciativas.

Mesmo o entorno bolsonarista mais raiz, que sempre teve em Guedes um símbolo, já o critica como alguém sem compromisso com o presidente. Na ala militar, o titular da Economia é visto como o patrono da tentativa de enterro do Pró-Brasil, o plano de infraestrutura que faz brilhar os olhos do general Walter Braga Netto (Casa Civil) e outros.

Já na esfera econômica, há a competição nada velada de Marinho pela cadeira do próprio Guedes. Ela havia sido reduzida publicamente, mas segue intensa no bastidor. O ministro do Desenvolvimento Regional caiu nas graças de Bolsonaro ao incentivar as agendas do presidente pelo Nordeste, que coincidiram com a sua recuperação nas pesquisas.

Segundo auxiliares do presidente, ele conta com Guedes, pelo peso relativo que o ministro ainda tem entre seus interlocutores no mercado financeiro. E a Faria Lima define muito dos humores num Congresso volátil. Não por acaso, a área econômica tem tido suas vitórias recentes bancadas pelo temor que Guedes instila no presidente de que ele possa sofrer um processo de impeachment caso caminhe pela seara de romper o teto constitucional de gastos ou crie despesas não previstas.

Bolsonaro é obcecado pelo risco de impedimento. Em diversas ocasiões citou a possibilidade em encontro com políticos e até a ministros do Supremo, além de ter falado publicamente nela. Por ora, esse temor tem sido fiador da posição deGuedes, mas não necessariamente de sua equipe.

Veja também

Frigoríficos brasileiros cessam fornecimento ao Carrefour após corte de carne brasileira na França
CRISE COM O CARREFOUR

Frigoríficos brasileiros cessam fornecimento ao Carrefour após corte de carne brasileira na França

Federação de Hotéis e Restaurantes de SP organiza boicote ao Carrefour
Mercado

Federação de Hotéis e Restaurantes de SP organiza boicote ao Carrefour

Newsletter