Alemanha vai nacionalizar gigante de energia Uniper
Governo assumirá cerca de 99% das ações da empresa que fornece gás para centenas de municípios alemães
A Alemanha vai nacionalizar a gigante da energia Uniper, sufocada pelos cortes no fornecimento de gás russo, anunciou nesta quarta-feira (21) o Ministério da Economia alemão e o proprietário finlandês da empresa, o grupo público Fortum. A empresa fornece gás para centenas de municípios alemães.
"O governo assumirá cerca de 99% da Uniper", disse o Ministério da Economia alemão em comunicado. "A Uniper é um pilar central do fornecimento de energia alemão", acrescentou para justificar a intervenção.
O acordo substitui um plano de ajuda inicial divulgado em julho, segundo o qual o governo alemão teria uma participação de 30% no grupo, o maior importador de gás da Alemanha.
Berlim vai comprar todas as ações da Fortum ao preço de € 1,70 por ação, por um total de € 500 milhões, segundo o documento. A Alemanha também realizará um aumento de capital de € 8 bilhões na empresa, disse o governo.
Leia também
• Greenpeace bloqueia gás russo na Finlândia
• Alemanha deve ter o exército mais bem equipado da Europa, afirma chefe de governo
• Gazprom prolonga corte de gasdouto vital para Europa por problema de turbina
"Nas atuais circunstâncias do mercado energético europeu, e reconhecendo a gravidade da situação da Uniper, este desinvestimento da Uniper é o passo certo, não só para a Uniper, mas também para a Fortum" disse Markus Rauramo, presidente do grupo finlandês.
Rauramo acrescentou que “o papel do gás na Europa mudou desde que a Rússia atacou a Ucrânia, e as perspectivas para um portfólio intensivo em gás também mudaram”, inviabilizando a participação da Uniper nesse mercado.
A empresa era o principal cliente da gigante russa Gazprom na Alemanha. Para cumprir seus contratos, ela agora terá que buscar o gás no mercado spot, onde os preços dispararam.
No total, as perdas sofridas somam " € 8,5 bilhões", disse a Fortum nesta quarta-feira.
A situação piorou quando a Gazprom fechou temporariamente seu gasoduto Nord Stream 1, o principal fornecedor de gás russo para a Alemanha, no início de setembro.
Na sexta-feira passada, o governo alemão anunciou que assumiu o controle de três refinarias do grupo petrolífero russo Rosneft em seu território para garantir seu funcionamento quando entrar em vigor, em dezembro, o embargo total às compras de petróleo russo determinado pela União Europeia (UE).
Dependência do gás russo
Berlim alertou nos últimos meses sobre o "efeito Lehman Brothers" que uma falência da Uniper teria nos mercados de energia. Dada a importância da Uniper, seu colapso abalaria o mercado e causaria falta de energia para seus milhares de clientes.
O governo alemão também entrou em negociações com outro fornecedor de gás, a VNG, em setembro sobre um possível pacote de ajuda.
A invasão russa da Ucrânia provocou um terremoto no mercado de energia europeu, intensificando a pressão sobre os fornecedores e aumentando os temores de possíveis desabastecimentos durante o inverno.
A Alemanha estava particularmente exposta a esta situação devido à sua elevada dependência das importações de energia de Moscou.
Desde o início da guerra, Berlim tem lutado para se livrar do gás russo e garantir suprimentos alternativos.
As autoridades assumiram os principais componentes da infraestrutura energética que estavam nas mãos das empresas de energia russas e ordenaram o preenchimento de depósitos de gás.