Banco Central

"Alta de juros está na mesa do BC", diz Galípolo

Em evento em São Paulo, diretor de Política Monetária do Banco Central afirma que cenário é "desconfortável" para cumprimento da meta

Fachada do Banco Central, em Brasília Fachada do Banco Central, em Brasília  - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que um eventual aumento na taxa básica de juros está na mesa da autarquia, diante de casos inesperados e com impacto sobre os mercados mundiais, como aconteceu na segunda, com a maior queda na Bolsa de Tóquio desde 1987.

O economista disse ainda concordar que o cenário é “desconfortável” para o cumprimento da meta de inflação de 3% no ano com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Galípolo esteve esteve em painel do 2º Warren Institutional Day, evento de finanças organizado pela Warren Investimentos em São Paulo.

"Me alinho àquela visão de que o cenário hoje é desconfortável para o cumprimento da meta (de inflação) e de quem gostaria de ver uma melhora nas variáveis para a questão do cumprimento da meta ", disse nesta segunda-feira.

O economista disse também que não há uma relação mecânica entre câmbio e política monetária, já que o BC acompanha uma série de variáveis que indicam desde a desancoragem das expectativas de inflação até um mercado de trabalho mais aquecido, além da trajetória positiva do mercado de crédito, que bateu recorde em emissão de debêntures.

"Às vezes o que é notícia boa pra alguns, para a gente é um tipo de preocupação. O IPCA não veio só maior, mas também com uma composição que traz uma série de alertas [...] ", disse Galípolo, citando, por exemplo, a persistência da inflação dos serviços, também atrelada ao mercado de trabalho apertado, e também influências como a reprecificação da curva de juros dos Estados Unidos.

Galípolo reforçou o conteúdo da última ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), publicada no início da semana passada. 

No documento, a autoridade disse que não hesitaria em elevar a Selic para garantir a inflação dentro da meta. O BC havia decidido, na semana anterior, pela manutenção da taxa básica de juros da economia em 10,50% ao ano.

"A ata deixa bem claro, e espero ter deixado claro, mas vou repetir que não fornecemos nenhum tipo de guidance para a próxima reunião [...] A alta está na mesa e a gente quer ver como isso vai se desdobrar [...] Basta ver o que aconteceu com a política monetária norte-americana, ou pegar uma segunda-feira que você tem a maior queda desde 1987 da bolsa no Japão, para depois ter um circuit break de alta no final do dia, na abertura da mesma bolsa ", disse o diretor.

Na semana passada, em outro evento, ele havia comentado que os riscos para alta inflacionária superavam os indicativos de algum alívio no aumento de preços. Galípolo disse, na mesma oportunidade, que o Copom estava disposto a fazer o que fosse necessário para garantir o cumprimento da meta.

O economista concluiu que era função do colegiado estabelecer uma taxa de juros restritiva o bastante (ou seja, em patamar suficientemente elevado) pelo tempo necessário para se chegar à inflação de 3% ao ano.

Alguns analistas, no entanto, avaliaram que a fala de Galípolo indicava uma mudança de tom em relação à ata divulgada pelo BC, o que ele nega.

Ele disse ainda que é importante haver uniformidade entre a postura dos diretores e os comunicados do BC:

"De maneira nenhuma a (minha) intenção era fazer uma mudança de tom. A gente tinha o mesmo diagnóstico [...] Para quem está com diretor da autoridade monetária, está buscando coordenar expectativas e que entende que a formação dos preços dos ativos se dá por meio de consensos, tentar produzir um drible seria muito estranho, né? Olhar para o lado e tocar para o outro é uma jogada genial de Ronaldinho Gaúcho, maravilhosa. Agora, se o diretor de política monetária fazer isso ou qualquer outro diretor, ele vai marcar gol contra."

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