Alta na inflação é pontual e juros devem seguir baixos, avaliam analistas
Para 2021, a expectativa para o IPCA é de alta de 3,35%
A alta da inflação não mudou as expectativas do mercado para a evolução da Selic (taxa básica de juros) em 2021. O aumento de preços, segundo analistas, é pontual e deriva da pandemia de Covid-19. Ele reflete a alta do dólar, a escassez de insumos e os efeitos do auxílio emergencial no consumo.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) acumulou alta de 4,52% em 2020, acima do centro da meta de 4% do Banco Central, mas dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
"A inflação em serviços caiu muito. Se fecharmos tudo de novo em um novo lockdown, serviços volta lá para baixo. Além disso, sem auxílio, não tem consumo", afirma Bruno Musa, economista e estrategista da Acqua Investimentos.
Para 2021, a expectativa para o IPCA é de alta de 3,35% e, para 2022, de 3,50%, segundo o boletim Focus do Banco Central, que reúne a estimativa de diversos economistas
Um dos instrumentos para o controle da inflação é a Selic. Quanto mais alta, mais ela desestimula o consumo. Segundo analistas, a taxa deve começar a subir no início do segundo semestre de 2021.
Apesar desse aumento, os juros devem permanecer em um patamar baixo, com juro real (descontado da inflação) próximo de zero, avaliam analistas.
Segundo o Focus, o juro deve terminar 2021 em 3,25% e 2022 em 4,75%. Na semana passada, a expectativa era de 3% e de 4,50%, respectivamente.
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A taxa básica de juros está na mínima histórica de 2%. Além de desencorajar o consumo, uma alta também poderia fortalecer o real frente ao dólar, o que também ajuda a frear o aumento dos preços.
De acordo com Alexandre Espírito Santo, economista da Órama, o BC já pode sinalizar na sua próxima reunião de política monetária, em 20 de janeiro, uma mudança no cenário, abrindo as portas para um ciclo de alta no juros.
"O BC precisa subir juros para rolar a dívida pública", diz Espírito Santo. Juros mais altos tornam mais atrativos os títulos públicos, um dos instrumentos pelos quais o Estado se financia.
Por outro lado, com a pandemia ainda latente, a economia precisaria de juros baixos como um estímulo, o que impede grandes saltos na Selic.
"A recuperação no primeiro trimestre vai ser muito morna" , afirma o economista.