NEGÓCIOS

Americanas: Aviso de possível recuperação judicial é xeque-mate na briga com bancos

Varejista sofreu primeira derrota para o BTG na Justiça, e outros bancos tentam reaver recursos

Fachada das Lojas AmericanasFachada das Lojas Americanas - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

O anúncio da Americanas de que trabalha com a possibilidade de entrar nos próximos dias ou horas com um pedido de recuperação judicial é uma espécie de xeque-mate na negociação com os bancos, na leitura do mercado.

Desde que a Americanas surpreendeu bancos, investidores, gestores de fundos de investimento, reguladores e consumidores com a revelação de um rombo de R$ 20 bilhões em seus balanços de 2022 e anos anteriores, já se sabia que a companhia precisaria de uma injeção de capital para equacionar as contas.

A própria empresa deixou claro que os acionistas de referência, os bilionários do 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, se dispunham a apoiar a empresa. Desde o início a questão não era se isso precisava ser feito, mas qual seria o tamanho do cheque.

Mas é uma briga na qual dificilmente se pode falar em escassez de recursos: de um lado estão os homens mais ricos do país e de outro os grandes bancos privados. Sem mencionar os débitos de mais de R$ 6 bilhões de instituições públicas.
 

O caminho para essa injeção de ânimo bilionária na companhia seria uma oferta subsequente de ações, conhecida no jargão do mercado como follow-on. Os acionistas de referência se comprometeriam a comprar papéis e o mercado acompanharia. É uma espécie de fatura dividida, mas com uma garantia de #tamosjuntos nessa crise. Os relatos de fontes próximas às partes indicam que os acionistas estavam dispostos a aportar inicialmente R$ 6 bilhões.

Para os credores, a cifra não era satisfatória. E conforme o tempo passa e a incerteza se prolonga, a demanda cresce. Inicialmente, se esperava algo entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. A XP chegou a estimar que seriam necessários R$ 21 bilhões para deixar a crise para trás.

As conversas entre empresas e credores até começaram bem, mas quando a Americanas conseguiu na Justiça, em plena sexta-feira 13, uma decisão que proibia a execução de dívidas por 30 dias o clima azedou de vez. O que se esperava que fosse uma mediação amigável entre partes que se conhecem de longa data virou uma corrida desenfreada dos bancos à Justiça para reaver seus direitos antes que a empresa recorresse à recuperação judicial.

Enquanto acionistas e credores se "engalfinhavam" na Justiça, com direito a troca de farpas e socos diretos, como a acusação de "fraude confessada", que consta no recurso apresentado pelo BTG à Justiça, as ações da Americanas foram definhando na Bolsa. Chegou ao ponto em que um papel da companhia, cotado abaixo de R$ 2, não paga nem um mísero KitKat, um dos hits da cesta de compras da Americanas.

O golpe certeiro para a Americanas foi a vitória na Justiça do BTG. Na quarta-feira, o banco teve sua primeira vitória após uma série de recursos na Justiça e pôde reaver R$ 1,2 bilhão. A decisão abre um flanco difícil para a Americanas no momento, que viu seu caixa minguar em poucos dias.

Ao avisar que vai entrar em recuperação judicial, os credores precisarão avaliar rapidamente se ainda há espaço para chegar a um acordo, mesmo sem alcançar tudo o que esperavam, ou se estão dispostos a encarar um longo e custoso processo de recuperação judicial. Os casos recentes de grandes empresas que pediram proteção à Justiça contra os credores não trazem grande alento do ponto de vista de quem tem algo a receber. Anos e anos de discussões e descontos na dívida que não são vistos nem na melhor das Black Fridays do varejo.

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