Americanas: entenda como o caixa da empresa despencou de R$ 8 bilhões para R$ 800 milhões
Varejista enfrenta restrição de crédito e fica mais próxima da recuperação judicial, segundo fontes
Em crise há uma semana, após a revelação de uma inconsistência contábil de R$ 20 bilhões no balanço de 2022 e anos anteriores, a Americanas enfrenta agora a restrição de crédito. Seu caixa desabou de R$ 8 bilhões para apenas R$ 800 milhões. Com isso, a varejista estaria cada vez mais perto de um pedido de recuperação judicial, segundo fontes próximas ao processo.
Na noite desta quarta-feira (18), a Americanas informou que a “compensação dos credores contra o caixa da companhia prejudica sua viabilidade”, acrescentando que o Bradesco reteve mais R$ 450 milhões. Ainda assim, ela assegura que continua a buscar uma solução com os credores financeiros.
“A companhia segue na busca por uma solução de curto prazo com os seus credores, para manter seu compromisso como geradora de milhares de empregos diretos e indiretos, amplo impacto social, fonte produtora e de estímulo à atividade econômica, além de ser uma relevante pagadora de tributos. A Americanas espera que os credores também se comprometam na busca de soluções”, afirmou em nota.
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Mais cedo, o BTG Pactual conseguiu reverter na Justiça decisão que o obrigava a devolver à Americanas R$ 1,2 bilhão. O valor diz respeito a uma disputa judicial travada entre o banco e a varejista desde que a Americanas conseguiu, na Justiça, suspender execuções de dívida por um prazo de 30 dias.
A decisão, tomada no dia 13, tinha caráter retroativo e começou a valer no dia 11, quando a empresa revelou o problema contábil de R$ 20 bilhões.
Efeito no crédito
A disputa travada entre a varejista e os bancos é crucial para se chegar a uma solução para a crise. Na esteira do BTG, outros bancos foram à Justiça:Banco Votorantim, Bank of America e, ontem, o Goldman Sachs.
No desenrolar da crise, as incertezas surgidas sobre a capacidade financeira da Americanas já surtem efeitos na cadeia de fornecedores. Parte deles, conforme reportagem publicada ontem pelo GLOBO, optou por suspender entregas de mercadorias à varejista ou a exigir pagamento à vista por remessas de seus produtos.
Agora, a queda de braço com os bancos levou a uma restrição de crédito à companhia. Quando pediu a tutela de proteção contra pagamentos antecipados de dívidas, a Americanas afirmou que dispunha de R$ 8 bilhões em caixa. Alertava, porém, que esse montante poderia ser consumido se as instituições financeiras liquidassem seus créditos antes do prazo.
“O vencimento antecipado de obrigações financeiras acarretará, portanto, um efeito cascata, o que poderá colocar as Requerentes em situação pré-falimentar”, sustenta o texto da petição. Isso levaria ao que se pode considerar como o plano B da empresa, que seria entrar em recuperação judicial. O plano A seria fechar o acordo com os credores, equacionar o caixa e seguir com as operações.
A situação do caixa da varejista, porém, se agravou. Já na segunda-feira, os bancos cortaram linhas de antecipações de recebíveis para a Americanas. Estes consistem em créditos concedidos para adiantar pagamentos a serem recebidos futuramente pela varejista, o que afeta o caixa da companhia. Esse freio poderia ter reflexo de quase R$ 3 bilhões, conta uma fonte. Outra pessoa próxima às transações considerou uma surpresa a medida tomada pelo Bradesco.
Além disso, a vitória do BTG na Justiça pode abrir caminho para que outras instituições consigam acesso aos valores que têm a receber. A Americanas vai recorrer da decisão que permitiu ao BTG executar um bloqueio no valor de R$ 1,2 bilhão, correspondente à compensação de créditos. Segundo uma fonte, “os bancos estão empurrando a empresa” para uma recuperação judicial.
Até o momento, diz um executivo de um dos bancos credores, as instituições não estão conversando entre si, já que todos tentam reaver seus créditos. Ele acrescenta que a Americanas ainda não buscou conversar com os credores desde que nomeou o banco Rotschild como intermediador para essas negociações.
Goldman entra na Justiça
O Goldman Sachs também entrou com recurso na Justiça do Rio pedindo a suspensão da proteção de 30 dias dada à varejista. O banco argumenta ter direito a pedir o vencimento antecipado de seus “contratos de derivativos”, que são contratos baseados em outros ativos.
O Goldman diz ainda que, desde o estouro da crise, o valor de mercado da dívida do Grupo Americanas aumentou em aproximadamente US$ 15 milhões, ou quase R$ 77 milhões. Portanto, argumenta, “o atraso pode ser extremamente prejudicial para todas as partes envolvidas.”
O banco afirma ainda que o vencimento antecipado das transações de derivativos não implicará o pagamento imediato, ou bloqueio, de qualquer valor.
Ainda que parte do mercado avalie que a atuação dos bancos esteja empurrando a varejista para uma recuperação judicial, esta não é a melhor solução para nenhuma das partes.