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Varejo

Americanas: fatia de trio de bilionários pode chegar a 49,3%

Jorge Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles têm hoje 30.1% das ações da varejista, que passa por assembleia de credores nesta tarde

Loja AmericanasLoja Americanas - Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

O trio de bilionários Jorge Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, que hoje são os acionistas de referência da Americanas, pode aumentar sua fatia na varejista dos atuais 30,1% para até 49,3%. A informação foi compartilhada na tarde desta terça-feira por Camille Faria, diretora financeira da companhia. Ela faz uma apresentação dos detalhes do plano de recuperação judicial da empresa durante a assembleia geral de credores.

O aumento da participação dos acionistas de referência faz parte de uma das premissas do plano de recuperação judicial, que prevê um aumento de capital. O trio de bilionários se comprometeu a aportar R$ 12 bilhões em novos recursos. Outros R$ 12 bilhões serão provenientes de dívidas dos credores que serão convertidas em ações. Nesse caso a capitalização chega a R$ 24 bilhões, com a participação do trio chegando a 49,3%. Os credores passarão a ter 48,2%, além de 2,5% por atuais acionistas da varejista.

Camille explicou ainda que os acionistas atuais da Americanas terão direito de preferência para participar do aumento de capital. Nesse caso, se todos aderirem, a capitalização poderia chegar a R$ 25,8 bilhões. Com isso, o trio de acionistas passaria a ter 46% das ações, seguido de 45% dos credores e 9% dos demais acionistas atuais.

Segundo a diretora, em um acordo firmado entre credores e acionistas, os atuais acionistas de referência terão de ficar com as ações pelos próximos três anos, tendo o "controle da empresa".

A assembleia assembleia geral de credores conta com quórum de 97,36% e começou por volta das 14h20. São mais de 430 credores presentes no evento, que foi transmitido pelo YouTube.

A crise na empresa começou em janeiro deste ano, após o ex-presidente Sergio Rial, que ficou apenas nove dias no cargo, ter anunciado inconsistências contábeis de R$ 20 bilhões. Com isso, a varejista entrou em recuperação judicial e foi palco de disputa entre seus acionistas e credores. A Americanas acumula dívidas que superam R$ 50 bilhões. O plano de recuperação judicial (PRJ) é importante para a companhia se reestruturar e voltar a crescer.

- O PRJ representa o resultado do esforço conjunto do colegiado, credores, assessores financeiros, acionistas e companhia para sanar a estrutura de capital da Americanas e pavimentar um caminho de reconstrução e retorno à geração de valor para todos. O PRJ é uma peça sofisticada e foi minuciosamente pensado para endereçar a complexidade da dívida e as particularidades da operação da Americanas. Foi arduamente discutido em todas as suas nuances e assim contempla o melhor formato possível para equilibrar passivos e destravar um crescimento sustentável -disse Leonardo Coelho Pereira, CEO da Americanas, no início da assembleia.

Com a crise que se arrastou ao longo do ano, a empresa foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados, que apontou que bilhões de reais em contratos de financiamento bancário, através do mecanismo de "risco sacado" (ou forfait, operação que consiste no financiamento de fornecedores pelos bancos) estavam fora do balanço ou contabilizados indevidamente.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também abriu investigações. Além disso, a B3 suspendeu a Americanas do Novo Mercado, segmento da Bolsa onde são negociadas as ações de empresas com alto padrão de governança corporativa, por tempo indeterminado.

Antes de começar a assembleia, a empresa já havia assinado acordo com 57% dos credores financeiros. O percentual foi alcançado após o entendimento com o Banco Safra, uma das instituições financeiras mais reticentes, que assinou o acordo de adesão ao plano, juntando-se, assim, ao Bradesco, Itaú, Santander, BTG Pactual, Votorantim e Banco Daycoval.

Os credores financeiros, grupo que tem bancos, debenturistas, outros detentores de títulos e fornecedores - e são chamados de quirografários -, representam a maior parte das dívidas da companhia, de R$ 49,9 bilhões. O total da dívida é de R$ 50,1 bilhões.

O que a companhia propõe?
O plano, apresentado pela varejista, prevê um aumento de capital de R$ 24 bilhões, dos quais R$ 12 bilhões serão injetados pelos acionistas de referência da companhia (Marcel Telles, Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira) e outros R$ 12 bilhões se referem à conversão de dívidas em novas ações.

O plano firmado com os credores prevê que a capitalização da Americanas tenha um valor de ação que corresponde a 1,33 vezes o preço médio negociado nos últimos 60 dias até a véspera da data da assembleia.

Balanços revisados com prejuízos
No dia 16 de novembro, a Americanas informou que, após os ajustes contábeis para afastar os efeitos artificiais da fraude nos números, o prejuízo da empresa foi de R$ 6,2 bilhões em 2021. Em 2022, as perdas chegaram a R$ 12,9 bilhões, o maior da história. No entanto, para os acionistas, até janeiro esta era uma empresa lucrativa e promissora.

Veja as condições do plano proposto pela Americanas para os credores de diferentes classes:

Classe 1 - Trabalhista (ex-funcionários com remuneração e encargos a receber)

Total da dívida: R$ 82,9 milhões

Pagamento em até 30 dias após a homologação do plano sem nenhum condicionante

Classe 3 - Quirografários (bancos, debenturistas, bondholders e fornecedores)

Total da dívida: R$ 49,9 bilhões (sem os créditos entre as empresas do grupo, o valor é R$ 42,3 bilhões)

Para bancos, debenturistas e bondholders, haverá aumento de capital de R$ 12 bilhões (com troca de parte da dívida por novas ações); troca de dívida reestruturada por novas debêntures e pagamento antecipado com corte, cujo deságio dependerá da adesão.

Fornecedor padrão: Credores de até R$ 12 mil serão integralmente pagos em parcela única, sem deságio e sem correção, em até 30 dias contados após a homologação do plano. O mesmo vale para credores que aceitarem receber R$ 12 mil mesmo tendo valor maior a receber.

Fornecedor colaborador (que retomou o fornecimento e as condições comerciais e concorda em voltar a dar prazo) terá tratamento especial e a companhia direcionará até R$ 4 bilhões para atendê-los. Se não for suficiente, o restante terá tratamento de fornecedor padrão.

Fornecedor de tecnologia terá a mesma condição do fornecedor colaborador: a companhia direcionará até R$ 100 milhões para atendê-los. Se não for suficiente, o restante terá tratamento de fornecedor padrão.

Restante dos fornecedores (isto é, os fornecedores padrão, exceto os grupos colaborador e de tecnologia) terá deságio de 50% e pagamento em 48 parcelas.

Para aceitar as condições, todos os fornecedores terão de assinar um compromisso de não litigar. Quem quiser litigar pode ir para Opção I (70% de deságio e pagamento em 15 anos) ou se não fizer nada vai para "default" (80% de deságio e pagamento em 20 anos).

Todos podem participar ainda de um leilão reverso que será feito pela empresa, se tiverem compromisso de não litigar, com desconto mínimo de 70%.

Classe 4 - Microempresas e empresas de pequeno porte

Total da dívida: R$ 180,2 milhões

Pagamento em até 30 dias após a homologação do plano sem nenhum condicionante.

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