Americanas fechou 121 lojas este ano e pode encerrar até outras 60, diz presidente da empresa
Leonardo Coelho Pereira, CEO da varejista, detalha nova estratégia de mix de produtos em pontos de venda
Após a Americanas ter, finalmente, divulgado prejuízo de quase R$ 20 bilhões em 2021 e 2022, a companhia já mira os próximos passos com uma maior oferta de produtos de baixo valor em seus pontos de vendas espalhados Brasil afora, revela Leonardo Coelho Pereira, CEO da varejista. Em entrevista ao Globo, o executivo revelou que ainda está pagando os fornecedores à vista e que esse ano fechou 121 lojas.
"Mas vem mais coisas pela frente? Talvez, mas não imagino que venha algo maior do que 50 a 60 lojas, que seriam fechadas não pela questão de caixa, mas simplesmente porque o aluguel está caro demais ou as vendas naquela região não vão acontecer", afirmou.
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Ele revela ainda que a empresa já conta com o aval da maior parte dos credores para aprovar o plano de recuperação judicial, cuja data deve ser anunciada até o fim da próxima semana. Além disso, promete o balanço de 2023 para o dia 29 de dezembro.
Como a empresa vai reduzir o endividamento bruto dos R$ 37,3 bilhões para algo entre R$ 1 bi a R$ 1,5 bi em 2025? Qual é o desafio?
Essa meta é decorrência quase que imediata da aprovação do plano de recuperação judicial nos termos de hoje. E quão perto estamos disso? As conversas com os credores estão bastante adiantadas. Por essa razão que a gente tem dito que a Assembleia Geral de Credores deve acontecer ainda em 2023 por mais agressivo que seja essa estimativa. Os credores estão muito próximos de encerrar essas discussões e levarmos para a aprovação.
E quando a empresa deve ter essa data?
No final da próxima semana provavelmente vamos ter a data da assembleia.
E qual é a proporção de credores que estão satisfeitos? O que falta?
Não falta nada. O que se discute agora é a redação para os termos jurídicos do acordo. Isso não significa que todos os credores estejam "on board" porque a gente não tem condição de pagar a todos os credores, pois seria pagar R$ 42 bilhões. A gente não tem esse dinheiro, mas é uma aprovação razoável. Eu diria que a maior dos credores mais relevantes estão "on board". Quando se olha pela ótica de valor, dá para dizer que mais de 60% dos valores que estão na recuperação judicial já estão alinhados com esse plano de recuperação judicial que foi apresentado.
E qual é a diferença desses cerca de R$ 42 bilhões para a dívida bruta de R$ 37,3 bilhões?
Dentro dos R$ 42 bilhões, estão os R$ 37,3 bilhões de dívida financeira. Outra parte é a dívida com fornecedores e mais um parte da classe I, que é a trabalhista. E só não conseguimos pagar a todos os credores trabalhistas porque alguns credores entraram com medida judicial e só conseguimos pagar cerca de metade.
Quando olhamos para o plano de recuperação judicial, muitos consumidores se mostram preocupados com a questão das lojas. Quantas já fecharam e quais as perspectivas de fechamento?
Foram encerradas 121 lojas dentro desse ano de 2023. Se você considerar que a gente está em recuperação judicial e em crise, não é tanta tanto fechamento de lojas. Mas vem mais coisas pela frente? Talvez, mas não imagino que venha algo maior do que 50 a 60 lojas, que seriam fechadas não pela questão de caixa, mas simplesmente porque o aluguel está caro demais ou as vendas naquela região não vão acontecer ou não têm capacidade de acontecer ou porque o nosso mix de produto não tem nada a ver com aquela região. Mas seriam fechadas por questões operacionais e não por questões de liquidez.
E qual é o plano para Black Friday e Natal? Como está a negociação com os fornecedores?
A gente colocou produtos em todas as lojas. Nossa equipe de marketing voltou a fazer propaganda bastante forte. A Black Friday está andando normalmente e até mais organizado do que no ano passado. Em 2022, a gente estava forte em categorias com ticket alto, margem baixa e que demandavam financiamento e frete grátis. Esse ano estamos fazendo um movimento diferente. Vamos ter obviamente essas categorias, mas estaremos mais focados em categorias nas quais o consumidor fala 'vou comprar um Kit Kat'. Vamos ter notebook, mas será só no digital.
E o que vai ter além do chocolate?
Na primeira parte do ano, como a gente tinha uma incerteza muito grande, a movimentação que a gente fez foi fazer apostas em categorias que claramente o consumidor ia procurar a Americanas. Focamos em bomboniere, guloseimas e limpeza. Continuamos vendendo celular, mas com pouco mais de de cuidado. E acabamos fazendo uma liquidez muito boa e conseguiu entrar depois no segundo e terceiro trimestres com desenho de ampliar o mix, como eletroportátil, utilidades domésticas, brinquedos, vestuário, que é uma categoria que a gente está revigorando agora, e saudabilidade.
Com os fornecedores, o pagamento ainda é à vista?
O grosso continua à vista. O pagamento à vista hoje não incomoda tanto a gente pela questão do DIP (financiamento) que foi colocado e, principalmente, porque esses fornecedores que têm vendido para gente à vista, grande parte deles será fornecedor colaborador no futuro. Então, basicamente passada e aprovada a recuperação judicial, a gente já volta a ter prazo com esses fornecedores até como decorrência da cláusula de fornecedor colaborador, e eles estão aceitando isso.
De que forma a auditoria não ter dado o parecer para o balanço prejudica esse processo?
O fundamento da abstenção de opinião da auditoria vem pelo fato de a companhia estar em recuperação judicial. E como ela ainda não tem um plano aprovado, por norma, a auditoria tem que dar uma abstenção de opinião. As ressalvas para 2022 referem-se a estoques. Todo o resto a auditoria fez testes e entregou estimativas. Para fazer a mensuração dos estoques em 2022, teria que medir no passado. Para isso, pega-se a última medição possível, que é 2023, e começa a voltar contabilmente, como o que foi comprado, vendido e o que foi perdido. E esse movimento é trabalhoso. E agora em dezembro vou fazer um inventário e saber o que tem em estoque.
E quando sai o balanço de 2023?
Sai em 29 de dezembro, com o primeiro, segundo e o terceiro trimestre.
É verdade que ex-diretores da companhia ajudaram na elaboração da publicação dos balanços de 2021 e 2022?
Tem uma uma ampla gama de investigações acontecendo, com Ministério Público Federal, Polícia Federal, CVM, B3 e o Comitê Independente de Investigação (da empresa) também está atuando no caso. Tudo aquilo que se refere à delação corre em segredo de justiça e obviamente que a gente aqui não conhece. Com relação à participação ou não de ex-diretores no trabalho de refazimento dos balanços, por essa questão da do sigilo, a gente não pode comentar.
Como a companhia vai recuperar o valor de mercado?
Passado o plano de recuperação judicial, vamos ter capacidade de ter uma estrutura de capital equilibrada, com a expectativa de um Ebitda (geração de caixa operacional) de R$ 2,2 bilhões para 2025.
E a venda de ativo será só em 2025?
Pode ser 2025, mas pode ser de 2023 a 2026. Não tem um timeline específico para a venda. Eventuais compradores entenderam equivocadamente que essa era uma venda de liquidação. E não é. A gente conseguiu, com aporte dos acionistas de referência e agora com as conversas com os credores, gerenciar bem a liquidez. A gente não precisa vender esses ativos porque a gente está com a liquidez apertada. Então, vamos deixar a previsão de venda desses ativos dentro do nosso plano de recuperação judicial e que sejam condizentes com o valor desses ativos.