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Analistas veem risco de ingerência do governo na Petrobras, com nova política de preços

'Existe o risco de voltarmos ao passado onde custos eram absorvidos pela empresa', diz especialista da Mackenzie. Presidente da estatal nega interferência

PetrobrasPetrobras - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A nova política de preços para gasolina e diesel, anunciada pela Petrobras nesta terça-feira, pode aumentar o risco de uma possível interferência do governo na decisão de reajustar os combustíveis, como já ocorreu no passado, causando perdas bilionárias para a estatal, de acordo com especialistas ouvidos pelo Globo.

Os especialistas dizem ainda que esse novo modelo de precificação, baseado nos custos domésticos, pode gerar um problema concorrência, ao afastar a concorrência do setor privado, que se baseia principalmente nas cotações internacionais do petróleo.

Segundo Marcelo de Assis, diretor de exploração e produção (Upstream) da consultoria Wood Mackenzie, há o risco de o Brasil voltar ao passado, quando os custos eram absorvidos pela empresa por determinação do governo federal, sobretudo na gestão de Dilma Rousseff do PT.

- Assumindo que a paridade foi abolida e que a Petrobras menciona que vai evitar repassar a volatilidade de preços, existe o risco de voltarmos ao passado onde custos eram absorvidos pela empresa e, no final, pelo contribuinte brasileiro - disse Assis.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, negou que as mudanças levarão a uma maior interferência no governo.

Para os especialistas, o atual ambiente é favorável para redução de preços da Petrobras, já que o petróleo está no patamar de US$ 75 por barril e o real, valorizado, abaixo dos R$ 5. Segundo Assis, o governo está querendo incentivar o consumo de carros e ao mesmo tempo interferindo nos preços de mercado.

- Mas ainda seguimos num ambiente volátil com mudanças bruscas da cotação internacional e mudanças do câmbio podem pôr à prova essa nova política de preços. Infelizmente, sob certos aspectos, estamos num déjà vu de algo que aconteceu anos atrás. Da última vez não terminou bem. O problema é qual vai ser a sustentabilidade a médio e longo prazos.

Décio Oddone, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e presidente da Enauta, também ressalta o desafio para a sustentabilidade dessa nova política em um cenário de alta nos preços do exterior:

- O que importa é manter os preços alinhados ao mercado internacional. Com o tempo vamos ver como vão se comportar na prática. É isso que interessa - disse ele.

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Segundo Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, empresa especializada na produção de relatórios e análises de preços para o mercado de combustíveis, há, sim, risco de interferência do governo:

- Na visão dos agentes do mercado, este risco existe sim, já que ao multiplicar os critérios e acrescentar fatores inerentes à operação da Petrobras na definição do preço, abre-se um espaço que justifique manter inalterado ou até reduzir o preço em um momento que as cotações internacionais sobem - diz ela.

A aplicação da nova política é imediata. Nesta quarta-feira, os preços de gasolina e diesel vão cair nas refinarias em 12,6% e 12,8%, respectivamente.

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