Apesar de oposição de Bolsonaro, 1 a cada 5 deputados do partido do ex-presidente votaram a favor
Entre os parlamentares que votaram pela mudança na cobrança dos impostos estão Antonio Carlos Rodrigues e Wellington Roberto
Apesar do posicionamento contrário do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), um a cada cinco deputados do partido votou a favor da Reforma Tributária nesta quinta-feira (6), durante votação em primeiro turno da proposta na Câmara dos Deputados.
Além da derrota na votação, a quantidade de deserções dentro do partido reforça um momento de enfraquecimento do capital político de Bolsonaro, declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O PL tem a maior bancada da Câmara dos Deputados. Dos 95 parlamentares que votaram na sessão desta quinta-feira, entretanto, 20 contrariaram a orientação do partido e o pedido público de Bolsonaro e votaram a favor da proposta, aprovada com 382 votos a favor.
Em razão do tamanho da bancada do PL, o número de deputados que votou contra é considerável: partidos da base do governo, como o PSB, partidos do ministro Flávio Dino, da Justiça, e do vice-presidente Geraldo Alckmin, deu 15 votos a favor. Outro partido da base, o PDT, deu 16 votos favoráveis à reforma tributária.
O resultado demonstra uma divisão clara dentro do partido do presidente e uma perspectiva de que a parte da bancada do PL está ao alcance do governo, ao menos em algumas pautas da Câmara. Desde que deixou o cargo, Bolsonaro não tinha colocado seu capital político de forma tão clara em nenhuma votação do Congresso Nacional, e amargou uma derrota interna em um momento de fragilidade política com a sua inelegibilidade.
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Nesta quinta-feira, durante encontro na sede do partido, em Brasília, Bolsonaro chegou a dizer que se o partido votasse junto, a reforma tributária não seria aprovada.
O pedido do ex-presidente não foi ouvido. Entre os deputados que votaram a favor da proposta estão parlamentares da ala mais moderada do partido, que contam com bom trânsito na Câmara dos Deputados, como Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), que já foi ministro no governo Dilma. Wellington Roberto (PL-PB), outra liderança do partido, também foi favorável à proposta, assim como Zé Vitor (PL-MG), outro parlamentar que circula bem nos corredores do Congresso. Além deles, nomes famosos também estão na lista, como Tiririca (PL-SP) e Josimar Maranhãozinho (PL-MA).
A derrota interna de Bolsonaro ocorre logo após o ex-presidente ser declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em razão do ataque às urnas eletrônicas durante reunião com embaixadores. Além disso, Bolsonaro se opôs publicamente durante o dia com outra liderança do campo da direita e um dos cotados a liderar a oposição em 2026, Tarcísio de Freitas.
O governador de São Paulo veio a Brasília e se envolveu pessoalmente na negociação da reforma. Na quarta-feira, chegou a dar uma declaração pública ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Tarcísio defendeu uma postura menos agressiva em relação à pauta, defendendo sua aprovação e justificando que a direita não poderia abrir mão de uma bandeira tão importante quanto a reforma tributária.
Logo após a reunião fechada, Bolsonaro e Tarcísio foram a um encontro com a bancada do PL. No trecho da gravação que veio a público, Bolsonaro interrompeu a fala de Tarcísio e disse que o “PL, unido, não aprova nada”.
A articulação de Tarcísio, contudo, deu resultado: o relator da proposta na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), acolheu as mudanças propostas não só por governadores, mas também por outros setores simpáticos ao Bolsonaro, como o agronegócio, garantindo uma votação expressiva para a proposta.