Após chamar reeleição de 'tragédia', Guedes diz que fica em eventual novo governo de Bolsonaro
Ministro da Economia afirma que tem disposição para ajudar
Mesmo se declarando contra a reeleição para presidência e classificando-a como uma "tragédia", o ministro da Economia Paulo Guedes disse que está disposto a ajudar num eventual segundo governo do presidente Jair Bolsonaro. Guedes participou de um evento da consultoria política Arko Advice com o TC (Traders Club) e foi perguntado se continuaria no cargo.
O ministro afirmou que se a aliança de centro/direita que apoia o presidente vencer e mantiver objetivos como privatização, redução de impostos, como o IPI, e aprofundamento do 'choque de energia barata' , ele está disposto a continuar.
— Estarei com 73 anos e continuo correndo atrás. Se a aliança mantiver o nosso programa Caminho da Prosperidade, baseado nos princípios liberais, é natural que eu ajude, que eu esteja lá. O que não pode é ter quebra da regra de jogo. A aliança centro/direita avançou, ganhou massa para a capacidade de reforma. A banda está tocando bem. Agora foi a Eletrobras — declarou o ministro, se referindo à aprovação da privatização da estatal de energia pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
No início de sua fala, entretanto, Guedes disse que a reeleição é uma “tragédia” brasileira. Ele afirmou que o ideal seria apenas um mandato único de cinco anos e não uma reeleição a cada quatro anos.
— Se tivesse tido um mandato de Fernando Henrique, um de Lula e um de Dilma, dava para ter um Bolsonaro. Agora, com duas Dilmas, dois Fernando Henriques e dois Lulas, talvez precise de dois Bolsonaros — afirmou.
Guedes defendeu ainda que Bolsonaro faça uma reforma política em caso de reeleição.
— Cá para nós, tomara que o presidente faça uma reforma política: cinco anos, mandatos sincronizados. Faz política uma vez a cada cinco anos — disse.
O ministro afirmou que o "toma-lá-dá-cá" na política brasileira começou na compra do mandato para reeleição no então governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
— É uma tragédia brasileira. É melhor que houvesse um mandato de cinco anos, sem reeleição. Eu sempre fui a favor de acabar com a reeleição — declarou.
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Guedes afirmou que uma das principais preocupações na economia, atualmente, é o rompimento das cadeias globais de produção, primeiro com a pandemia de Covid-19 e depois com a guerra na Ucrânia.
— Primeiro veio a pandemia. Todos os países fizeram programas sociais. A demanda ficou forte e a oferta contida. Depois a guerra. Rússia é energia e Ucrânia alimentos. Os preços subiram. A demanda ficou forte e a oferta contida. E veio a inflação, que é mundial. Países como Holanda, Inglaterra estão indo para o inferno. Nós já saímos do inferno. Sabemos como sair do fundo do poço. Aqui o Banco Central, que ganhou independência, já sabe como trabalhar. Os BCs lá fora estão dormindo — disse o ministro em relação à elevação contínua da taxa básica de juros (Selic) no Brasil para 12,75% ao ano para tentar conter a alta de preços.
No Brasil, a inflação acumulada em 12 meses está em 12,13%. Na Inglaterra, o índice que mede o aumento dos preços ao consumidor subiu 7,8% no mesmo período.
O ministro também apontou que é crítico o momento atual, do ponto de vista da reconfiguração das cadeias globais.
— Isso tem papel decisivo no futuro do Brasil — afirmou.
Ele afirmou que o Brasil tem um 'pipeline' de R$ 830 bilhões em investimentos, e que as empresas pagaram R$ 150 bilhões em outorgas ao governo para terem o direito de investir esse montante em contratos de concessões de infraestrutura.
Segundo Guedes, esse valor representa investimento de R$ 80 bilhões por ano, ao longo da próxima década. Trata-se der um volume de recursos equivalente a dez vezes o orçamento para a pasta da Infraestrutura, disse.
— Essa estratégia de campeões nacionais, subsídios, já foi tentada à exaustão — disse Guedes, criticando o modelo utilizado nos governos do PT, quando os investimentos privados eram amparados pelo Estado via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Guedes avaliou que o Brasil colhe os resultados das mudanças na condução da economia, mas admitiu que há no momento um componente cíclico de desaceleração econômica. Mas, ao mesmo tempo, há um componente estrutural de aceleração da atividade, afirmou.