Após considerar fechar fábricas, Volkswagen abandona acordo trabalhista e abre caminho para cortes
Empresa vem alertando que precisa reestrutura marca para permanecer competitiva diante da queda na demanda e crescente concorrência da China
A Volkswagen informou aos líderes sindicais nesta terça-feira (10) que estava encerrando um acordo trabalhista que protegia os trabalhadores de demissões, uma semana depois de a montadora dizer que estava considerando fechar fábricas na Alemanha em meio à queda nas vendas e ao aumento dos custos.
A empresa alertou na semana passada que precisava reestruturar sua marca principal para permanecer competitiva diante da queda na demanda na Europa e no exterior, além da crescente concorrência da China.
As medidas de redução de custos podem incluir o fechamento de uma ou duas fábricas de montagem na Alemanha, o que seria um fato inédito na história de 87 anos da montadora.
Na terça-feira, a Volkswagen afirmou em comunicado que a decisão de abandonar o acordo que oferecia segurança no emprego a cerca de 120 mil trabalhadores, juntamente com vários outros acordos trabalhistas, era necessária para garantir o futuro da empresa.
“Devemos colocar a Volkswagen em uma posição de reduzir os custos na Alemanha a um nível competitivo para investir em novas tecnologias e novos produtos com nossos próprios recursos,” disse Gunnar Kilian, chefe de recursos humanos e trabalho da Volkswagen, no comunicado.
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O acordo de segurança no emprego entre a Volkswagen e o sindicato IG Metall, que representa trabalhadores da indústria automotiva e outras indústrias pesadas, existe desde 1994. Ele havia oferecido proteção contra demissões até 2029, mas a empresa poderia encerrá-lo com três meses de aviso prévio.
O acordo permanecerá em vigor até o final do ano, e, através de garantias oferecidas por outros acordos trabalhistas, as demissões só poderiam começar a partir de junho de 2025, afirmou a Volkswagen.
Daniela Cavallo, que lidera o conselho de trabalhadores da Volkswagen e é membro do IG Metall, prometeu que o sindicato lutaria para defender o acordo trabalhista.
“Resistiremos ferozmente a este ataque histórico aos nossos empregos,” disse Cavallo em um comunicado. “Com a gente, não haverá demissões.”
A Volkswagen quer economizar 10 bilhões de euros até 2026 para atingir sua meta de lucro de 6,5%. Mas está perdendo terreno para os fabricantes de veículos elétricos na China e sentindo cada vez mais a pressão em casa à medida que esses fabricantes expandem suas operações na Europa.
Novas empresas, muitas delas chinesas, tomaram 6% do mercado na Europa Ocidental nos últimos quatro anos, "levando a um mercado menor com uma situação de batalha real por participação de mercado", escreveu Matthias Schmidt, analista automotivo em Berlim, em uma nota.
Sob crise
A Volkswagen disse que também estava encerrando outros acordos trabalhistas, incluindo um que a obrigava a oferecer posições permanentes a todos os trainees vocacionais e aprendizes da empresa, além de um acordo que oferecia salários acima da média da indústria automotiva para funcionários temporários.
A decisão de abandonar os vários acordos reflete a gravidade da situação para a Volkswagen, que passou décadas construindo sua marca em torno da imagem de qualidade superior associada à engenharia alemã, disse Helena Wisbert, professora de economia automotiva e diretora do Centro de Pesquisa Automotiva em Duisburg, Alemanha.
“A Volkswagen opera em um mercado muito sensível ao preço, mas até agora conseguiu cobrar um valor adicional por seus custos de produção mais altos na Alemanha como um ‘selo Made in Germany’, já que a Volkswagen sempre foi associada à qualidade”, disse Wisbert.
“Esse cálculo não funciona mais porque os mercados não estão se desenvolvendo como esperado e a concorrência aumentou significativamente.”
Espera-se que a Volkswagen e o sindicato comecem negociações sobre um novo acordo salarial neste outono. O sindicato está buscando um aumento salarial de 7%, além de outras demandas, incluindo evitar o fechamento de fábricas.
Mas o fim do acordo de proteção ao emprego significa que, a menos que as duas partes cheguem a um novo acordo, os funcionários contratados antes de 2005 serão elegíveis para salários e benefícios que se aplicavam há 20 anos, o que o sindicato estima que poderia chegar a “milhões” de dólares.
Essa situação prejudicaria os esforços da empresa para voltar à lucratividade, o que significa que demissões "não podem ser descartadas", disse a Volkswagen em um comunicado.
O Grupo Volkswagen emprega cerca de 650 mil pessoas em todo o mundo e possui 10 marcas, incluindo Porsche e Audi.
Na semana passada, a empresa informou aos líderes sindicais de uma fábrica em Bruxelas que não planejava continuar a produção de seu modelo Q8 lá além de 2025. Se a empresa decidir não produzir um novo modelo na fábrica, ela será fechada e 3 mil empregos serão perdidos.