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Após governo afrouxar ajuste fiscal, Campos Neto diz que sempre defendeu meta

Dois dias após governo mudar a meta para o resultado das contas públicas, presidente do BC afirma em Washington que 'se você perde a credibilidade, torna mais custoso o trabalho'

O presidente do Banco Central, Roberto Campos NetoO presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - Foto: Raphael Ribeiro/BCB

O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira que a mudança de alvo para o resultado das contas públicas aumenta o cenário de incerteza sobre o controle fiscal no Brasil.

Na última segunda-feira, o Executivo fixou como zero (ou seja, receitas iguais às despesas) a meta de resultado das contas no próximo ano. Até então, o governo trabalhava com um superávit (receitas superiores às despesas) de 0,5% para 2025, ou R$ 61 bilhões de saldo positivo nas contas.

Para Campos Neto, a incerteza sobre a âncora fiscal deixa mais custoso o trabalho para o controle da inflação.

— O problema é que, temos mencionado isso, a âncora fiscal (contas públicas) e monetária (objetivos de inflação) são muito relacionadas. Se você perde credibilidade ou se você está indo para um cenário de maior incerteza sobre o âncora fiscal, isso torna mais custoso o trabalho do outro lado — afirma, em relação ao trabalhado do BC na trajetória de juros para o controle da inflação.

A perspectiva é que a expansão fiscal, além de aumentar a incerteza sobre a trajetória da dívida, gera pressão na demanda por maior consumo. Isso, consequentemente, impacta nos preços. Se houver uma expectativa de inflação maior, o Banco Central pode retardar o ciclo de queda de juros.

— Nós sempre defendemos que se deveria permanecer com a meta e fazer o que fosse necessário para atingi-la. Entendemos que houve uma necessidade de mudança — disse.

No último ano do governo Lula, a equipe econômica está prevendo um superávit de 0,25% em relação ao PIB ou R$ 33,1 bilhões.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária, em março, o Banco Central reduziu a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano. Uma sinalização recente foi a tendência de ritmo menor de queda da taxa de juros a partir de junho.

— Parte da deterioração (das expectativas) tem, diferente de outros países, e ao menos parcialmente, essa explicação (sobre fiscal). Temos outros ruídos, como Petrobras, Vale, etc. Mas parte disso está relacionado à percepção de que a revisão do fiscal faz da sustentabilidade da dívida um objetivo mais difícil de atingir — afirmou o presidente do BC.

Impacto nos juros
Para definir a taxa básica de juros, a Selicm e tentar conter a alta dos preços o BC faz projeções para saber se as estimativas estão em linha com as metas. A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.

Campos Neto observou que a piora no cenário externo, juntamente com a alteração das metas para as contas públicas, aumentaram as incertezas em relação à última reunião do Copom, realizada em março.

Com juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos, percepção que se consolidou no mercado financeiro nas últimas semanas, há um impacto sobre o dólar no Brasil — que tende a ficar mais pressionado, como vem acontecendo nos últimos dias. E dólar mais alto pode indicar novas pressões sobre a inflação.

O presidente do BC afirmou, ainda, que a instituição fará o que "for necessário" para trazer as expectativas de inflação para as metas definidas pelo CMN.

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