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Artesanato em Pernambuco: informalidade atrasa crescimento

Estado e o Sebrae lançam programa para mapear, formalizar e fortalecer o braço empreendedor dos atores da cadeia produtiva do artesanato

No Estado, o número de artesãos registrados pelo Sicab soma quase 15 milNo Estado, o número de artesãos registrados pelo Sicab soma quase 15 mil - Foto: Freepik

A informalidade na cadeia produtiva do artesanato em Pernambuco é um dos principais entraves para o desenvolvimento de ações estratégicas que ampliem a participação do segmento na economia. No Estado, o número de artesãos registrados pelo Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (Sicab) soma quase 15 mil.

Considerando que muitos produtores não têm acesso ao sistema, seja por falta de informação ou por estarem em áreas mais isoladas, esse número pode ser ainda maior. De acordo com a economista Tânia Bacelar, em Pernambuco, os dados parecem tímidos e isso se explica pelo grau de informalidade do setor.

“Toda a produção cultural tem esse desafio. É um segmento que cria muito emprego, gera muita renda, mas tem uma fatia grande que é informal e as estatísticas não pegam. Por isso, é difícil quantificar os dados sobre o setor”, enfatizou.

Esse é um dos motivos para a atividade não entrar no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), realizado pela Agência de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco CONDEPE/FIDEM. “No estudo do PIB, realizado no Condepe, posso dizer que a atividade não é analisada de forma separada. Há uma necessidade de estudo para coletar informações e atualizar os dados. Não recordo de ter visto estudo recente sobre o artesanato”, disse Tânia. 

Atualmente, os dados mais relevantes são os nacionais. Em 2023, o levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) revelou que, no Brasil, o artesanato produzido por mais de 8,5 milhões de artesãos movimenta cerca de R$ 100 bilhões por ano, o que representa em média 3% do PIB.

Pernambuco Artesão 

Para sanar essa dificuldade, a Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-PE) lançaram o programa Pernambuco Artesão.

A iniciativa será realizada em sete regiões do Estado e conta com uma série de ações que envolve o estudo para o mapeamento da cadeia produtiva do artesanato, seminários, oficinas e palestras sobre empreendedorismo, jornadas criativas e uma articulação para habilitar os produtores a participar mais de feiras e eventos do setor. 

“O artesanato é uma indústria que trabalha com produção e, por isso, merece o mesmo tratamento que outros segmentos da indústria. E para que o setor ganhe a mesma importância precisamos de dados atualizados para traçar as ações. Não existiam dados suficientes para começar esse trabalho”, justificou o diretor-presidente Adepe, André Teixeira Filho. 

A analista do Sebrae-PE, Verônica Ribeiro, explica que a iniciativa é pioneira, considerando a profundidade da pesquisa. Ela enfatiza ainda que é preciso mudar a ideia de que artesão precisa de ajuda, enquanto assistencialismo.

“O artesão é empreendedor e pode crescer com essa atividade no mercado. Com o estudo, teremos um diagnóstico para atualizar os dados que possam gerar informação e inteligência para trabalhar nos próximos programas”, pontuou.

Verônica acrescentou que é preciso investir mais na formalização do setor para que cada artesão tenha acesso a ferramentas que, na prática, auxiliem na produção, nas vendas e tornem a arte como principal fonte de renda.

Empreendedorismo

Há 24 anos, Mestre Nido tem na arte do entalhe sua principal fonte de renda

Uma referência na arte do entalhe, Mestre Nido, de Serinhaém, é um exemplo do quanto cada artesão pode ir longe e ter a sua fonte de renda alicerçada na arte. Há 24 anos, ele se dedica ao artesanato e, desde então, o valor que recebe pelas vendas de suas peças é o que mantém toda a família.

Atualmente, ele produz cerca de 60 peças por ano com valores que variam de R$ 70 a R$ 100 mil. “A Fenearte é o momento que mais vendo e recebo encomendas para o ano todo. Quase 90% das minhas obras são encomendadas. Participo da feira desde 2004. Agradeço primeiro a Deus, depois a Fenearte por eu ter crescido tanto na minha carreira”, contou.

A aposta na arte como meio de vida também motivou Mestre Nido a fundar um instituto escola, na sua cidade, que já formou 486 alunos.

Artesã desde os 12 anos, a ceramista e arte educadora Micaella Alcântara também é uma inspiração de empreendedorismo na arte. Por ano, ela produz cerca de 800 peças, sendo a maioria vendida para o ramo da gastronomia.

“Hoje, minha principal fonte de renda são as vendas das minhas peças e as aulas oferecidas no ateliê. As peças mais procuradas são as utilitárias, xicaras, pratos e cumbucas”, contou a artesã que já capacitou 450 alunos, entre 2020 e 2023.

Micaella Alcântara produz cerca de 800 peças por ano, sendo a maioria para o ramo da astronomia

A arte educadora e ceramista Micaella Alcântara produz cerca de 800 peças por ano | Foto: Felipe Souto Maior / Divulgação

Fenearte
Com um investimento de R$ 15 milhões e a expectativa de movimentação econômica na ordem de R$ 56 milhões, a Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) conta com cinco mil artesãos e expositores, sendo 80% (quatro mil) de Pernambuco, e os demais estandes são divididos entre produtores do Brasil e do mundo.

Apesar de sua importância, e do forte espaço para a produção local, a feira atende menos da metade dos 15 mil artesãos registrados no Estado.

Segundo André Teixeira Filho, os 12 dias da feira é o período em que o artesão ganha visibilidade, impulsiona suas vendas e recebe encomendas para o ano todo. Mas, a ideia é que o setor se fortaleça e caminhe com as próprias pernas, independentemente da feira.

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