As lições da pandemia para os negócios
Especialistas nos diversos setores produtivos afirmam que a crise evidenciou a necessidade de melhor administração e mais união
Permitir a reinvenção do negócio. Esse é o grande lema para a maioria dos setores da economia no período pós-pandemia do novo coronavírus, que trouxe uma forte mudança na realidade das pessoas e também das empresas e indústrias. Segundo especialistas do setor, o uso da tecnologia como uma aliada ao negócio, um bom planejamento financeiro e a higienização de produtos e ambientes são mudanças que estarão presentes na nova realidade.
Nas indústrias, a principal lição deixada pela crise é a da necessidade de um bom planejamento e de uma gestão voltada para o futuro, evitando surpresas em momentos financeiros difíceis nas empresas. Para o gerente de relações Industriais da Federação da Indústria de Pernambuco (Fiepe), Maurício Laranjeira, além desse melhor preparo é preciso intensificar as ações de associação. “A gente vê que as indústrias nesse momento vão ter que prestar atenção no planejamento. Tudo vai ter que ser bem feito: antecipar problemas, conhecer bem o negócio para enfrentar as adversidades. Ter uma boa gestão vai ser primordial para a sobrevivência dessas indústrias. A parte do associativismo também é muito importante. Ter indústrias próximas para lutar pelos direitos e se ajudar para que a vitória seja coletiva”, diz.
Laranjeira, afirma ainda que a logística e a criação de novos produtos são pontos que devem ser tratados com maior prioridade pelo setor industrial. “Estamos vendo, com o comércio fechado, novos modais por conta da pandemia, a adaptação da linha de produção focando mais em álcool 70%, confecções fazendo máscaras para sobreviver e adequar o fluxo de caixa. É ter um jogo de cintura. E um ponto importante é a cadeia de suprimento: a indústria passou muito tempo com matéria de fora, muito da China, e agora tem que ter uma cadeia um pouco mais versátil e ampla. Seria valorizar os fornecedores e parceiros locais”, declarou o gerente da Fiepe.
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Para o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, o setor de tecnologia da informação deve se beneficiar com a alta procura das empresas por tecnologia em todos os segmentos da economia. “Muitas pessoas acreditam que, após esse período, muitas empresas vão buscar soluções com base tecnológica, o que justifica o atual otimismo dos empresários do setor e para depois da pandemia. Quando tudo passar muita coisa vai ter mudado, vai precisar de uma adaptação digital, a indústria vai precisar se transformar, e a pandemia vai fazer com que o choque de realidade de estar em um ambiente virtualmente integrado chegue para os que resistem a isso”, enfatizou.
Outro setor terá sofrerá adaptações após o novo coronavírus, é o turismo. Um grande aprendizado deixado pela pandemia é a questão da higienização. Será necessário um controle mais rigoroso para que o consumidor se sinta confortável com o serviço ofertado, como explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE), Eduardo Cavalcanti.
“Essa pandemia está fazendo uma universidade para todo mundo, no meio cientifico, medico, governamental e no meio empresarial, nunca ninguém passou por isso. A higienização é algo que chegou para ficar. O turismo não vai acabar, ninguém vai deixar de viajar. Mas é preciso manter os hotéis limpos, sanitariamente como se fosse uma UTI de hospital, para transparecer ao cliente, para ele saber que lá vai estar seguro”, explica
Eduardo acredita, no entanto, que uma quantidade considerável de hotéis pode não voltar a reabrir após o período da pandemia, e que os que retomarem às atividades vão precisar de muita disciplina. “Vinte por cento dos hotéis que estão parados não vão abrir, por não ter perna, principalmente os pequenos. Os hotéis de rede, têm um fundo internacional, eles têm mais condições. Vão ter que fazer financiamento, ter uma grande movimentação. Terão despesas pela frente e vaõ ter que pagar as de trás, um grande 'acocho' financeiro para voltar ao patamar que tinham em março deste ano”.
Ainda no setor do turismo, o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), Rafael Ramos, aponta que um aprendizado deixado pela crise está nas relações com o consumidor, na flexibilização dos contratos de pacotes de hospedagem, turismo e passagens aéreas. “O setor de turismo é mais complicado para o meio digital, existe algumas startups que querem implantar a realidade virtual de conhecer outro país, mas esse é um segmento que precisa de um fluxo de pessoas. A única maneira que se pode ver como aprendizado vem na questão dos planos de hospedagem, de passagem aérea, mostrar flexibilidade na operacionalização dos negócios, para pessoas alterarem datas, para não ter um nível alto de cancelamentos. Colocando isso, quando vem uma dificuldade o cliente pensa em adiar ao invés de cancelar”, destaca.
No segmento de comércios e serviços, a grande lição que a pandemia deixa para os empresários e empreendedores do setor é a de que a tecnologia chegou para ficar, como uma grande aliada na relação com os clientes, como conta o economista Rafael Ramos. “Em relação aos lojistas aqui do Recife, o que a gente sente é que se acelerou a transformação digital. Aqui nós temos muito forte a questão familiar, que algumas são resistentes a isso, enquanto outros já trabalhavam dessa maneira mais ligada à tecnologia. Quando veio o isolamento social, o lojista entendeu que ter um só canal de vendas significa que ele não vai sobreviver mais. A pandemia acelerou a transformação digital e a multiplicação dos canais de vendas”, disse.
De acordo com Rafael, agora os lojistas não têm mais concorrentes para a comercialização dos produtos, e se tornar digital será o grande desafio para o empreendedor do meio tradicional de vendas. “O concorrente agora é mundial, vão ter que estar presentes em sites próprios, aplicativos, marketplace, em outros canais, porque com pandemia ou não, ele vai ter que contar com outras vias para escoar o seu estoque. A principal missão para o lojista é se tornar mais digital e ter mais de um canal de vendas. Se ele não tiver um nicho específico e for ampla concorrência é provável que esteja fadado a fechar”, afirmou.
O economista afirma ainda que outro fator de aprendizado deixado pela pandemia diz respeito às reduções de gastos para contribuir com o aumento da produtividade. “Tem outros fatores também, como o aumento da produtividade, cortando algumas despesas isso aumenta. A pandemia está mostrando que deve haver uma mudança no pensamento sobre o que é essencial. Haverá um enxugamento nessas relações, e alguns cortes poderão acontecer”, destacou Rafael.
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