Atividade econômica

Atividade econômica perde força até dezembro, apesar de desempenho positivo no segundo semestre

Juros ainda em patamar alto e redução esperada do desempenho do campo vão pesar sobre resultado global da economia brasileira

Commodities continuarão puxando economia brasileira no segundo semestre. Mas PIB deve perder força, dizem economistasCommodities continuarão puxando economia brasileira no segundo semestre. Mas PIB deve perder força, dizem economistas - Foto: Walter Eugênio/Embrapa

O ritmo da atividade econômica brasileira no início da segunda metade do ano foi considerado positivo por economistas consultados pelo Globo, mas o movimento deve perder força até dezembro por conta de alguns fatores como o forte resultado do agronegócio no primeiro semestre — que não se repetirá até dezembro — e o peso da taxa básica de juros, apesar da perspectiva de queda da Selic.

No mês de julho, o indicador de atividade da economia brasileira medido pelo Banco Central, o IBC-Br, registrou uma variação positiva de 0,44%.

O economista Rafael Perez, da Suno Research, avalia que o resultado é um sinal importante de resiliência da atividade econômica do país. Mas quando se olha para a comparação anual e o acumulado de 12 meses, já é possível notar uma desaceleração.

— No trimestre móvel encerrado em julho, o IBC-Br teve uma queda de 1% e o carrego estatístico para o terceiro trimestre está levemente negativo. Isso contribui para nosso cenário de que devemos ter uma perda de tração para o segundo semestre — afirma.

Juros ainda elevados, cenário global indefinido e o alto endividamento das famílias devem se traduzir num crescimento próximo de zero da economia brasileira no segundo semestre, prevê Perez.

Ele pondera, entretanto, que o setor de serviços será favorecido pela inflação mais baixa. E a expansão da massa salarial e o mercado de trabalho devem se manter aquecidos.

Para o economista da Suno, o ciclo de corte de juros, iniciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC na reunião passada, ainda deve demorar para fazer efeito sobre economia no curto prazo, dado que o patamar ainda está bastante elevado: 13,25% ao ano. Um novo corte de 0,5 ponto percentual deve acontecer nesta quarta-feira.

— Os impactos da política monetária costumam ser defasados e levar mais de 12 meses para serem sentidos. No entanto, a queda da Selic tende a afetar positivamente as expectativas e melhorar a confiança dos consumidores e empresários — observa.

Novas surpresas?
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, avalia que diante do IBC-Br de 0,44% o terceiro trimestre começa bem e ele acredita que pode vir outra surpresa ao longo desse segundo semestre. Para ele, entretanto, o PIB caminha para crescer mais do que 3%, ainda bastante puxado pelas commodities.

— O PIB caminha para crescer mais que 3%, ainda bastante puxado pelas commodities. Nesse segundo semestre, além das commodities, tem a queda de preço de alimentos, que aumenta a renda disponível da população mais pobre, e há o efeito de curto prazo do Programa Desenrola. São elementos que ajudam o PIB este ano, mas não se mantém para o ano que vem. Estamos com previsão de crescimento de 2% em 2024, que é um crescimento mais difuso, menos dependente de commodities e com mais efeito vindo dos outros setores, dessa vez com impacto da queda de juros — diz Vale.

Para 2024, Vale vê como possíveis riscos a pressão fiscal para entregar "mais crescimento do PIB", diante de um ano eleitoral.

Crédito apertado
Rodolfo Margato, economista da XP, diz que o IBC-Br avançou em linha com o que o mercado esperava, mas abaixo das expectativas da XP, que esperava um crescimento de 0,9%. Na variação interanual, o indicador cresceu 0,66% em julho, uma surpresa negativa em relação à projeção do mercado e da própria XP, que esperavam respectivamente alta de 1% e 1,3%.

— Por enquanto, estimamos ligeiro avanço de 0,1% para o IBC-Br em agosto ante julho e expansão de 2% em relação a agosto de 2022 — diz o economista.

Mas, na avaliação de Margato, a atividade doméstica vai desacelerar gradualmente ao longo deste semestre. A dissipação do choque positivo da agricultura, sinais de moderação no mercado de trabalho e condições de crédito ainda apertadas embasam essa previsão.

A XP projeta que o PIB brasileiro crescerá 2,8% em 2023.

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