Aumento da demanda global por minerais estratégicos favorece o Brasil
País detém 94,1% das reservas de nióbio do mundo e 17,5% de terras raras
As indústrias de mineração têm à frente um cenário de crescimento global da demanda, impulsionado pela transição energética e preocupações com segurança alimentar. A expansão da produção pelo setor, no entanto, enfrenta alguns desafios de ordem tributária, geopolítica, financeira e socioambiental.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), nas próximas duas décadas, a demanda global deve aumentar 40% para cobre e terras raras, de 60% a 70% para níquel e cobalto, e quase 90% para lítio. Dados do Ministério das Minas e Energia mostram que o Brasil tem potencial de ser um fornecedor relevante de minerais estratégicos para a transição energética, considerando as suas reservas.
O país detém, por exemplo, 94,1% das reservas de nióbio do mundo, 17,5% das reservas de terras raras, 16,8% das reservas de níquel, e 21,9% da grafita natural.
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— Os minerais críticos e estratégicos são decisivos para a transição energética e não haverá saída para a humanidade, em razão do agravamento da emergência climática, sem considerarmos o crescimento da oferta desses minerais — afirma Raul Jungmann, diretor-presidente do Ibram, na edição de 2024 do Expo e Congresso Brasileiro de Mineração (Exposibram), realizada na semana passada em Belo Horizonte.
Maior importador
Ele acrescenta que a mineração é fundamental para a segurança alimentar:
— Não há possibilidade de se contar com a produtividade brasileira se não tivermos potássio, se não tivermos fosfato.
Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), afirma que o Brasil é o maior importador de fertilizantes do mundo, o que torna nossa segurança alimentar vulnerável a qualquer conflito internacional.
— A guerra entre Rússia e Ucrânia já trouxe incertezas ao mercado — diz Fátima.
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração, as empresas de fertilizantes já anunciaram US$ 5,58 bilhões em investimentos para o período de 2024 a 2028. O avanço dos projetos, no entanto, esbarra em fatores como demora nos licenciamentos e judicialização de licenças ambientais.
Falta ação coordenada
Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente e integrante do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ONU), avalia que o mundo vive uma “poli crise”, com vários questões que têm que avançar simultaneamente para as soluções serem efetivas.
— Você não pode falar de insegurança alimentar dissociada da segurança climática, energética, social, dos direitos civis e da poluição. É preciso conectar tudo para oferecer soluções. Mas os sistemas de governança nacional e internacional não dialogam de forma integrada, dificultando a busca por soluções eficazes — afirma Izabella Teixeira.
Theo Yameogo, sócio-lider de mineração e metais da Ernst & Young (EY), observou que países que representam 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo passam por eleições este ano, e as incertezas políticas interferem na demanda global por minerais.
— Há uma tensão criada pela guerra da Rússia com a Ucrânia e nas relações entre China e países da OCDE (que reúne os países mais ricos e desenvolvidos) — diz Yameogo.
Para o setor, o risco da a instabilidade política na América Latina é maior para as mineradoras que estão instaladas no Chile e no Peru, por causa também de questões sociais locais.
— No Brasil, o risco é considerado médio, que está mais ligado a questões climáticas — acrescenta Barbara Lanhoso de Mattos, Head Global de Mineração da Mood’s.
Rodrigo Augusto Nunes, diretor de operações da Hochschild Mining PLC, considera a insegurança jurídica um desafio para o setor no mundo. No Brasil, na sua visão, a questão tributária é a mais apontada como um entrave.
— O Brasil tem um sistema ambiental bastante sólido em comparação com outros países da América Latina, mas a parte tributária ainda é complexa — afirma Nunes.
Pouco financiamento
Jungmann cita como outro desafio a falta de recursos para financiar a indústria. Ele observa que o setor financeiro direciona apenas 0,9% dos R$ 2,1 trilhões que aporta na iniciativa privada para o setor minerário.
— A mineração é um dos setores econômicos mais importantes, responde por mais de 30% do saldo da balança comercial. Não me parece equilibrada esta relação — afirma.
O setor de mineração representa cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e, em 2023, faturou R$ 248,2 bilhões, segundo o Ibram.