Balança comercial brasileira pode perder US$ 10 bilhões com tarifa americana, calcula BTG
Agência de classificação de risco Fitch também pontuou que Brasil é um dos países com mais chances de tarifa recíproca
A balança comercial brasileira pode perder US$ 3 bilhões em um cenário de tarifa recíproca similar a que o Brasil impõe aos EUA, de 5,8% e, em caso extremo, até US$ 10 bilhões em 2026, caso haja imposição de 25% de cobrança sobre importados brasileiros pelos americanos.
Os números fazem parte de um relatório do BTG Pactual, assinado pelos economistas Iana Ferrão e Pedro Oliveira.
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Também nesta terça, a agência de classificação de risco Fitch afirmou que o Brasil é um dos países com mais chances de ter tarifas recíprocas impostas pelos EUA, diante da alta taxa cobrada aos produtos americanos.
O risco também é compartilhado com outros emergentes, como Índia, Tailândia, Malásia, África do Sul, Turquia, Vietnã e Indonésia.
Afirmando que o Brasil é um dos mais fechados do mundo — na América Latina, diz o banco brasileiro, apenas a Argentina possui uma barreira tarifária maior —, setores domésticos que são extremamente dependentes do mercado americano podem ser os mais prejudicados numa eventual sanção das tarifas, dizem os economistas do BTG. São eles:
os semimanufaturados de ferro e aço, que possui 72,5% das exportações com os EUA como destino;
o de aeronaves, que tem 63,2% dos americanos como compradores;
materiais de construção, com os EUA sendo destino de 57,5% das exportações do setor;
madeira e derivados, com 43,4% do destino das exportações do Brasil e
Petróleo e derivados, com 27,9% tendo os EUA como destino internacional.
O BTG traça no documento dois cenários. Se as tarifas forem recíprocas, com a imposição média de 5,8% — a mesma aplicada aos produtos americanos —, as exportações brasileiras aos EUA diminuiriam US$ 2 bilhões em 2025 e US$ 3 bilhões em 2026.
Neste cenário, os setores de bens de capital e automotivos poderiam sofrer leve retração.
Já as vendas de café e de suco de laranja, que ficariam mais caros por lá, poderiam registrar uma diminuição de participação no mercado americano.
Já no cenário considerado mais severo, com imposição de uma alíquota de 25%, “diversas exportações atualmente competitivas tornar-se-iam pouco viáveis comercialmente no mercado americano”, afirmam os economistas.
O impacto seria da ordem de US$ 8 bilhões na balança já para 2025, impactando negativamente o superávit da balança comercial brasileira em aproximadamente US$10bilhões. Neste cenário, a diminuição pode chegar a US$ 13 bilhões no ano que vem.
O impacto no Brasil seria mais amplo neste cenário mais severo, e causaria impacto no mercado de aeronaves, no agronegócio (incluindo proteínas), açúcar, etanol, bens de capital e até mesmo commodities, como petróleo, celulose e minerais.
Além das tarifas
Na visão do banco brasileiro, a redução de barreiras internas poderia pressionar a indústria nacional.
Segundo os economistas, “diversos setores nacionais estão protegidos por medidas não tarifárias, como barreiras sanitárias, licenças, cotas e exigências burocráticas, que dificultam a concorrência estrangeira, mesmo quando a tarifa não é proibitiva”.
Caso haja obrigação de reduzir essas restrições, as indústrias de metais, têxteis e de vestuário, de máquinas e equipamentos, de madeira e produtos plásticos seriam os mais afetados.
Segundo os economistas, são justamente as barreiras não tarifárias que podem fazer com que os EUA sejam incentivados a retaliar com tarifas aos produtos brasileiros.
Chances grandes de tarifas recíprocas, diz Fitch
O documento da agência de classificação de risco Fitch afirma que as maiores diferenças entre as tarifas cobradas aos produtos americanos no Brasil ocorrem no setor de produtos metálicos e de vestuário, onde as tarifas cobradas aos exportadores americanos possuem diferencial de mais de dez pontos percentuais.
Segundo relatório, em média, os exportadores americanos pagam 7,1% em tarifas no Brasil, enquanto os importadores americanos pagam taxa de 2,7%, alcançando um diferencial, portanto, de 4,4 pontos percentuais.
No cálculo realizado pela Fitch, o maior diferencial acontece nos seguintes setores:
metálicos, onde importadores americanos pagam 0,6%, enquanto os exportadores americanos pagam 12,6%;
sapatos, onde importadores americanos pagam tarifas de 9,9%, enquanto os exportadores americanos pagam 19,9%
têxtil e vestuário, onde importadores americanos pagam tarifas de 6,6%, enquanto os exportadores americanos pagam 16,9%
Madeireiro, onde importadores americanos pagam tarifas de 1%, enquanto os exportadores americanos pagam 10,1%
Além de itens variados, onde importadores americanos pagam tarifas de 0,9%, enquanto os exportadores americanos pagam 11%