Balanço atrasado da Americanas: varejista teve um prejuízo de R$ 2,27 bilhões no ano passado
Vendas da empresa em 2023 caíram 42%. No primeiro semestre deste ano, a companhia não saiu do vermelho: acumulou perdas de R$ 1,41 bilhão
A Americanas divulgou hoje seus números para o primeiro semestre deste ano e também para todo o ano passado, encerrando uma longa espera dos investidores por mais um dado com a real situação da companhia em recuperação judicial.
No ano passado, a companhia teve um prejuízo de R$ 2,27 bilhões. Além disso, o rombo bilionário de 2022 foi atualizado e ficou ainda maior: R$ 13,22 bilhões. Anteriormente, a companhia havia informado prejuízo de R$ 12,9 bilhões no ano retrasado.
No primeiro semestre de 2024, a companhia não saiu do vermelho. Acumulou um prejuízo de R$ 1,41 bilhão entre janeiro e junho deste ano. O número é menor que a perda de R$ 3,2 bilhões registrada no primeiro semestre de 2023, quando foi revelada uma fraude contábil superior a R$ 25 bilhões que levou a varejista a uma grave crise financeira e ao processo de recuperação judicial que ainda está em curso.
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Entre janeiro e junho deste ano, a companhia somou uma receita com a venda de bens e serviços de R$ 6,849 bilhões, 2,6% menor que os R$ 7,03 bilhões do ano anterior. Porém, a empresa destacou que, apesar de as vendas na internet terem caído 55,3%, na rede de lojas físicas houve alta de 15,9%.
181 lojas fechadas
Entre 2023 e junho de 2024, a varejista fechou 181 lojas. Com isso, o total chega a 1.622 lojas no Brasil. Segundo a Americanas, nos primeiros seis meses de 2024, as vendas brutas no conceito mesmas lojas cresceram 19,7% quando comparado ao mesmo período do ano anterior, com destaque para a Páscoa, com aumento de vendas em relação aos anos de 2023 e 2022.
Segundo a Americanas, “a companhia registrou receita crescente no varejo físico e expansão da margem bruta, a despeito da redução de lojas e eliminação de produtos de alto valor, como TVs telas grandes, linha branca e informática”.
'Fase crítica foi superada'
"A fase crítica foi superada, com a adoção de ajustes de curto e médio prazos, mas ainda há muito trabalho a fazer, como a adequação de diferentes sortimentos às demandas dos clientes", disse a Americanas em mensagem aos acionistas.
Assim, a companhia disse que a geração de caixa operacional, medida pelo Ebitda, nos primeiros seis meses deste ano foi negativo em R$240 milhões, mas avançou quase R$1,5 bilhão comparado ao primeiro semestre de 2023.
Em mensagem, a administração disse em seu balanço que "em 2023, a Americanas enfrentou o momento mais difícil de sua trajetória: a descoberta da fraude de resultados e o início do processo de recuperação judicial". Lembrou ainda que, para voltar a crescer, dividiu as ações de reestruturação em três blocos: "investigações, recuperação judicial e operações".
Lembrou ainda que a “conclusão das investigações também permitiu que os auditores independentes da companhia emitissem opinião sobre as demonstrações financeiras referentes ao desempenho operacional em 2023 e relatório de revisão sobre as informações trimestrais” de 2024. Desde o ano passado, a companhia informou ter gasto R$ 671 milhões com as despesas da recuperação judicial e investigação.
Queda de 42% nas vendas no ano passado}
Em 2023, a receita de venda de bens e serviços foi de R$ 14,942 bilhões. É uma queda de 42,13% de ante os R$ 25,821 bilhões obtidos no ano anterior. O destaque foi a queda de 75,7% nas vendas pela internet. Em 2022, quando divulgou perda de R$ 12,9 bilhões, a companhia havia informado que era o maior prejuízo de sua história. Em 2021, a Americanas havia reportado perda de R$ 6,2 bilhões.
A companhia está em recuperação judicial desde o início do ano passado. Desde então, a empresa anunciou a troca de toda a diretoria e iniciou o processo de venda de diversos ativos para recuperar seu caixa.
Aumento de capital
Em julho deste ano, a empresa finalmente concluiu uma das etapas mais importantes de seu processo de recuperação judicial: o aumento de capital, que alcançou R$ 24,460 bilhões com a emissão total de 18,815 bilhões de ações.
Com o aumento de capital, o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que até então eram considerados acionistas de referência, vai injetar R$ 7 bilhões em dinheiro na varejista para o pagamento de credores. Com o aporte, eles passarão de uma participação de 30,12% para 49,2% do capital social, tornando-se os controladores da empresa.
Segundo o acordo com os credores, o trio subscreverá novas ações e terá mais de 50% da Americanas, tornando-se o grupo majoritário na empresa. Ao todo, o aumento de capital da Americanas contou com um aporte de cerca de R$ 12 bilhões pelos acionistas de referência. Desse total, R$ 5 bilhões já foram investidos na companhia.
Paralelamente, os credores (os bancos) também converteram R$ 12 bilhões em dívidas em ações da empresa, passando a deter 47,6% da companhia. O Banco BTG Pactual tem 7,09% das ações.
O maior acionista minoritário, Inácio de Barros Melo Neto, que possuía 113 milhões de ações e uma fatia de 12,5% na empresa, teve sua participação reduzida para menos de 1% do total com a operação de aumento de capital. Assim, os minoritários agora detêm, ao todo, 3,2% das ações.
Operação da PF
Com o aumento de capital, a empresa reduziu sua dívida de R$ 42 bilhões para R$ 1,875 bilhão, valor referente a uma emissão de debêntures com o aumento de capital.
Mesmo com a divulgação do balanço e o avanço no processo de recuperação judicial, a ex-diretoria segue sendo investigada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Polícia Federal (PF) e Ministério Público Federal (MPF).
Recentemente, o Comitê de Auditoria Independente concluiu sua investigação interna e encaminhou o parecer para as autoridades. Segundo a varejista, as evidências confirmam a existência de fraude contábil, caracterizada principalmente por lançamentos indevidos na conta de fornecedores, por meio de contratos fictícios de verbas de propaganda cooperada (VPC), e por operações financeiras conhecidas como “risco sacado”.
No fim de junho, a PF e o MPF deflagraram a operação Disclosure contra ex-executivos da Americanas. O objetivo era cumprir mandados de prisão contra o ex-CEO da varejista, Miguel Gutierrez, e a ex-diretora Anna Saicali. Ambos estavam no exterior.