ECONOMIA

Banco Central divulga nesta terça (24) ata do Copom, que explica decisão de aumentar juros

Alta foi a primeira no terceiro governo Lula

Fachada do Banco Central, em Brasília Fachada do Banco Central, em Brasília  - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Após elevar a taxa Selic pela primeira vez no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Banco Central deve esmiuçar os motivos que o levaram a tomar essa decisão na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que será divulgada nesta terça-feira.

A Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, subiu 0,25 ponto percentual na semana passada, de 10,50% para 10,75% ao ano. O BC também pode dar sinais sobre os próximos passos do ciclo de alta de juros.

A decisão de aumento para 10,75% foi unânime no colegiado, que atualmente é liderado pelo presidente Roberto Campos Neto. O movimento de aperto da Selic coincidiu com a primeira reunião após a indicação do atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, à presidência do órgão no ano que vem — ele ainda será sabatinado e precisará ter seu nome aprovado pelo Senado.

 

Hiato positivo
No comunicado sobre a decisão, o BC destacou que o cenário atual é marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas de inflação distantes da meta. Isso, segundo o Copom, demanda "uma política monetária mais contracionista" - com Selic maior.

O hiato positivo indica que a economia está operando acima de sua capacidade, geralmente com utilização total de recursos (mão de obra e capital), o que pode gerar pressões inflacionárias.

O Copom não via um cenário de sobreaquecimento da economia desde junho de 2015. A revisão ocorre após mais uma surpresa com o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que subiu 1,4% no segundo trimestre.

Para economistas, essa foi uma das principais novidades na mensagem do BC e o vetor preponderante para o aumento da projeção de inflação. Por isso, é esperado que a ata traga mais esclarecimentos sobre a visão sobre o hiato do colegiado.

Projeção de inflação
A projeção de inflação atual do BC para o primeiro trimestre de 2026, período no qual mira em seu trabalho de convergência para a meta, passou de 3,4% para 3,5% no último Copom, mesmo considerando uma trajetória da Selic, extraída do Boletim Focus, mais elevada. A meta é de 3,0%, com intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%.

Dado que foi fator determinante, acho que valeria a pena o BC esclarecer mais o que está vendo em relação ao hiato, trazer mais cor, independentemente do número em si — avaliou a economista Andrea Damico, sócia-fundadora da consultoria Buysidebrazil.

O detalhamento, na ata, das discussões do Copom na semana passada também pode trazer indicações sobre o plano de voo para o BC nos próximos encontros. O colegiado se reúne de novo em novembro.

No comunicado, o BC deixou claro que iniciou um ciclo de alta de juros, mas não quis se comprometer com o ritmo de aumento nem com a magnitude total do ajuste, deixando a porta aberta para novas altas.

"O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos."

A avaliação de uma parte do mercado financeiro é que a projeção de inflação em 3,5% e o tom duro do BC no comunicado já dariam espaço para uma alta maior da Selic, de 0,50 ponto percentual, em vez de 0,25pp.

A aceleração do ritmo de aperto já é a expectativa majoritária do mercado para a próxima reunião. A depender dos sinais do BC na ata, também podem ser ajustados a aposta para a magnitude total da elevação da taxa.

Consenso
Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, a decisão por 0,25pp na semana passada pode ter sido pela tentativa de busca de consenso entre os diretores do BC, o que deve ficar claro na ata. O colegiado está em uma tentativa de recuperar a credibilidade após o “racha” no Copom de maio, que dividiu membros indicados por Lula e os que já estavam no comitê no governo de Jair Bolsonaro.

Na opinião de Andrea Damico, caso o BC já tenha discutido um aumento de 0,50pp na semana passada, as chances de uma aceleração no ritmo de alta em novembro crescem ainda mais. Ela já espera elevação nessa magnitude, para 11,25%, e que o ciclo total seja de 1,50pp, para 12%.

O ciclo total vai depender, na sua opinião, do comportamento da taxa de câmbio. O BC fez as contas para a inflação com um dólar de R$ 5,60, mas a economista acredita que o vento externo, com a redução dos juros nos Estados Unidos, é favorável para a moeda brasileira, se não houver novas surpresas negativas na política fiscal interna.

Por isso, também espera maior detalhamento do BC sobre o cenário internacional. No comunicado, mesmo com o pontapé inicial no ciclo de corte de juros pelo banco central dos EUA, o Copom mudou pouco sua avaliação sobre o cenário externo, mudando a classificação de adversa para desafiadora. Sobre o fiscal, o BC também manteve a avaliação de que a percepção do mercado sobre a política fiscal têm afetado os preços dos ativos.

— Não digo que a política fiscal vai se resolver ou entrar em rota de melhora. Mas, se houver contenção de danos, tem uma força externa gigante que pode ajudar o real.

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