Banco Mundial reduz previsão de crescimento global para 2023, a 1,7%
O relatório também aponta para os desafios dos pequenos países, com população de 1,5 milhão habitantes ou menos
O Banco Mundial espera que o crescimento global se desacelere para 1,7% em 2023, devido à inflação persistente, ao aumento das taxas de juros e aos efeitos da guerra na Ucrânia.
Economistas da entidade advertiram para o risco de uma uma desaceleração econômica global à medida que os países lutam contra o aumento dos custos e os bancos centrais simultaneamente elevam as taxas de juros para esfriar a demanda, o que, por sua vez, piora as condições financeiras em meio às perturbações provocadas pela guerra na Ucrânia.
"Dadas as frágeis condições econômicas, qualquer novo acontecimento adverso (...) pode levar a economia mundial à recessão", advertiu a instituição multilateral em seu último informe.
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"Estou muito preocupado com o risco de uma desaceleração persistente. Segundo nossas estimativas, o crescimento mundial entre 2020 e 2024 será inferior a 2%. Trata-se do crescimento mais fraco em cinco anos desde 1960", explicou o presidente do BM, David Malpass, durante coletiva de imprensa por telefone nesta terça-feira.
Risco de recessão
Este crescimento tão baixo, previsto para o ano em curso, é comparável apenas ao período de recessão induzida pela pandemia, em 2020, e pela crise financeira global de 2008-2009.
"Dadas as frágeis condições econômicas, qualquer novo acontecimento adverso (...) pode levar a economia mundial à recessão", advertiu o BM. Estes fatores incluem uma inflação acima do esperado, altas acentuadas das taxas de juros para conter os preços ou um retorno da pandemia.
Em economias avançadas, como os Estados Unidos, o crescimento provavelmente se desacelerará até 0,5% em 2023, 1,9 ponto abaixo das previsões anteriores. Enquanto isso, as previsões para a zona do euro são de estagnação.
Para a China, a expectativa é de um crescimento de 4,3% este ano, 0,9 ponto a menos do que o calculado em junho.
As perspectivas são "especialmente devastadoras para muitas das economias mais pobres, onde a redução da pobreza já se deteve", acrescentou o banco.
"Os países emergentes e em desenvolvimento enfrentam um período de muitos anos de crescimento lento, lastreado pela carga pesada da dívida e a fragilidade do investimento", alertou Malpass.
Embora os bancos centrais, incluindo o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos, tenham elevado as taxas de juros no ano passado para conter o aumento dos preços, o fardo para as economias "se agravará" à medida que as políticas surtirem efeito, de acordo com o BM.
"Os três principais motores do crescimento global - Estados Unidos, zona do euro e China - passam por uma fragilidade pronunciada, com repercussões adversas para as economias de mercado emergentes e em desenvolvimento", acrescentou o Banco Mundial.
Por enquanto, a inflação subiu devido à pandemia, às perturbações da oferta e, em alguns, casos às desvalorizações das moedas.
Embora se espere que diminua, a inflação permanecerá acima das taxas pré-pandêmicas, de acordo com o banco.
O crescimento fraco ainda não marca uma recessão, disse Ayhan Kose, diretor do grupo de pesquisas de Perspectivas do BM.
"No curto prazo, nos concentramos no risco de possíveis tensões financeiras, caso as taxas de juros subam ainda mais no mundo", disse à AFP.
Se isso acontecer e, além disso, a inflação persistir, "uma recessão mundial pode ser desencadeada", afirmou.
Pobreza, clima
Entre as áreas mais prejudicadas está a África subsaariana, que concentra cerca de 60% da extrema pobreza mundial.
A expectativa é que o crescimento de sua renda per capita neste e no próximo ano seja em média de apenas 1,2%, o que é “um ritmo que poderia fazer os índices de pobreza aumentarem, ao invés de diminuírem”, segundo o BM.
O relatório também aponta para os desafios dos pequenos países, com população de 1,5 milhão habitantes ou menos, que foram particularmente afetados pela pandemia.
Esses países geralmente sofrem prejuízos com desastres climáticos "que representam, em média, [perdas] de aproximadamente 5% do PIB ao ano", diz o banco.
“Dada a maior probabilidade de que este tipo de catástrofe natural ocorra, devemos levar em conta que esses riscos se materializarão com mais frequência no futuro”, enfatizou Kose.