Bancos já avaliam impacto para o Carrefour; ações do atacarejo sobem
O americano Goldman Sachs afirma que o boicote poderia causar um impacto de mais de 1% no lucro líquido da empresa a cada dia de falta de carnes nas prateleiras
Bancos e instituições financeiras já avaliam o impacto que o boicote de frigoríficos à rede de supermercados Carrefour Brasil e às marcas do grupo — como a rede de atacarejo Atacadão e o atacadista Sam’s Club — podem causar nos resultados do quarto trimestre da empresa.
Para o Goldman Sachs, que usou dados do formulário de referência do Carrefour, os produtos alimentícios representam 88% das vendas consolidadas da empresa. O banco americano afirma que, se houver um impacto no cardápio de produtos entre 6 e 12%, cada dia de interrupção no fornecimento poderia causar uma redução de até 0,13% nas estimativas de vendas do último trimestre.
Esse freio, diz o Goldman, poderia representar uma diminuição no lucro líquido de até 1,09% por dia de interrupção nas vendas de carnes.
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Se somados a interrupção de vendas de carnes de frango e suína para além da bovina, que representam cerca de 20% das vendas, poderiam causar um impacto diário de 1,8% no lucro líquido da empresa.
O relatório, assinado pelos analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gabriela Leme, aponta que a falta de carne nas gôndolas pode “reduzir o fluxo de clientes como um todo, resultando em quedas significativas nas vendas de outras categorias”.
A XP, que vê as vendas de carnes responderem por 5% das vendas do Carrefour Brasil, crê que "o impacto potencial nas vendas do 4º trimestre pode ser maior se uma falta de estoque mais persistente se materializar".
Já o Citi vê como improvável um boicote prolongado ao braço brasileiro do Carrefour, diante do porte da empresa, que possui vendas superiores a R$ 100 bilhões: “trata-se de uma situação fluida e complexa, e não se pode descartar uma reação negativa no mercado de ações”.
Em relatório, o BTG Pactual afirmou que a inflação, que voltou a acelerar em setembro, contribuiu para o aumento das vendas, mas que possíveis interrupções de fornecimento dos frigoríficos às lojas podem afetar o cenário de manutenção de alta nas vendas nos últimos meses do ano.
Para João Daronco, analista da Suno Research, a declaração do CEO francês foi “um tiro no pé”:
"Difícil saber se vai perdurar ou não e quanto tempo vai perdurar (o boicote), mas sem dúvida deve impactar os resultados do supermercado num curto espaço e tempo. Foi praticamente um tiro no pé dado pelo presidente Carrefour ao seu grupo ", diz.
As ações do Atacadão (CRFB3), que chegaram a cair mais de 4% nas negociações desta segunda, se recuperaram e operavam, restando uma hora do encerramento do pregão (às 17h), em valorização de 3,61%, aos R$ 6,88.
Crise depois de declaração
Na última quarta-feira o CEO do Carrefour, o francês Alexandre Bompard, decidiu compartilhar em suas redes sociais que a rede varejista não compraria mais carnes vendidas pelo Mercosul, bloco formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
O posicionamento, argumentou em nota feita para ao sindicato agrícola francês, era em solidariedade aos protestos dos agricultores locais contra o acordo entre o bloco sul-americano e a União Europeia.
Apesar de a fala de Bompard não deixar claro como seria interrompida essa compra de carne, ou sequer como isso afetaria a logística da companhia, não demorou para que produtores e entidades brasileiras começassem a falar em boicote contra o Carrefour.
Frigoríficos de peso, como JBS (com a marca Friboi), Marfrig e Masterboi, já iniciaram o corte de fornecimento ao grupo entre a última quinta-feira e sexta-feira.