ecofraude

Barreiras da "maquiagem verde" começam a ser percebidas

"A 'maquiagem verde' cresce e seguirá crescendo enquanto não existirem normas que esclareçam quem faz o que exatamente", diz o diretor do Conselho de Padrões Internacionais de Sustentabilidade

Poluição causada por indústria Poluição causada por indústria  - Foto: Pexels

Mais de um terço das 2 mil maiores empresas de capital aberto do mundo adotaram metas de neutralidade de carbono para até 2050, mas essas promessas seguem definições variáveis, sem verificação e parecem parte de uma estratégia de comunicação de “maquiagem verde”.

Em todo caso, um alinhamento de critérios está em andamento e poderá ser concluída em 2024 ou 2025.

“A ‘maquiagem verde’ cresce e seguirá crescendo enquanto não existirem normas que esclareçam quem faz o que exatamente”, diz à AFP Emmanuel Faber, diretor do Conselho de Padrões Internacionais de Sustentabilidade (ISSB, na sigla em inglês), que busca estabelecer uma regulamentação universal empresarial sobre o clima.

As empresas calculam sua pegada de carbono desde os anos 2000. Para contar as emissões de suas fábricas, escritórios, fornecedores, empregados e clientes, o método de referência mundial é americano, o GHG Protocol. Porém, ele tem muitas limitações e não é obrigatório.

Além disso, segue sendo arriscado comparar as emissões de diferentes empresas como se compara seus benefícios.

Por exemplo, a gigante brasileira de processamento de carnes JBS e a multinacional francesa de hipermercados Carrefour publicam tradicionalmente apenas uma pequena parte de suas emissões reais, como demonstrou a ONG Carbon Market Watch.

Outro exemplo é a maior companhia petrolífera do mundo, a Saudi Aramco, que, a poucos dias da conferência mundial sobre o clima realizada em Glasgow em outubro de 2021, anunciou uma ambiciosa meta de “zero” emissões de carbono operacionais para 2050.

Mas as emissões de carbono operacionais se limitam àquelas de suas instalações industriais, omitindo as emissões “indiretas” de CO2, relativas ao petróleo que vende.

Normas obrigatórias?

A “lavagem” ou “maquiagem verde” ou ainda “ecofraude” é evidente em algumas empresas, afirma Thomas Koch Blank, especialista do Rocky Moutain Institute.

Mesmo para as empresas bem intencionadas, a ausência de normas específicas, como há na contabilidade financeira, deixa muito espaço para “arbitrariedade”.

Uma real aceleração nos esforços de alinhamento ocorreu em 2021, destaca Peter Paul van de Wijs, da Global Reporting Initiative, uma organização sediada em Amsterdam que desenvolve seus próprios padrões ambientais e sociais.

A mais ambiciosa é a União Europeia (UE), cuja associação Efrag prepara normas ambientais e sociais para 50 mil empresas para a partir de 2024.

A agência dos Estados Unidos de regulamentação do mercado financeiro, a SEC, também surpreendeu com um projeto de normatização que pretende obrigar as empresas listadas na bolsa a publicar suas emissões.

A UE, os EUA e o G20 apoiam ou discutem a iniciativa liderada por Emmanuel Faber, impossível de ignorar já que sua fundação gerencia as normas de contabilidade IFRS, utilizadas em 120 países.

“Não haverá momento mais propício que os próximos 12 meses. Europa, Estados Unidos e outras jurisdições estão estabelecendo as bases”, declara Faber.

Com uma norma obrigatória, cada empresa deverá dizer a verdade sobre sua pegada de carbono e seu plano de transição climática, sob pena de sanções. Será, em tese, mais fácil descobrir as mentiras ambientais.

Resta, porém, um problema a ser resolvido: como acreditar nas empresas que prometem zerar suas emissões de CO2 em 2040 ou 2050?

A organização Science Based Targets (SBT), incentivada pelas ONGs World Resources Institute (WRI) e Carbon Disclosure Project (CDP), certifica os compromissos, comprovando que a empresa tem um plano rigoroso de redução de emissões.

Mas os critérios para conseguir o selo “SBT” de respeitabilidade climática, obtido por 1.480 empresas, estão endurecendo.

Seu diretor executivo, Luiz Amaral, espera uma regra do jogo comum. “Sem estandardização, sem transparência contábil, ficaremos reduzidos a uma competição de palavras”, diz.

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