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BANCO CENTRAL

BC endurece tom sobre contas públicas e diz que política fiscal crível é importante

Ata detalha discussão do colegiado que embasou alta de juros a 10,75% ao ano

Fachada do Banco Central, em Brasília Fachada do Banco Central, em Brasília  - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O Banco Central endureceu o recado sobre a condução das contas públicas na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira. No documento, o BC classificou a política fiscal como expansionista e frisou que é importante para a condução da política monetária política fiscal crível, previsível e transparente. Apesar do tom mais pesado, o BC deixou claro que atualmente considera em seus cenários para a inflação uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo, em linha com a trajetória traçada pelo governo.

A política fiscal está na mira do mercado financeiro e de especialistas em contas públicas, que veem baixa disposição do governo em cortar gastos, o que põe em risco a sustentabilidade do arcabouço fiscal. Além disso, recentemente, algumas medidas adotadas acenderam um alerta para brechas nas regras fiscais.

“Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.”

A ata traz detalhes sobre a discussão do Copom na semana passada. Na ocasião, o colegiado retomou o ciclo de alta da taxa Selic, com um aumento de 0,25 ponto percentual, de 10,50% para 10,75% ao ano.

Apesar de mais duro com o fiscal, o BC mostrou que tem uma visão mais favorável do cenário externo, em meio ao início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos. Na ata, o Copom destacou que o cenário externo se mantém desafiador, “mas se mostra mais benigno do que na reunião anterior”.

O colegiado, no entanto, destacou que “que não há relação mecânica entre a condução da política monetária norte-americana e a determinação da taxa básica de juros doméstica, tampouco entre a taxa de câmbio e a determinação doméstica da taxa de juros”.

No comunicado sobre a decisão, o BC destacou que o cenário atual é marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas de inflação distantes da meta. Isso, segundo o Copom, demanda "uma política monetária mais contracionista" - com Selic maior.

O hiato positivo indica que a economia está operando acima de sua capacidade, geralmente com utilização total de recursos (mão de obra e capital), o que pode gerar pressões inflacionárias.

O Copom não via um cenário de sobreaquecimento da economia desde junho de 2015. A revisão ocorre após mais uma surpresa com o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que subiu 1,4% no segundo trimestre.

Para economistas, essa foi uma das principais novidades na mensagem do BC e o vetor preponderante para o aumento da projeção de inflação.

A projeção de inflação atual do BC para o primeiro trimestre de 2026, período no qual mira em seu trabalho de convergência para a meta, passou de 3,4% para 3,5% no último Copom, mesmo considerando uma trajetória da Selic, extraída do Boletim Focus, mais elevada. A meta é de 3,0%, com intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%.

Sobre os próximos passos, o BC deixou claro que iniciou um ciclo de alta de juros, mas não quis se comprometer com o ritmo de aumento nem com a magnitude total do ajuste, deixando a porta aberta para novas altas.

"O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos."

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