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BID cria programa para inserir mulheres no mercado e impulsionar crescimento econômico da AL

Com infraestrutura e serviços de apoio a crianças, idosos e PCDs de qualidade, banco afirma ser possível elevar o PIB da região em 20 pontos percentu

Foco do programa do BID está em estimular investimento para suprir a escassez de serviços de cuidados  como creches, centros para idosos e mesmo serviços em domicílio para PCDs Foco do programa do BID está em estimular investimento para suprir a escassez de serviços de cuidados como creches, centros para idosos e mesmo serviços em domicílio para PCDs  - Foto: Freepik

Construir uma rede de infraestrutura e serviços de apoio a pessoas – principalmente mulheres – que desempenham trabalho doméstico não remunerado é o foco do novo programa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A instituição enxerga no desafio de inserir essas pessoas no mercado de trabalho uma oportunidade para fazer a economia de América Latina e Caribe crescer até 20 pontos percentuais, de acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O foco está em estimular investimento para suprir a escassez de serviços de cuidados – como creches, centros para idosos e mesmo serviços em domicílio para PCDs —, além da criação de empregos que ajudem a suprir a demanda já existente e que, com o envelhecimento da população, vai crescer, explica Diana Rodriguez, assessora especial de gênero e diversidade do BID.

Segundo a instituição, essa atividade não remunerada equivale a aproximadamente 21% do PIB da região.

— A quantidade de trabalho não remunerado que é feita funciona como um motor da economia, sem o qual nenhum outro trabalho seria possível. Não poderíamos estar aqui, não haveria presidentes de banco nem CEOs se não houvesse esses trabalhos de cuidado — argumenta Diana, acrescentando que duas de cada três pessoas que exercem atividades de cuidados não remunerados são mulheres.

Ilan Goldfajn, presidente do BID e ex-presidente do Banco Central do Brasil, frisa que esse programa vai colaborar para ajudar a melhorar a vida de crianças, idosos e PCDs, além de fazer uma distribuição mais equilibrada das atividades de cuidado.

E que investimento estratégico em serviços e infraestrutura de cuidado são fundamentais para o crescimento sustentável, a produtividade e a geração de oportunidades em toda a região.

Ele anunciou o programa BID Cuida na Reunião Anual da instituição, nesta quinta-feira, em Santiago, no Chile.

Envelhecimento da população preocupa
Há um conjunto de razões para tirar esse projeto do papel agora.

A primeira delas é a evidente e estrutural escassez de serviços de cuidado de qualidade e acessíveis à toda a população. Isso segura mulheres em casa, impedindo que entrem no mercado de trabalho. Quanto menor a renda, maior o tempo dedicado a cuidados.

Também as mulheres negras são ainda mais sobrecarregadas.

No Brasil, as mulheres decidam quase duas vezes mais tempo que os homens a afazeres domésticos. Enquanto elas trabalham em média 21,6 horas por semana nessas atividades, eles mantêm uma média de 11 horas semanais, segundo o IBGE. E a sobrecarga de trabalho não remunerado é a mesma desde o início da série iniciada em 2016.

— Vemos que as mulheres estão todo o tempo lavando, cuidando de crianças e, por isso, não podem ingressar no mercado de trabalho, havendo ainda maior probabilidade de evasão dos estudos, seja na escola ou na universidade. Todos conhecemos uma avó, uma tia, alguma mulher da família que viveu isso. Falta capacidade de terceirizar essas atividades — sublinha a técnica do BID.

Por fim, preocupa o acelerado processo de envelhecimento da população.

Ainda de acordo com o IBGE, o Brasil está liderando esse movimento na região.

O país já tem 15,8% da população com mais de 60 anos, acima da média latino-americana de 13,4%.

O BID alerta que, em 2050, a previsão é de que um em cada quatro pessoas da região terão mais de 60 anos de idade.

Alavanca de crescimento
Para o banco multilateral, contudo, é possível fazer desse problema uma oportunidade.

O entendimento é que ao atuar para criar a infraestrutura e os serviços necessários para apoiar o cuidado, é possível inserir essas mulheres hoje ocupadas com atividades não remuneradas no mercado de trabalho, ampliando a produtividade dos países e colaborando para a redução da pobreza e o crescimento econômico.

E é essa alavanca de crescimento que o BID vai utilizar como forma de atrair a iniciativa privada ao programa, estimulando projetos e iniciativas que possam somar esforços com o poder público.

Diana explica que uma das principais barreiras à entrada de mulheres no mercado de trabalho são as atividades domésticas e de cuidados não remuneradas.

E que é preciso mudar esse quadro para avançar.

A falta de estrutura de cuidado gera elevadas taxas de absenteísmo no trabalho. Somente os EUA, os custos gerados pela perda de produtividade em razão desse tipo problema superam US$ 49 bilhões ao ano.

Com creches e outros serviços de apoio, as mulheres poderão trabalhar fora de forma regular.

As empresas, de outro lado, podem investir nessas estruturas como um canal, por exemplo, para atrair e reter talentos, diz o banco.

No Uruguai, a estimativa é de que um investimento anual equivalente a 2,8% do PIB do país na universalização de serviços de educação para a primeira infância poderia criar mais de 80 mil empregos e ampliar a participação de mulheres no mercado de trabalho em 4,2 pontos percentuais, aumentando a arrecadação em US$ 638 milhões.

O programa será baseado em três frentes. Uma delas é a de governança, ou seja, identificar, criar e fortalecer políticas, marcos regulatórios e iniciativas que podem viabilizar a ampliação ou a construção desse sistema de cuidados integrais às pessoas. Isso inclui assistência técnica e financiamento a projetos.

As outras duas miram em estimular o aumento dos aportes em serviços de qualidade nessa área, além de estimular uma divisão mais equilibrada das atividades de cuidado e compartilhamento de responsabilidades entre a sociedade civil, poder público e iniciativa privada.

O programa terá aplicação adaptada à realidade de cada país, cidade ou região, considerando horários escolares, possibilidades de custeio, construção de parcerias público-privadas (PPPs). Diversos países, conta Diana, recorreram ao banco anteriormente em busca de ajuda para criar soluções nessa área. E já há experiências piloto testadas, como uma realizada o Uruguai, por exemplo, por intermédio do BID Invest, o braço de investimento privado do banco.

Lá, estado entrava com o serviço de creche em um prédio construído por uma empresa privada que, pelo investimento, tinha 80% das vagas reservadas a filhos de seus colaboradores.

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