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ESTADOS UNIDOS

Biden vai ampliar restrições a exportações de chips de IA, como os da Nvidia

Medida visa assegurar soberania de padrões de computação americanos e evitar que China e Rússia desenvolvam essas tecnologias. Serão criados três grupos de países com diferentes níveis de limitações para compra de semicondutores

NvidiaNvidia - Foto: Reprodução/Internet

O governo do presidente Joe Biden planeja uma rodada adicional de restrições à exportação de chips de inteligência artificial, como os da Nvidia, poucos dias antes de deixar o cargo, em um esforço final para impedir que tecnologias avançadas caiam nas mãos da China e da Rússia.

Os Estados Unidos desejam restringir a venda de chips de IA usados em data centers com base em critérios de país e empresa, com o objetivo de concentrar o desenvolvimento de IA em nações aliadas e alinhar empresas de todo o mundo aos padrões americanos, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

 

O resultado seria uma expansão das restrições comerciais de semicondutores para a maior parte do mundo — uma tentativa de controlar a disseminação da tecnologia de IA em um momento de alta demanda.

As regulamentações, que podem ser emitidas já na sexta-feira, criariam três níveis de restrições para os chips, disseram as fontes. No nível mais alto, um pequeno número de aliados dos EUA teria acesso irrestrito aos chips americanos. Nesse grupo estariam Canadá e a maioria das nações da Europa Ocidental, segundo dados obtidos pela Bloomberg.

Os considerados adversários, como China e Rússia, seriam impedidos de importar os semicondutores. Para a grande maioria dos países, seriam impostos limites à aquisição dos chips, com espécie de cotas nacionais. O Brasil estria nesta categoria.

Empresas sediadas em nações do último grupo poderiam ultrapassar os limites nacionais — e obter cotas significativamente mais altas — ao concordar com um conjunto de requisitos de segurança do governo dos EUA e padrões de direitos humanos, segundo as fontes.

Esse tipo de designação, chamado de "usuário final validado" (VEU, na sigla em inglês), visa criar um grupo de entidades confiáveis que desenvolvam e implementem IA em ambientes seguros ao redor do mundo.

Nvidia critica medida
As ações da Nvidia, a principal fabricante de chips de IA, caíram mais de 1% nas negociações pós-mercado ontem, após a Bloomberg relatar o plano. As ações haviam subido 4,3% no ano até o fechamento de quarta-feira, depois de ganhos estratosféricos em 2023 e 2024 que transformaram a empresa na fabricante de chips mais valiosa do mundo. Já a Advanced Micro Devices (AMD), maior concorrente da Nvidia em processadores de IA, caiu menos de 1% após o fechamento do mercado.

A Nvidia se opôs à proposta em um comunicado:

“Uma regra de última hora restringindo exportações para a maior parte do mundo seria uma grande mudança de política que não reduziria o risco de uso indevido, mas ameaçaria o crescimento econômico e a liderança dos EUA. O interesse mundial em computação acelerada para aplicações do dia a dia é uma tremenda oportunidade para os EUA fomentarem sua economia e criarem empregos no país”, disse a empresa, que tem sede em Santa Clara, na Califórnia.

Um representante do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca se recusou a fazer comentários. O Bureau de Indústria e Segurança do Departamento de Comércio, responsável pelos controles de exportação de chips, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

As medidas se baseiam em anos de restrições que já limitam a capacidade de fabricantes americanos, como Nvidia e AMD, de vender processadores avançados à China e à Rússia. Os EUA também têm buscado impedir que nações adversárias acessem tecnologias de ponta por meio de intermediários em regiões como o Oriente Médio e o Sudeste Asiático. As regras mais recentes são parte desse esforço global.

As normas seguem meses de debate sobre quão rapidamente e amplamente os chips dos EUA devem ser implantados em data centers globais. Como os chips americanos superam amplamente os chineses em tarefas de IA, empresas e países inteiros têm demonstrado disposição para superar obstáculos a fim de obter acesso à tecnologia americana. Isso dá aos EUA um papel único como guardião — e uma influência potencialmente significativa para moldar o desenvolvimento global de IA.

Os EUA têm “uma séria oportunidade única em uma geração para alavancar a tecnologia de IA americana”, escreveram na semana passada o principal democrata e o principal republicano do Comitê Seleto sobre a China da Câmara em uma carta à Secretária de Comércio, Gina Raimondo:

“A demanda pela tecnologia de IA dos EUA é uma oportunidade para tirar tanto empresas quanto países da órbita de Pequim".

Regras mais flexíveis
O primeiro nível estabelecido nas novas regras, mais permissivas, inclui os EUA e 18 aliados, como Alemanha, Japão, Coreia do Sul e Taiwan, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

As empresas podem implantar livremente poder computacional nesses locais, e empresas sediadas nesses países podem solicitar permissão geral do governo dos EUA para enviar chips para data centers na maior parte do mundo.

Isso desde que no máximo um quarto de seu poder computacional total esteja localizado fora dos países do nível 1 e no máximo 7% em qualquer país do nível 2, o nível intermediário de restrições. Além disso, as empresas precisam cumprir os requisitos de segurança do governo dos EUA.

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Adicionalmente, empresas sediadas nos EUA que solicitarem esse tipo de permissão precisam manter pelo menos metade de seu poder computacional total em solo americano, disseram fontes. O objetivo mais amplo dessas regulamentações é garantir que os EUA e os países aliados sempre tenham mais poder computacional do que o restante do mundo.

Restrições mais duras
A grande maioria dos países cai no segundo nível de restrições, que estabelece níveis máximos de poder computacional que podem ser enviados para qualquer nação — equivalente a cerca de 50.000 unidades de processamento gráfico (GPUs) de 2025 a 2027, segundo as fontes.

O terceiro nível, mais restritivo de todos, afeta além da China e da Rússia, todos os países para os quais os EUA mantêm um embargo de armas — cerca de duas dúzias de nações no total, segundo as fontes. Envios para data centers nesses locais são amplamente proibidos.

Assim como a Nvidia, a Associação das Indústrias de Semicondutores se opôs à medida.

“Uma mudança de política dessa magnitude e importância não deve ser apressada durante um período de transição presidencial e sem contribuições significativas da indústria”, disse a associação em comunicado. “Há muito em jogo aqui para contornar um processo deliberativo. Nosso país precisa acertar isso para competir e vencer globalmente.”

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