Logo Folha de Pernambuco

Mercado

Bolsa aprofunda queda e dólar ganha força, após o anúncio de Mercadante no BNDES

Nome do ex-ministro não é bem avaliado pelo mercado, que teme a maior presença do banco no mercado de crédito

Bolsa de valoresBolsa de valores - Foto: Joachim Schnürle por Pixabay

O anúncio do ex-ministro Aloizio Mercadante para o comando do BNDES, feito na tarde desta terça-feira (13) pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), piorou o desempenho do mercado local.

O Ibovespa, que alternava altas e baixas antes da fala de Lula, caía 1,49%, aos 103.777 pontos, por volta de 16h30. O dólar subiu 0,05%, negociado a R$ 5,3146 após atingir a máxima de R$ 5,3337.

O câmbio não conseguiu acompanhar o movimento visto no exterior, onde a moeda americana teve fortes baixas contra divisas fortes e ante pares do real após a divulgação de dados de inflação nos EUA abaixo do esperado.

Por volta de 16h20, a taxa de juro do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 saltava 25 pontos-base, para 13,66%; e a do DI para janeiro de 2026 escalava 25,5 pontos-base, para 13,45%.

Já na véspera, os ativos locais - Bolsa, real e juros - sofreram forte pressão com os rumores de que Mercadante poderia assumir o banco público. O Ibovespa, por exemplo, caiu 2,02%.

Receios com a política de crédito
O nome de Mercadante não é bem avaliado pelos investidores.
O receio é de que o ex-ministro, que comandou a pasta da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff (PT), leve o banco a retomar a política de crédito subsidiado e incentivo aos investimentos em grandes empresas de determinados setores.

Desde o governo de Michel Temer, o BNDES vem reduzindo sua participação no mercado de crédito e se desfez de participações em empresas importantes. Na visão do mercado, isso permitiu maior abertura para o mercado de capitais e maior eficiência na concessão de crédito.

Também há o receio de alterações na taxa de longo prazo (TLP), em vigor desde 2018 e que substituiu a taxa de juros de longo prazo (TJLP).

Com a TLP, o BNDES passou a cobrar juros aos moldes privados, sem exceções, considerando o nível de risco mais a inflação corrente. Dessa maneira, na visão do mercado, foi favorecida a competitividade e o potencial de crescimento da economia do país.

O economista André Perfeito avalia que é necessário ele vir logo a público explicar qual será a política de crédito do banco.

— Isso tem impacto no mercado de capitais, especialmente no crédito que o mercado aloca. Então, seria importante que Mercadante viesse a público dizer qual será a orientação do BNDES em sua gestão — avalia o economista, lembrando que juros subsidiados provocam distorções no mercado de crédito.

No governo da ex-presidente Dilma Rousseff, o BNDES foi utilizado para direcionar crédito com juros abaixo do mercado, endividando o governo e trazendo mais preocupações fiscais.

Outra dúvida que a indicação de Mercadante traz é sobre uma possível mudança da Lei das Estatais. Aprovado em 2016 no governo de Michel Temer, o texto determina que é preciso ter experiência profissional mínima para assumir cargos nos conselhos de administração e diretoria das companhias públicas.

Segundo a lei, também é exigida qualificação acadêmica compatível com o cargo e “notório” conhecimento a respeito do setor. O texto veta a indicação para a presidência de quem atuou em estruturas decisórias de partidos políticos nos últimos 36 meses.

— Nesse caso, Mercadante poderia assumir? Esta é uma dúvida que o mercado tem. Na prática, a indicação dele já sinaliza uma má vontade com essa lei. A lei das Estatais foi criada para destravar o valor dessas empresas, sem que a administração seja enviesada politicamente — afirmou Perfeito.

Galípolo será secretário-executivo
Ainda nesta terça-feira, já havia sido confirmado o nome do economista Gabriel Galípolo como secretário-executivo do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O economista de 39 acumula experiências no setor público e privado, sendo reconhecido por ser uma das figuras chaves para intermediar a relação entre a campanha do então candidato Lula com atores do mercado financeiro, nas eleições deste ano.

A nomeção de Galípolo não tinha provocado reação tão negativa entre os agentes, como ocorreu com Mercadante. Segundo um gestor, os investidores ainda esperavam um nome mais alinhado ao mercado.

Para o sócio da Matriz Capital, Elcio Cardozo, o nome de Galípolo não chega a atender aos anseios do mercado.

— Sem entrar no mérito se as visões de Galípolo são certas ou erradas, ele entende que, com a piora da economia, os gastos públicos devem aumentar, em vez de reduzir, para que o Estado seja um indutor da economia. Parte do mercado financeiro discorda dele neste aspecto.

Veja também

Governo bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024
Orçamento de 2024

Governo Federal bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde
Bolsa de Nova York

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde

Newsletter