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Bolsa cai 3,3% e dólar atinge R$ 5,59 após Bolsonaro determinar auxílio de R$ 400

O nervosismo do mercado ocorre após o presidente Jair Bolsonaro ter determinado que o Auxílio Brasil chegue a R$ 400, valor superior aos R$ 300 do auxílio emergencial

DólarDólar - Foto: Arquivo/Agência Brasil

A Bolsa de Valores brasileira operava em forte queda e o dólar avançava firme no início da tarde desta terça-feira (19) com o mercado temendo que as discussões em Brasília sobre o novo programa de distribuição de renda do governo resultem em aumentos de gastos acima do teto fiscal.

Às 12h14, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa, caía 2,60%, a 111.454 pontos, enquanto o dólar subia 0,83%, a R$ 5,5660, mas já tendo alcançado a máxima de R$ 5,5740 na primeira hora após a abertura das negociações.


O dólar seguia em alta mesmo depois do leilão realizado pelo Banco Central para venda à vista de US$ 500 milhões (R$ 2,78 bilhões), a primeira operação desse tipo desde março.

O nervosismo do mercado ocorre após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter determinado que o Auxílio Brasil chegue a R$ 400, valor superior aos R$ 300 do auxílio emergencial. O benefício pago na pandemia acaba no próximo dia 31.

O governo deve editar uma medida provisória para estabelecer uma parcela adicional e chegar ao valor do ticket pago hoje. Segundo interlocutores do presidente, há espaço no orçamento do Bolsa Família para pagar os R$ 300 neste ano a 17 milhões de pessoas. O desafio, porém, é chegar ao novo valor determinado pelo presidente.

A revelação sobre o valor do Auxílio Brasil reforça a tensão gerada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que havia defendido na véspera, em entrevista ao site da revista Veja, que o país não poderia priorizar a responsabilidade fiscal e o respeito ao teto de gastos em detrimento das necessidades da população mais vulnerável diante dos impactos sociais provocados no Brasil pela pandemia de Covid-19.

Embora exista consenso sobre a necessidade em amenizar os prejuízos sociais gerados pela pandemia, o mercado digere mal a separação que parte da classe política faz entre disciplina fiscal e investimentos sociais. Essa dicotomia, presente na fala de Lira, tem aumentado ainda mais a percepção quanto ao risco fiscal do país, segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

"Lira revela sua pretensão populista ao impor uma dualidade inexistente entre o social e a responsabilidade, como se houvesse um entrave ou que para se fazer política social tivesse que ser irresponsável", disse Sanchez.

De acordo com o economista, as declarações de Lira também indicam que ele poderá ser um dos principais agentes políticos a pressionar pelo aumento dos gastos públicos com a proximidade das eleições de 2022.

O mercado também está atento à possível votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios em comissão especial da Câmara ainda nesta terça. Os títulos da dívida judicial reconhecida representarão despesas de aproximadamente R$ 89 bilhões em 2022 e o parcelamento de parte desses débitos é visto como uma contrapartida para viabilizar o Auxílio Brasil.

A pressão que o cenário fiscal exerce sobre o câmbio tem feito o Banco Central intervir diariamente no mercado desde a última quarta-feira (13), quando a autoridade monetária deu início a uma série de leilões de novos contratos de swap cambial tradicional, o que na prática equivale à venda da divisa no mercado futuro, e é diferente da venda à vista realizada nesta terça.

No início desta manhã, o real tinha o pior desempenho de uma lista de quatro divisas que perdiam para o dólar nesta manhã, segundo a agência Reuters.

Um dos principais indicadores de que a pressão sobre o câmbio reflete mais riscos internos do que as instabilidades no cenário externo, que também existem devido a um processo de inflação global gerada por escassez de produtos e por uma crise energética na Ásia, pode ser medida pela taxa de retorno do dólar à vista frente a outras moedas de países emergentes. O real figurou nesta terça-feira na última posição em uma cesta com 24 divisas, segundo dados da Bloomberg.

No mercado de juros futuros, em relação ao ajuste da véspera, a taxa DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2023 subiu de 9,35% para 9,84%. Para 2025, o avanço foi de 10,27% para 10,89%. Em relação a 2027, passou de 10,66% para 11,19%.

Em mais um sinal sobre o peso da crise fiscal doméstica, a queda acentuada da Bolsa brasileira ocorre mesmo em um dia em que os mercados globais abriram positivos. Nos Estados Unidos, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiam 0,56%, 0,74% e 0,71%.

"Os mercados devem ficar na defensiva, enquanto observam o desenrolar dos acontecimentos", afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, em nota a clientes.

O petróleo Brent, referência mundial, subiu 0,75%, a US$ 84,96 (R$ 471,70). Apesar da alta da commodity, as ações da Petrobras caíam 4,89%. O clima de tensão também provocada queda de 1,15% nas ações da Vale.

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