Bolsonaro defende revisão de tarifas do Mercosul e deixa encontro antes do fim
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu em reunião virtual da cúpula do Mercosul nesta sexta-feira (26) a revisão das tarifas de importação do bloco, reiterando a defesa do governo brasileiro por taxas menores. Logo após a fala, ele deixou o encontro.
A reunião aconteceu de maneira virtual por causa do agravamento da pandemia. O presidente brasileiro foi o segundo a falar e estava acompanhado dos
ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Paulo Guedes (Economia), e deixou o encontro antes do encerramento.
Após a fala, Bolsonaro deixou o Palácio do Planalto e foi até a residência oficial do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que, junto com outros parlamentares, tem pressionado pela demissão do chanceler brasileiro, considerado um entrave na negociação com diversos países, dificultando a importação de vacinas e insumos.
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Bolsonaro já havia comunicado a organização de que sairia antes do fim da cúpula por uma questão de agenda.
A ausência no restante da reunião do Mercosul foi comentada pelo ministro argentino das Relações Exteriores, Felipe Solá, no início de sua fala. "Jair Bolsonaro, do Brasil, vejo que não está, mas mesmo assim quero cumprimentar", disse, para em seguida saudar os demais presidentes.
Baixar as tarifas de importação depende de um acordo com os demais membros e enfrenta resistência da Argentina, anfitriã do encontro virtual e presidente temporária do bloco.
Além de Brasil e Argentina, o Mercosul tem Paraguai e Uruguai como integrantes plenos. Outros sete países sul-americanos são membros associados.
Além da redução da TEC (tarifa externa comum), o Brasil defende a flexibilização das regras do Mercosul para possibilitar acordos comerciais com países fora do bloco.
"Defendemos a modernização do bloco, com a atualização da tarifa externa comum como parte central do processo de recuperação de nosso dinamismo", afirmou Bolsonaro.
"Por esse motivo, o Brasil gostaria de destacar a importância da reunião extraordinária que nossos ministros vão realizar em abril para tomar decisões sobre a agenda e modalidades das negociações externas do Mercosul e em matéria de revisão da tarifa externa comum, como proposto pelo Brasil", disse.
Segundo o presidente, é necessário apoiar empresários com o acesso a mercadorias mais baratas e de qualidade, o que em sua visão também beneficiaria consumidores.
Bolsonaro afirmou que o bloco trouxe bons resultados, consolidando regimes políticos baseados em eleições diretas e na soberania popular. Disse que a abertura comercial do bloco multiplicou o intercâmbio entre os países, gerando crescimento e bem-estar das populações.
Apesar disso, afirmou que o bloco precisa recuperar participação relevante nos fluxos comerciais. "Consideramos que há amplo espaço para aprofundar a integração regional a partir da redução de barreiras não-tarifárias e da incorporação de setores ainda à margem do comércio intra-bloco", disse.
Bolsonaro defendeu que o bloco participe da quarta revolução industrial, ocupe espaço nas grandes correntes internacionais e redobre esforços nas negociações externas. Ele afirmou serem necessárias regras que valorizem o ambiente de negócios e a superação de lacunas, citando especificamente os setores automotivo e açucareiro.
"Queremos rapidez e resultados significativos. Desejamos que nossas economias participem cada vez mais das novas cadeias regionais e mundiais de valor, em especial neste momento, quando precisamos superar com urgência os enormes danos causados pela pandemia", afirmou.
Bolsonaro também afirmou que eventuais diferenças de visão política não afetem o andamento do bloco e acrescentou que a regra do consenso não pode ser transformada em instrumento de veto ou de freio permanente, defendendo ainda um espírito de cooperação entre os membros.
"Diferenças de perspectivas que existam entre nós, de natureza política ou econômica, não devem afetar o andamento do projeto de integração, desde que respeitados os princípios que balizam o bloco.
A relação entre Bolsonaro e o líder argentino, Alberto Fernández, é marcada por rusgas e distância. Bolsonaro fez campanha para o adversário de Fernández, Mauricio Macri, na eleição de 2019.
Depois da vitória do peronista, o brasileiro afirmou que não cumprimentaria o argentino e fez diversas críticas ao retorno do kirchnerismo ao país vizinho, o que identificou como uma guinada de rumo da Argentina "em direção à Venezuela".
Diante da plateia internacional nesta sexta, Bolsonaro procurou adotar um tom solidário com as vítimas da Covid-19. "Estamos reunidos em momento difícil e repleto de desafios, que devemos encarar como uma oportunidade de aprendizado para fortalecer nossa união em torno de princípios elevados, como a liberdade e a democracia", disse o presidente.
"Reafirmo minha solidariedade às famílias e meu profundo pesar pela perda de vidas e pelo sofrimento que a pandemia tem causado aos nossos povos."