Brasil corre risco de ter "patrimonialismo verde", diz ministro Fernando Haddad
Ele afirmou que é possível que lobistas possam capturar subsídios dados pelo país durante transição energética
O ministro da Fazenda Fernando Haddad afirmou que o Brasil corre o risco de ter um "patrimonialismo verde" durante o processo de transição para energias limpas. Segundo Haddad, não é impossível imaginar que lobbies econômicos se unam em torno dessa bandeira, que é simpática à sociedade, e capturem subsídios, subvenções e incentivos que se perpetuam ao londo do tempo, como acontece no Brasil com incentivos econômicos que foram dados nos últimos dez, vinte, trinta anos.
— Esse risco é real e precisa ser prevenido e acompanhado pela nossa sociedade. É preciso promover essa transição energética com o devido cuidado. Da mesma forma que temos o chamado 'green washing' (prática que algumas empresas usam para camuflar seus impactos negativos no meio ambiente) corremos o risco de ter um "patrimonialismo verde"— afirmou.
Leia também
• Lula ouve federação de petroleiros, MST e sindicatos neste sábado
• Em 1º ano de Haddad na Fazenda, Receita eleva em 63,6% valor de autuações fiscais
• Haddad culpa Congresso, mas foi traído no governo; confira a coluna desta sexta (5)
Haddad participou de debate que discutiu caminhos para o desenvolvimento do Brasil no contexto geopolítico atual. Ele estava acompanhado do economista Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do Banco Central, um dos cotados para suceder Roberto Campos Neto no comando da instituição.
O evento foi realizado no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, e promovido pela Phernomenal World, publicação digital focada em economia política e ciências sociais, fundada em 2019, em Nova York, por iniciativa do Jain Family Institute.
Haddad disse que vê o ambiente político como principal risco de solavancos, no curto prazo, para o Brasil. Ele citou a relação do poder Executivo com o Legislativo e do Executivo com o Banco Central e disse que as instituições precisam estar afinadas.
O ministro elogiou o cenário político de 2023, onde houve vários avanços, como a aprovação da reforma tributária, de leis que melhoraram o ambiente de negócios e garantiram a estabilidade social do país. Mas fez um alerta.
— Queria chegar ao final de 2024 com a mesma sensação de 2023. O momento que o Brasil está vivendo inspira cuidados, mas se tudo correr bem teremos bons resultados no médio e longo prazo.
O ministro afirmou que apesar de Estados Unidos e China serem grandes parceiros comerciais, o Brasil não está no radar desses países como gostaria de estar para fazer possíveis parcerias. Haddad ponderou que existe respeito desses países pelo Brasil, mas quando se observa o discurso das autoridades das duas maiores economias do mundo elas subestimam o potencial inovador do Brasil.
— O país tem demonstsrado, inclusive do ponto de vista institucional, uma serie de vantagens competitivas. Mas há subestimação notável desses países em relação ao potencial de parcerias com o Brasil — afirmou.