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Brics tem espírito de colaboração, afirma negociador-chefe brasileiro às vésperas da posse de Trump

O Brasil defende a harmonia em meio a uma situação global tensa, explicou o diplomata

O embaixador brasileiro Eduardo Saboia fala durante entrevista à AFP em seu escritório no Palácio do Itamaraty em BrasíliaO embaixador brasileiro Eduardo Saboia fala durante entrevista à AFP em seu escritório no Palácio do Itamaraty em Brasília - Foto: Evaristo Sa / AFP

O grupo Brics tem um espírito de "colaboração" e para "construir", afirmou o negociador-chefe brasileiro para o bloco de economias emergentes, Eduardo Saboia, em uma entrevista à AFP a poucos dias da posse de Donald Trump, um crítico do multilateralismo.

Após sediar a cúpula do G20 em novembro e se preparar para receber a do Brics em julho no Rio de Janeiro, o Brasil defende a harmonia em meio a uma situação global tensa, explicou o diplomata.

Durante seu primeiro mandato (2017-2021), Trump travou uma guerra comercial com a China. Às vésperas de seu retorno à Casa Branca em 20 de janeiro, ele advertiu o gigante asiático e os demais membros do Brics que vai impor tarifas de 100% se tentarem acabar com o domínio internacional do dólar.

O republicano também declarou recentemente seu desejo de recuperar o controle do Canal do Panamá e, eventualmente, anexar a Groenlândia, sem descartar o uso da força.

De seu escritório em Brasília, Saboia afirmou que o grupo Brics, formado por dez países e fundado por Brasil, Rússia, Índia e China, buscará "construir" e "não prejudicar" a relação com as potências ocidentais.

A seguir, trechos da entrevista:

Pergunta: O Brics pode ganhar peso no cenário mundial durante a presidência de Trump?
Resposta: "O Brics não surge como 'antialgo', antiocidente. Pelo contrário, após a crise de 2008, as grandes economias desenvolvidas buscaram a colaboração dos países Brics em um esforço para relançar a economia mundial. (...) Em inglês, 'bricks' (tijolos) denota o desejo de construir algo, o Brics vem para construir, não vem para piorar as coisas."

P: Como o grupo recebe as declarações expansionistas do próximo presidente dos Estados Unidos?
R: "Temos tantas coisas para fazer entre nós, (...) colaborações em ciência e tecnologia, finanças, saúde e participação ativa nos fóruns internacionais, trazendo uma visão do Sul Global. Então, não há um foco em outros países, outros líderes. O foco é a colaboração e a construção de um mundo melhor."

P: O que o Brics pensa sobre a ameaça de Trump de impor tarifas de 100% ao Brics caso haja ameaça ao domínio do dólar?
R: "Não há nenhum projeto nesse sentido (substituir o dólar). Queremos aumentar o comércio entre nós, aumentar os investimentos e reduzir os custos das transações. Existe uma discussão sobre o uso das moedas locais nas transações, mas não de forma impositiva.

E (existem) outras discussões que têm como objetivo não ir contra ninguém, nem contra nada. Mesmo porque, no caso do dólar, os países do Brics são detentores de reservas em dólares. Mas é necessário diversificar as opções para que os atores econômicos possam decidir e ter a possibilidade de fazer mais transações."

P: O Brasil manterá o veto que impediu a entrada da Venezuela no grupo na cúpula de 2024 em Kazan, na Rússia?
R: "Não existe veto. (...) Muitos países expressaram (seu desejo de aderir ao Brics) e esse tema foi tratado de maneira muito respeitosa. É preciso respeitar a regra do consenso, respeitar as preferências dos países membros em relação a como os diferentes países que manifestam interesse serão integrados. É óbvio que há sensibilidades quando um país é convidado e outro não, mas essas são coisas da vida."

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