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Britannica, fabricante da enciclopédia, não apenas sobreviveu: agora, é uma empresa de IA

Após anunciar o fim da edição impressa em 2012, empresa passou a investir em tecnologia e utiliza IA para criar, verificar e traduzir conteúdo para seus produtos, incluindo a versão da enciclopédia on-line

Enciclopédia BritannicaEnciclopédia Britannica - Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Por quase 250 anos, a Encyclopaedia Britannica foi uma série volumosa de tomos com letras douradas, muitas vezes comprada para mostrar que seus proprietários valorizavam o conhecimento. Era o tipo de mídia física que se esperava desaparecer na era da internet e, de fato, o editor da enciclopédia anunciou o fim da edição impressa em 2012.

Os céticos questionaram como a empresa Britannica poderia sobreviver na era da Wikipedia. A resposta foi se adaptar aos tempos.

O Britannica Group, como a empresa é conhecida atualmente, administra sites, incluindo o Britannica.com e o dicionário on-line Merriam-Webster, além de vender softwares educacionais para escolas e bibliotecas. Também comercializa softwares de agentes de inteligência artificial que sustentam aplicações como chatbots de atendimento ao cliente e recuperação de dados.

A Britannica descobriu não apenas como sobreviver, mas também como prosperar financeiramente. Jorge Cauz, seu CEO, afirmou em uma entrevista que a editora obteve margens de lucro recorrentes de cerca de 45%.

E mais: a empresa está considerando uma oferta pública inicial (IPO), na qual poderia buscar uma avaliação de cerca de US$ 1 bilhão, de acordo com uma pessoa com conhecimento das deliberações, mas que não estava autorizada a falar publicamente.

Isso poderia gerar um retorno considerável para o proprietário da empresa, o financista suíço Jacob E. Safra, que adquiriu a editora em 1995 e, em um processo judicial movido em 2022, citou um banco de investimentos avaliando a Britannica em US$ 500 milhões.

A empresa afirma que seus sites atraem mais de sete bilhões de visualizações de página por ano, com usuários em mais de 150 países. "Temos mais usuários agora do que jamais tivemos", disse Cauz.

Peso-pesado do conhecimento
A Britannica percorreu um longo caminho desde suas origens no século XVIII como editora de uma obra de referência criada por três impressores escoceses.

Ao longo dos anos, a Encyclopaedia Britannica tornou-se um peso-pesado do conhecimento, tanto literalmente — a edição de 32 volumes de 2010, a última impressa, pesava 58,5 quilos — quanto figurativamente, contando com contribuições de milhares de especialistas.

Também se tornou um símbolo de status, com clientes pagando quase US$ 1.400 por essa edição.

A Wikipedia, com seu conteúdo gratuito e dezenas de milhares de editores ativos, abalou esse antigo modelo de negócios, especialmente após um estudo em 2005 — contestado pela Britannica — concluir que as duas enciclopédias tinham níveis de precisão semelhantes.

Ao abandonar o produto que definiu a empresa por mais de dois séculos, os executivos disseram que poderiam alocar mais recursos em produtos voltados para a era digital.

Quando a última Encyclopaedia Britannica foi impressa, a empresa já havia iniciado sua suíte de sites e softwares educacionais. Agora, ela enxerga uma oportunidade ainda maior no crescimento das ferramentas de inteligência artificial generativa, que, segundo a empresa, podem tornar o aprendizado mais dinâmico — e, portanto, mais atraente.

Investindo em tecnologia nas últimas décadas
Cauz disse que a Britannica experimentou a tecnologia nas últimas décadas. A empresa adquiriu a Melingo, responsável por seu software de IA, em 2000, devido à sua força em processamento de linguagem natural e aprendizado de máquina. E conta com duas equipes de tecnologia, uma baseada em Chicago e outra em Tel Aviv, Israel.

A vertiginosa popularidade de chatbots como o ChatGPT convenceu os executivos de que era necessário investir mais nesse espaço. Atualmente, a Britannica utiliza IA para criar, verificar e traduzir conteúdo para seus produtos, incluindo a enciclopédia on-line da Britannica.

Também criou um chatbot da Britannica que utiliza o vasto acervo de informações de sua enciclopédia on-line, que, segundo Cauz, é mais propenso a ser preciso do que chatbots mais generalistas, que podem ser suscetíveis a "alucinações", termo oficial para inventar informações. Dito isso, o site da Britannica adverte os usuários para "verificar todas as informações importantes".

A empresa tem mais projetos impulsionados por IA generativa em desenvolvimento: um software de tutoria em inglês que usará a tecnologia para alimentar avatares e personalizar aulas para cada aluno, um programa para ajudar professores a criar planos de aula e um dicionário renovado para o site do Merriam-Webster, capaz de lidar com frases, não apenas palavras.

Benefícios com software educacional na pandemia
A empresa se beneficiou do aumento da atenção ao software educacional, especialmente após os confinamentos durante a pandemia, que expuseram mais professores e alunos às ferramentas de aprendizado virtual.

Essa demanda se reflete no desempenho financeiro da empresa, de acordo com seus dados. A Britannica está no caminho de dobrar sua receita em relação a dois anos atrás, quando esperava arrecadar cerca de US$ 100 milhões.

A empresa também busca expandir sua presença global, incluindo países como Índia, Brasil e Tailândia.

Mas, para Wall Street, uma grande questão é quando o Britannica Group buscará transformar seus sucessos empresariais em um grande negócio.

Em janeiro, a Britannica informou ter enviado documentos confidenciais para uma oferta pública inicial (IPO), embora sem estabelecer um cronograma. E ainda avalia a possibilidade de abrir capital, segundo uma fonte com conhecimento das deliberações, mas o momento é incerto.

A Bloomberg News chegou a informar que a editora estava considerando arrecadar centenas de milhões em financiamento de dívida e ações, em parte para quitar dívidas de Safra. Esses esforços continuam, segundo a mesma fonte.

Cauz preferiu não comentar sobre uma possível oferta inicial, afirmando apenas que o Britannica Group não está precisando de capital adicional.

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