BTG tem lucro menor e reserva R$ 1,1 bi para perdas em meio à crise da Americanas
Banco é um dos que têm maior exposição a dívidas da varejista e afirma que provisão para calote é "devido a evento específico amplamente divulgado"
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O Banco BTG Pactual, visto como um dos mais expostos à Americanas, disse que “devido a um evento específico que foi amplamente divulgado”, decidiu reservar R$ 1,1 bilhão para possíveis perdas com inadimplência.
Como já foi amplamente divulgado na mídia, somos vítimas afetadas por uma fraude corporativa que gerou uma provisão não recorrente que afetou os resultados do quarto trimestre e consequentemente do ano, disse Roberto Sallouti, CEO do banco durante conferência com analistas.
Segundo ele, com a provisão, a receita total do banco ficou em R$ 17,247 bilhões no ano passado, alta de 24% ante o ano anterior. Se não fosse isso, o banco teria registrado receita de R$ 18,447 bilhões em 2022, avanço de 33%. O lucro, por sua vez, teria alcançado R$ 8,886 bilhões (aumento de 37%) em vez dos R$ 8,306 bilhões registrados (avanço de 28%).
Sallouti disse que o banco resolveu detalhar os impactos "dessa fraude", sem citar a Americanas, e a consequente provisão não recorrente nos resultados. Ele explicou que a provisão foi de R$ 1,123 bilhão em relação à exposição na carteira de risco sacado e outros R$ 77 mihões relacionados a instrumentos financeiros como derivativos e seguros.
O executivo disse ainda que o “evento específico” também impactou as despesas com bônus, que foram reduzidas em R$ 153,1 milhões, e os gastos com imposto de renda e contribuição social, que diminuíram R$ 466,9 milhões no trimestre.
Provisionamos R$1,1 bilhão referente à uma exposição específica na carteira de risco sacado. Apesar disso, continuamos confiantes na qualidade e robustez de nosso portfólio de crédito, disse o banco em apresentação a investidores.
No quatro trimestre, o lucro líquido caiu de R$ 2,3 bilhões para R$ 1,8 bilhões com o provisionamento. O resultado ficou abaixo da previsão do mercado, segundo a Bloomberg, que estimava um lucro de R$ 2,15 bilhões para o banco no período.
Segundo o executivo, o episódio não afetar o negócio de desconto de recebíveis:
O que aconteceu (em relação a Americanas) foi um caso isolado e não nos preocupa como linha de negócios.
Renato Cohn, CFO do BTG, disse que não sabe informar se vai ocorrer novas provisões:
Mas acho que está bem provisionado. Acho que vai recuperar até acima desssa provisão dada a natureza de fraude do caso. Agora, tem a questão intertemporal. Você não sabe o tempo que isso demora.
Na primeira lista de credores divulgada pela Americanas, constava uma dívida de R$ 3,5 bilhões da varejista com o BTG. Segundo analistas do UBS, o BTG tem a maior exposição a dívidas da Americanas como percentual de seu patrimônio.
O BTG saiu na frente nas críticas à empresa e a seus principais acionistas por tentarem transferir a culpa no escândalo, chamando o caso de “a maior fraude do mercado de capitais brasileiro” em uma ação judicial.
Bradesco, Itaú e Santander Brasil já divulgaram aumento das provisões em meio ao imbróglio, embora nenhum mencione a Americanas nominalmente em seus relatórios de resultados. O Bradesco, que assim como o Itaú optou por contabilizar integralmente sua exposição, reportou o maior montante de perdas esperadas com empréstimos: R$ 4,9 bilhões.