Calor, incêndios e até roubos: entenda por que o azeite está 20% mais caro e preço não para de subir
Principais produtores estão na Europa, que vive uma onda de calor. Safra de azeitonas é impactada pela seca e altas temperaturas
Impulsionado pelas mudanças climáticas na Europa, que provocaram secas e incêndios no Hemisfério Norte este ano, o preço do azeite vem subindo em todo o mundo, incluindo o mercado brasileiro.
Levantamento feito pela empresa de inteligência de mercado Horus identificou aumento acima de 20% no Brasil — para os segmentos virgem e extra virgem — entre agosto de 2022 e o mesmo mês deste ano.
A pesquisa observou que em agosto do ano passado o preço do azeite de oliva virgem era de R$ 24,96 e saltou para R$ 31,66 no mês passado. Já o tipo extra virgem foi de R$ 28,40 para R$ 35,97 no mesmo período. Os valores são referentes a embalagens de 450ml a 500ml.
O economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre) Matheus Peçanha vê o azeite seguindo uma tendência contrária a de outros alimentos, que vem registrando reduções e o motivo para esses movimentos é o clima.
— O preço do azeite no mercado nacional tem seguido a tendência contrária ao restante da alimentação pelo mesmo motivo: o clima. A Europa vem sofrendo com uma grande seca e o Brasil, que importa boa parte desse produto, passou a sofrer também as consequências disso — explica.
Procissão para pedir chuva
Hoje, a maior parte da produção de azeite do mundo vem da Espanha, que é responsável pela oferta global de 45% do produto. Mas a Europa vem sofrendo com uma onda de calor desde o primeiro semestre de 2023. De acordo com a Bloomberg, essa produção pode ser reduzida à metade caso a seca continue.
Os espanhóis já sentem reflexos da seca. Moradores de uma cidade do país chegaram a participar de uma procissão pedindo chuvas. Preocupado com o impacto do calor, o governo espanhol anunciou um pacote de € 2,2 milhões para que os agricultores melhorem as estruturas hídricas.
Mais recentemente, os preços subiram tanto, que houve até uma onda de assaltos de azeite extra virgem nos armazéns de produtores do país.
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'Ouro líquido' atrai criminosos
Os preços do azeite dispararam no mundo todo — e o produto passou a ser chamado de “ouro líquido”. Isso atiçou a cobiça de muitos, e a Espanha tem registrado uma onda de roubos, tanto de azeite como de azeitonas. Em 30 de agosto, 50 mil litros de azeite foram roubados de um produtor, um prejuízo de € 420 mil (R$ 2,24 milhões).
Nem as azeitonas escapam. Invasores fazem colheitas clandestinas em fazendas ou roubam carga de caminhões. Só em março, um grupo foi pego com quase 20 toneladas de azeitonas roubadas em uma área rural da Espanha, Las Vegas.
Impacto global
O impacto das altas temperaturas na safra de azeitonas espanholas e em outros produtores de azeites europeus afeta não só o preço do item no Brasil, mas em todo mundo. É o que explica Rita Bassi, presidente da Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira (Oliva).
— A colheita 2022/2023 foi impactada por longo período de seca. Com isso muitas oliveiras deixaram de dar frutos (azeitona) ou produziram frutos em número inferior. O azeite de oliva é extraído das azeitonas e portanto, a produção de azeite de oliva foi altamente impactada. Com a diminuição da oferta e o aumento da procura há impacto no preço do azeite de oliva — diz.
Produção interna de azeite
O Brasil é um dos maiores importadores de azeite do mundo, junto com Japão, Estados Unidos e Canadá. De acordo com o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), a produção brasileira de azeites extra virgens em 2023 — até o momento — foi de aproximadamente 700 mil litros. Isso representa cerca de 1% do mercado nacional de azeite.
Para o diretor da importadora de alimentos e bebidas Casa Flora, Adilson Carvalhal Junior, em função da pouca quantidade, a curto prazo a produção interna não é capaz de abastecer o país.
— A curto prazo não teríamos condições de produzir azeite suficiente para todo o mercado brasileiro. Não são todos os lugares em que é possível produzir o azeite por conta da necessidade de um clima específico para isso — explica.
Preços podem continuar a subir
Apesar de não ser um produto essencial, o uso do azeite na culinária tornou-se um hábito. O diretor aponta que uma opção para o brasileiro seria o uso do óleo composto ou óleo de milho.
Um alívio nos preços do azeite depende de como será a próxima colheita que tem início em outubro/23, segundo Bassi. Para quem quer economizar, a redução do item ou a troca por esses produtos podem ser opções, já que, para os próximos meses, há especialistas que projetam continuação de alta.
— O preço do azeite não deve parar de subir, a gente sabe que existem fatores climáticos dos nossos principais produtores, que estão com problemas na safra da azeitona. Então, não há uma expectativa de freada — avalia Anna Carolina Fercher, gerente de percepção de consumo da Horus.