Programa destina, de forma ambientalmente correta, 100% das embalagens de defensivos agrícolas
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TAUBATÉ (SP) – No Dia Mundial da Reciclagem, comemorado nesta sexta-feira (17), o Brasil, pelo menos no que diz respeito à reciclagem de embalagens de defensivos agrícolas, tem o que comemorar: é o único pais do mundo, incluindo as economias e agriculturas mais avançadas, que tem um programa robusto de recebimento e destinação de reciclagem desse tipo de recipiente.
Isso é possível graças ao Sistema Campo Limpo - programa brasileiro de logística reversa desses materiais e das sobras pós-consumo deles. Ele promove a destinação ambientalmente correta de 100% das embalagens recebidas, sendo 97% recicladas e 3% incineradas -, gerido pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV).
“As mesmas embalagens que foram da indústria para o agricultor voltam por meio do sistema e são produzidas a partir da reciclagem. Não é um processo de reutilização. Isso não existe no sistema. Todas as embalagens que chegam aqui são completamente destruídas, picadas e produzidas novas resinas para soprar novas embalagens. A reutilização é proibida, ilegal. Ninguém pode fazer nada com essas embalagens que não seja retorná-las à indústria, que é a proprietária da embalagem”, explica o presidente do inpEV, Marcelo Okamura.
De acordo com o executivo, no setor de defensivos agrícolas, o que é comprado são os conteúdos da embalagens e não estas. “É diferente, por exemplo, da compra de um refrigerante, quando a embalagem também é sua e você faz o que quiser com ela”, esclarece. No caso do defensivo agrícola, a posse da embalagem é do fabricante. O produtor, por lei, é obrigado a retornar essa embalagem às unidades de recebimento do sistema para ser destinada da maneira correta”, esclarece.
Concorrentes
Os concorrentes diretos produzem embalagens com matéria-prima virgem, polietileno de alta densidade, já a Campo Limpo Transformações de Plástico S.A., que tem sede em Taubaté, São Paulo, produz a partir da resina pós-consumo de embalagens devolvidas pelos agricultores ao Sistema Campo Limpo.
A resina reciclada vale mais que a virgem, segundo Okamura, porque, além de ser igual do ponto de vista da utilidade (segurança, resistência, tempo de armazenagem etc.), presta um serviço ambiental que a virgem não presta, como o consumo bem menor água e menos energia elétrica no ciclo de produção.
“Temos grandes concorrentes, alguns maiores outros menores, inclusive multinacionais com mais de 50 anos de mercado, mas que não fazem a logística reversa, só produzem as embalagens. O ImpEV é o único no Brasil que tem licença para fazer essa operação de forma legal”, explica o gerente nacional de Operações da inpEV, Antônio Carlos Amaral.
O programa Campo Limpo é um case de sucesso mundial em economia circular. Por meio de dez recicladoras parceiras, viabiliza a produção de 38 artefatos homologados que atendem diferentes setores. São geradas as novas embalagens de defensivos Ecoplástica e o sistema de vedação Ecocap.
São produzidos artefatos para outros setores, como construção civil (dutos corrugados e tubos para esgoto), transportes (caixa para bateria, dormentes ferroviários e postes de sinalização), setor energético (cruzetas para postes) e indústria moveleira (moldes em papelão para proteção industrial e de móveis).
Trata-se de artefatos homologados para serem feitos com a resina pós-consumo que a Campo Limpo também controla a utilização. Se não houvesse o controle, esse plástico poderia ser destinado à produção de artefatos que não deveriam ser feitos. Não se pode, por exemplo, fabricar recipientes para alimentos com esse tipo de resina.
Cada embalagem de 20 litros produzida na Campo Limpo com resina pós-consumo (reciclada) evita a emissão de 1.24 quilo de CO equivalentes na atmosfera. “O Instituto Brasileiro de Árvores diz que uma árvore no período de 20 anos captura em torno de 120 quilos a 130 quilos de Carbono. Então, numa conta aritimética grosseira, 100 embalagens produzidas aqui equivaleriam ao plantio de uma árvore que captaria essa quantidade de CO2 na atmosfera”, destacou Okamura.
Até agora, a Campo Limpo, desde que foi fundada, já produziu 125 milhões de embalagens, evitando a emissão de mais de 1 milhão de tonelada de CO2 na atmosfera.
“Uma das principais conquistas do Sistema Campo Limpo é o seu impressionante índice de reciclagem, que alcança quase 100% das embalagens vazias recebidas. Isso é resultado do engajamento dos elos da cadeia produtiva (agricultores, indústrias fabricantes e registrantes, canais de distribuição e poder público), de sua capilaridade, eficiência e inovação nos processos. Ao longo de mais de 20 anos, foram investidos R$ 2 bilhões nesse programa que é uma referência mundial”, destaca Okamura.
Resultados obtidos
Desde o início de sua operação, em 2002, o Sistema Campo Limpo já destinou, adequadamente, mais de 750 mil toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas. Só em 2023, foram 53,2 mil toneladas. O programa tem como base o princípio das responsabilidades compartilhadas entre todos os elos da cadeia produtiva, com apoio e fiscalização do poder público. Reúne mais de 256 associações de revendas e cooperativas e atende cerca de 2 milhões de propriedades rurais em todo o País, de acordo com o censo agrícola de 2017.
O Sistema está presente em todo o Brasil e conta com 416 unidades de recebimento, onde os agricultores podem devolver as embalagens vazias. Há ainda a possibilidade dessa entrega ser feita nos Recebimentos Itinerantes, que ocorrem em regiões distantes das unidades de recebimento e visam atingir os pequenos produtores.
“Seguimos acompanhando a expansão do agro, concluindo as obras de quatro novas centrais de recebimento nos estados de Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rio Grande do Sul, que entraram em operação em janeiro e fevereiro de 2024, além de inaugurarmos quatro postos em Minas Gerais e no Pará”, reforça Marcelo Okamura.