Campos Neto: Mercado entende que choque positivo no fiscal tem que vir do gasto, não da receita
O presidente do BC avalia que não é correta a avaliação de que o Brasil esteja numa situação de "dominância fiscal"
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira, 18, que o ideal é que o pacote fiscal discutido pelo governo federal neste momento se concentre especificamente na questão do corte de gastos, sem que haja também novas medidas focadas na ampliação de receitas, sob o risco de "interditar" o processo de melhora de percepção dos agentes com a política fiscal brasileira.
"O mercado entende hoje que para ter efeito de choque positivo tem que ser baseado em corte de gasto do que receita", frisou Campos Neto, reforçando, mais uma vez, que um juro mais baixo no Brasil só aconteceu em momentos em que houve também um choque positivo vindo da política fiscal. Assim, para ele, a ancoragem fiscal está relacionada com a política fiscal.
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Nesse sentido, Campos Neto avalia que não é correta a avaliação de que o Brasil esteja numa situação de "dominância fiscal", ou seja, em que a política monetária já não teria mais efeito sobre a economia, já que há mecanismos para promover esse "choque" fiscal.
Na avaliação do banqueiro central, o governo parece estar se esforçando nesse sentido e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está focado em fazer "a lição de casa". Campos Neto pontuou que sempre considerou que o Brasil poderia se antecipar um pouco, em fazer essa lição de casa no fiscal, que a situação fiscal do Brasil "não é um desastre iminente", e que é possível corrigi-la.
As afirmações foram feitas por Campos Neto durante participação em evento da Consulting House, realizado no Insper, em São Paulo
Durante sua apresentação, Campos Neto frisou que, ao olhar "na ponta" a questão fiscal brasileira não está muito diferente da do resto do mundo, em um contexto em que os gastos subiram com a pandemia e que há uma necessidade de cobrir esses custos agora, num esforço de se diminuir as dívidas.
Com isso, o presidente do BC apontou que a discussão agora deveria ser a geração de superávits para pagar essa conta. Ele reconheceu, porém, que é difícil, encontrar hoje nações produzindo superávits consistentes no mundo.
Não à toa, acrescentou o banqueiro central, a questão fiscal foi um dos temas mais discutidos na última reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), em que ele esteve presente.