Economia

Campos Neto reúne autoridades monetárias mundiais para defender autonomia do BC

Presidentes e ex-presidentes de bancos centrais deram respaldo a visão do BC

Campos NetoCampos Neto - Foto: Pedro França/Ag. Senado

Em uma demonstração de força, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, conseguiu trazer a São Paulo a um evento organizado por ele em São Paulo nomes de peso da economia mundial para defender a importância do combate à inflação e da autonomia da autoridade monetária.

Durante a tarde desta sexta-feira, o evento teve a participação do presidente do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), Agustín Carstens, além de cinco presidentes de autoridade monetária (de Canadá, Chile, Colômbia, Espanha e Peru, os dois primeiros remotamente) e de três ex-presidentes de bancos centrais (de Argentina, Colômbia e Índia), além de participações gravadas de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu e de Mark Carney, ex-presidente do Banco da Inglaterra.

O tom dos discursos foi de defesa da autonomia das autoridades monetárias.

Tiff Macklem, Presidente do banco central canadense, afirmou que, embora a entidade sofra pressões políticas para baixar o ciclo de juros no país da América do Norte, ainda não é a hora de fazê-lo. A taxa básicade juros no Canadá está em 4,5%. No Brasil, Campos Neto tem sofrido pressões do governo federal para baixar a Selic, hoje em 13,75% ao ano.

— Não dá ainda para pensar em corte da taxa de juros, eu sempre falo isso ao mercado. A gente espera que (a inflação) vai chegar a 3% no verão e a acha que vai chegar a 2% em 2024. A inflação está na meta, mas estamos preocupados com riscos além da inflação — destacou o canadense.

Para ele, "não foi fácil restringir orçamento dos domicílios":

— Está todo o mundo sentindo a dor das altas taxas de juros. Recebo pergunta sobre por que ser agressivo com a taxa de juros e se precisamos da inflação de 2%. A história nos responde que quanto mais alta a inflação, mais difícil é as pessoas planejarem seus gastos e poupanças. Causa tensão social e cria sensação de injustiça. A solução de baixo crescimento e alta taxa de juros é também dura — admitiu Macklem.

Apesar disso, disse ele, "bancos centrais são bens públicos e não devem ser influenciados por interesses" corporativos ou políticos.

— É importante a gente tentar minimizar conflitos e uma das maneiras de fazer isso é a independência do BC. Confiança é testada quando há crise e os bancos centrais estão sendo testados — ressaltou.

De maneira similar, Juan José Echavarría, ex-presidente do Banco de la República, a autoridade monetária da Colômbia, afirmou que a autonomia da entidade é um dos maiores ativos da Constituição colombiana. Ao abordar a taxa de juros atual do país, em 13%, ele afirmou que "é difícil explicar para as pessoas que você deve reduzir um pouco o crescimento da economoia agora para não ter de reduzir muito no futuro".

Presidente do Banco Central de la Reserva, a autoridade monetária do Peru, desde 2007, Julio Velarde foi além e disse que, embora haja pressões políticas para a redução de juros, "a história mostra" que estão erradas.

— Quem conhece a história sabe que se mantivermos os nossos instrumentos de monitoramento, a inflação vai diminuir. Pode demorar para chegar na meta, mas chega. Se começa a demorar mais do que o que a gente espera, vozes vão surgir para reduzir os juros antes do necessário. É o caso de vários países. (...) Sempre há pressão. Trump nos últimos anos colocou pressão no Jerome Powell (presidente do Fed), atacava-o quase toda semana. Essas pressões vão ocorrer. Se fizer isso, a gente não vai ter mais crescimento, mas mais inflação — disse.

A taxa de juros peruana está em 7,75% ao ano. Velarde afirmou que quando se reduz as taxas de juros antes de a inflação recuar, os preços tendem a voltar a subir. Ele criticou o caso da Argentina, onde disse que "não se preservou a autonomia do Banco Central por causa da pressão do governo".

Em sua mensagem gravada para o evento, Lagarde afirmou que a inflação anual na OCDE "subiu a um nível não visto desde os anos 1980 e isso levou os bancos centrais a apertar de uma forma inédita" os juros, destacando que o BC de Campos Neto foi um dos primeiros a fazê-lo.

"Seria impossível ganhar batalha contra inflação e os riscos ao setor financeiro sem nossas atribuições e poderes", disse Lagarde no vídeo, ao citar o que chamou de "caixa de ferramentas" das autroridades monetárias.

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