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PEC do 6x1

Campos Neto volta a criticar PEC do 6x1, diz que Argentina "surpreende" e vê dúvida sobre próxima de

Presidente do Banco Central afirmou que país vizinho é exemplo de que austeridade fiscal pode gerar crescimento econômico e ressaltou que há "grande expectativa" sobre cortes no Brasil

Presidente do BC, Roberto Campos NetoPresidente do BC, Roberto Campos Neto - Foto: Rodrigo Romeo / ALESP

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, elogiou nesta terça-feira as medidas de austeridade que vêm sendo implementadas na Argentina. Segundo ele, o país é um exemplo de como políticas de contração fiscal podem gerar crescimento econômico, um movimento que normalmente não é esperado.

Em evento na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), onde foi homenageado, Campos Neto também voltou a criticar a proposta de fim da escala 6x1, disse que existe “dúvida no ar” sobre o rumo dos juros nos Estados Unidos e reforçou que há "grande expectativa" sobre o pacote de corte de gastos que será apresentado pelo Ministério da Fazenda.

O presidente do BC mencionou as políticas econômicas adotadas pelo governo argentino ao destacar que medidas de expansão fiscal, quando implementadas em um cenário de alta percepção de desequilíbrio das contas, podem gerar efeito contrário ao esperado, ou seja, de retração da economia. Nesse cenário, injeções de gastos não resultam em mais crescimento.

— Ou seja, eu faço um pacote fiscal tentando fazer a economia crescer e o efeito é uma contração econômica porque o elemento prêmio de risco, que atua sobre a disposição das pessoas de gastar e investir, acaba sendo maior do que o dinheiro que foi colocado em circulação. Você tenta empurrar a economia pelo fiscal mas na verdade faz ela encolher — afirmou ele.

Segundo Campos Neto, a Argentina é um exemplo de que o contrário também acontece. Ou seja, de que uma contração fiscal “enorme” pode fazer o desempenho econômico ser melhor do que o esperado. O país governado por Javier Milei, desafeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem adotado medidas austeras de corte de gastos que melhoraram as previsões de crescimento deste e do próximo ano, apesar dos índices persistentes de inflação e pobreza no país.

— No começo (após medidas de contração fiscal na Argentina), a economia não cresceu muito. Agora está surpreendendo para cima porque a diminuição do prêmio de risco vale mais do que o dinheiro que você tirou de circulação por ter feito a contração (de gastos) — disse Campos Neto, sem citar diretamente Milei. — Os números recentes da economia argentina mostram que começou a ter crescimento acima do esperado.

"Grande expectativa" sobre fiscal
Sobre o cenário fiscal e inflacionário no Brasil, Campos Neto voltou a argumentar que é “muito difícil” fazer o juros caírem sem disciplina fiscal. Ele reforçou a necessidade de um “choque positivo” e destacou que as curvas de juros longas mais altas, assim como as expectativas de inflação elevadas, refletem a desconfiança do mercado e de agentes econômicos:

—  Quando a expectativa para o fiscal melhora, a expectativa da inflação melhora também. A gente precisa ter algum tipo de choque positivo que faça com o que os agentes econômicos tenham uma percepção de que a dívida vai se equilibrar em algum momento na frente — afirmou o presidente do BC

Campos Neto acrescentou que o anúncio do corte de despesas pelo governo federal pode gerar impacto positivo e ressaltou que há “grande expectativa” sobre como será o pacote fiscal. A promessa do Ministério da Fazenda era de que as medidas fossem apresentadas após a reunião do G20, no Rio de Janeiro.

Sobre inflação, Campos Neto voltou a ressaltar que  “não são só os economistas da Faria Lima”que têm percepção de piora, mas também os economistas “do mundo real”.

A projeção para a inflação oficial, medida pelo IPCA, foi ajustada pelo Ministério da Fazenda de 4,25% para 4,4% em 2024. Com isso, a expectativa aproxima-se do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, ou seja, entre 1,5% e 4,5%. A projeção do mercado subiu esta semana para 4,64%.

Escala 6x1 na "contramão" de reformas
Ao tratar do crescimento econômico do Brasil, ele disse que parte dessa trajetória positiva é efeito de reformas econômicas feitas no passado, entre elas a reforma trabalhista. O Ministério da Fazenda elevou ontem sua estimativa de crescimento do PIB para este ano de 3,2% para 3,3%.

Campos Neto, então, voltou a criticar o projeto que visa acabar com a escala 6x1, que iria contra as reformas recentemente nas leis trabalhistas brasileiras.

— Você voltar atrás nisso não vai ser bom para os empregados. Não tô falando das empresas, estou falando dos empregados.  Você aumenta o custo da mão de obra, diminui a produtividade e vai aumentar a parte informal com certeza— criticou.

Essa foi a terceira vez em menos de uma semana em que o presidente do BC criticou a proposta que reduz o limite de carga horária trabalhada no Brasil de 44 para 36 horas semanais. Segundo ele, a proposta “vai na contramão” da modernidade das relações de trabalho.

Dúvidas sobre Fed
Ao comentar o cenário global, o presidente do BC afirmou que há dúvidas no mundo sobre como será o processo deflacionário daqui para frente, incluindo nos Estados Unidos. Sobre o país, ele lembrou que a percepção anterior às eleições apontam para um cenário mais inflacionário e que é necessário acompanhar como as medidas anunciadas por Donald Trump, ao retornar à Casa Branca no próximo ano.

Campos Neto destacou que há dúvidas sobre como ficará a trajetória dos juros americanos. Ele enfatizou que há questionamentos sobre como será a próxima decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central do EUA, que se reúne em dezembro. Na reunião passada, no início de novembro, o Fed reduziu os juros em 0,25 ponto, para o intervalo entre 4,50% e 4,75%;

— O mercado inicialmente achou que viriam quedas sequências de 0,25. Hoje já existe uma dúvida. A gente tem uma reunião de dezembro que tem uma certa dúvida no ar em relação ao que vai ser feito […] O quanto de espaço ainda existe para cortar os juros nos EUA eu acho que passou a ser um questionamento mais recente — disse.

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