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Carrefour sinaliza ao governo que CEO global vai pedir desculpas ao Brasil

Chefe da rede francesa de supermercados suspendeu compra de carne brasileira pela empresa na França em repúdio ao acordo UE-Mercosul

Logomarca do Grupo Carrefour BrasilLogomarca do Grupo Carrefour Brasil - Foto: Reprodução/Internet

Emissários da Embaixada da França em Brasília e do Carrefour informaram ao Ministério da Agricultura que o presidente global do grupo, Alexandre Bompard, prepara uma carta pedindo desculpas ao Brasil e aos frigoríficos do país após colocar em dúvida a qualidade da carne oriunda do Mercosul e anunciar a interrupção da compra desse produto na rede na França.

Esse movimento desencadeou uma crise diplomática entre Brasil e França e ainda desencadeou uma crise no Brasil, onde a rede francesa de supermercados passou a ser alvo de um boicote de empresas.

A empresa também informou ao governo que quer entregar a carta nas mãos do ministro Carlos Fávaro, que elo giou a atitude de frigoríficos de parar de entregar carne para a operação nacional da rede. Esse boicote inclui frangos e suínos.

O embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, se reuniu com autoridades do Ministério da Agricultura, e demostrou que a carta estava sendo feita. Um dos detalhes do texto é que deve ser ressaltada a longa história do grupo no Brasil, que passa de 50 anos.

Para o governo, porém, o entendimento é de que a crise não será resolvida apenas com a carta. É preciso que ela, por exemplo, deixe claro que o produto brasileiro tem qualidade. O embaixador vai tentar entregar a carta nesta seman.

Entenda o caso
O movimento de boicote ao Carrefour no Brasil continou ganhando força nesta segunda. Empresários brasileiros apoiam o movimento de frigoríficos, que deixaram de vender carne para a rede francesa de supermercados no país.

Isso aconteceu depois de o CEO global da companhia suspender as compras do produto brasileiro na França como forma de protesto contra o avanço do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. Agora, empresários de outros segmentos pregam a suspensão de compras em lojas brasileiras do Carrefour, uma forma de retaliar a atitude do executivo.

Excesso de carboidrato, como a carne, pode ser uma das causas de cheiros desagradáveisFoto: ReinhardThrainer/Pixabay

Empresários, Congresso e governo brasileiros pedem uma retratação. Edson Pinto, diretor-executivo da Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp), afirmou que seus associados começaram a aderir ao movimento que suspende compras na rede em nome da "defesa da economia nacional" e dos produtos brasileiros no exterior.

— Estão começando a aderir. Somos 500 mil empresas apenas no estado de São Paulo. Outras entidades, como no Paraná, aderiram. Monitoramos todos os comentários nas redes sociais e nas mídias, e 98% dos comentários são favoráveis à nossa ação e afirmam que vão aderir também — disse Pinto.

Na sexta-feira, a associação convocou todos a deixarem de comprar nas redes Carrefour, Atacadão e Sam's Club, do Grupo Carrefour. "Solicitamos o engajamento e a adesão a esta campanha de boicote, mostrando a força e a união do nosso setor em defesa da economia nacional e do respeito aos nossos produtos”, diz a nota da Fhoresp.

A Abrasel, que reúne bares e restaurantes de todo país, também está organizando uma articulação de grande abrangência, com impacto direto no setor, segundo fontes.

Enquanto isso, frigoríficos como JBS, Marfrig e Masterboi também interromperam a venda de carne para o Carrefour na última quinta-feira. Oficialmente, as empresas não comentaram o caso.

Rede francesa lamenta
Em nota, o Grupo Carrefour Brasil afirmou lamentar "profundamente a atual situação" e reafirmou a estima e confiança no setor agropecuário brasileiro. "Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade", declarou a rede.

O Carrefour informou estar em "diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne em nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil". Afirmou ainda que seguirá "trabalhando para resolver essa situação da melhor forma possível, sempre com o objetivo de atender com qualidade e excelência aos nossos clientes".

'Crise das carnes'
Nesta terça-feira, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) vai se reunir com associações e empresas que fazem parte de seu conselho administrativo — e que terá entre os temas em pauta a questão envolvendo Carrefour. 

No último sábado, as entidades publicaram uma carta aberta em protesto. "Se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado. Afinal, se o Brasil, com suas práticas sustentáveis, sua legislação ambiental rigorosa e sua vasta área de preservação, não atenderia aos critérios do Carrefour para o mercado francês, então, provavelmente, não atenderia aos critérios de nenhum outro país", afirmaram.

Sem falta de produto
Na cidade do Rio de Janeiro, as lojas do Carrefour não demonstraram nesta segunda-feira impacto do corte de fornecimento de carne bovina dos frigoríficos JBS, Marfrig e Masterboi. Mas já há relatos de consumidores no país de desabastecimento de proteína animal em algumas lojas da rede.

Segundo levantamento do GLOBO, as lojas nos bairros Campo Grande, Tijuca e Cachambi, na capital fluminense, e de Duque de Caxias, na Baixada, ainda tinham prateleiras cheias de carnes das marcas nesta segunda-feira.

O abastecimento das carnes da JBS, por exemplo, que conta com as linhas Friboi, Maturatta e Bordon, eram 100% das carnes que estavam nos freezers do Atacadão. Nessa rede, as carnes Marfrig e Masterboi quase não foram encontradas.

Em um Atacadão que fica no bairro de Guadalupe, Zona Norte do Rio, um funcionário da Friboi, que colocava as carnes em uma prateleira chegou a dizer que o abastecimento das carnes tanto no Carrefour como no Atacadão não sofreu alterações e nem foi reduzido.

— Eu acho que é apenas uma pressão que estão querendo colocar. Porque se eles pararem de vender para o Atacadão, por exemplo, não sobra nada. Aqui 100% das carnes são da JBS e o abastecimento continua igual ao do mês passado — disse o funcionário.

Entenda o imbróglio
O impasse é motivado por conta de um possível acordo entre União Europeia e Mercosul, previsto para acontecer até o fim deste ano, o que vem gerando manifestações na França por agricultores.

Durante a cúpula do G20 no Brasil, na semana passada, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que o país "não está isolado" em sua oposição ao estado atual do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, cuja negociação começou em 1999. Empresários e agricultores europeus temem a concorrência com produtos agrícolas do Brasil e da Argentina, principalmente.

Na última quarta-feira o CEO do Carrefour, o francês Alexandre Bompard, decidiu compartilhar em suas redes sociais que a rede varejista não compraria mais carnes vendidas pelo Mercosul, bloco formado pelo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O posicionamento, argumentou em nota feita para ao sindicato agrícola francês, era em solidariedade aos protestos dos agricultores locais contra o acordo entre o bloco sul-americano e a União Europeia.

Pressionado por protestos de agricultores na França, Macron é apontado como o principal obstáculo para o avanço do acordo. Durante o encontro no Rio, a Itália manifestou apoio à posição do presidente francês.

No entanto, a Comissão Europeia, com o apoio de vários países importantes do bloco, como Alemanha e Espanha, é favorável ao fechamento do acordo de livre-comércio com o Mercosul antes do fim deste ano.

Se a Comissão Europeia levar o tratado adiante sem o consenso francês, Macron precisará do apoio de outros países para bloquear a aprovação, formando a chamada "minoria de bloqueio", que exige ao menos quatro dos 27 países da UE, desde que a aprovação fique abaixo de 65% dos integrantes.

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