Censo 2022: Tamanho da população surpreende especialistas: "É inesperado, inusitado"
IBGE divulgou 203,1 milhões de habitantes, e pesquisadores estimavam número maior, entre 206 e 209 milhões
O tamanho da população brasileira divulgado nesta quarta-feira (28) pelo IBGE nos primeiros resultados do Censo 2022 surpreendeu especialistas. O instituto apontou que há 203,1 milhões de habitantes, número que foi considerada baixo por dois maiores especialistas na questão demográfica no Brasil.
O demógrafo José Eustáquio Alves, professor aposentado da Escola Nacional de Estatísticas (Ence) do IBGE, mesmo com a pandemia, pelas contas que vinha fazendo considerando o número de nascimentos e mortes, o número chegaria a 209 milhões.
Ana Amélia Camarano, economista da Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que o tempo extenso da coleta pode ter prejudicado a enumeração da população. Foram dez meses em campo, quando o ideal era no máximo três meses
- O período da coleta foi muito tumultuado, com eleições, Copa do Mundo, festas natalinas, férias escolares, mudança de governo, além do final da Covid - diz Camarano.
Ela completa:
- Entre 31 de julho de 2022 e 28 de maio de 2023 devem ter ocorrido nascimentos, mortes e migração...
O período de referência para o Censo é 31 de julho de 2022, com tempo grande de coleta, os moradores podem ter dificuldade para lembrar da situação da família.
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A pesquisadora estimava que a população fosse estar em torno de 206 milhões. José Eustáquio Alves cita São Gonçalo como exemplo da surpresa com os dados:
- A população de São Gonçalo está menor do que em 1991. Pegando os dados do Ministério da Saúde, de nascimentos e mortes, teve um crescimento vegetativo em São Gonçalo. Precisaria ter uma migração muito forte para explicar esse resultado.
Ele complementa:
- É estranho, tem que ver melhor o que aconteceu. É inesperado, inusitado. Algo entre 207 milhões e 209 milhões (para o tamanho da população brasileira), seria razoável - afirma Eustáquio.
Ele lembra que o Censo sofreu com todos os problemas possíveis. O próprio presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, listou essa sucessão de dificuldades ao mostrar os números para os jornalistas.
- O Censo foi marcado por diversos problemas. A parte principal foi o corte no orçamento. Depois veio o período pandêmico, tivemos dificuldade para contratar recenseadores, eleições, chuvas.
Pelos dados de Alves, de meados de 2010 até 2022, somando os dados de nascimentos e mortes pelos dados do Ministério da Saúde, a população teria crescido 18 milhões. O Censo captou uma alta de 12,2 milhões.
_ Chegaríamos a uma população de 209 milhões. Mesmo descontando a migração internacional, que estimo 2 milhões de saída de brasileiro, teríamos 207 milhões.
Eustáquio lembra que os problemas de orçamento, o impacto da pandemia e o ambiente polarizado do período eleitoral dificultaram o trabalho dos recenseadores.
- Nós tivemos Censo possível, o que deu para fazer - afirma Eustáquio.
País deve começar a encolher em 2030
Ele estranhou o encolhimento de capitais importantes como Rio, Recife, Salvador. Pois os nascimentos nesse período foram maiores que as mortes, mesmo que essas cidades já estejam crescendo muito pouco nos últimos anos, como lembra Ana Amélia.
Com esse crescimento médio da população anual, de 0,52%, tão inferior ao da década anterior, de 1,17%, veremos a população brasileira diminuir antes do previsto, que era em 2040.
- Talvez na década de 2030, já estaremos vendo isso acontecer - diz Eustáquio - Algumas tendências demográficas vão ser antecipadas.
Ana Amélia chama a atenção que a população pode estar subestimada nos dados do Censo, o que pode ter consequências na demanda por escola, habitação, vacina:
- Pode prejudicar o planejamento das políticas públicas.